Uma figura política irrepreensível. Assim pode ser definido o ex-governador da Bahia Francisco Waldir Pires de Souza (1926-2018), que nos deixou hoje, às 10 horas da manhã, em Salvador. Estava com 91 anos e já algum tempo lutava contra o mal de Alzheimer. Faleceu após uma parada cardíaca.
A última aparição pública de Waldir Pires foi no lançamento de sua biografia, em 14/06/2018, escrita pelo seu amigo e companheiro de PT, Emiliano José. FOTO: Michele Brito
Ao longo de sua vida, Waldir Pires lutou todas as lutas dignas de serem lutadas. O gosto pela política foi revelado desde os tempos estudantis, quando participou de movimentos contra o nazismo. Foi secretário de estado aos 24 anos (1951), deputado federal em 1958 e líder de um grande movimento democrático em 1962 que quase o elegeu governador da Bahia, quando enfrentou uma forte onda anticomunista.
Waldir Pires foi um dos principais aliados do governo João Goulart (1961-1964) e defendeu o comprimento da Constituição brasileira até o fim no Congresso Nacional, contra o golpe que derrubou o presidente e instaurou a ditadura civil-militar.
Resistência Democrática
Consolidado do golpe, Waldir foi caçado e precisou fugir do país, em 4 de abril de 1964. Do exílio no Uruguai, seguiu depois para a França, em 1966, onde lecionou direito constitucional na cidade de Lyon. A vida tranquila ao lado da família na Europa, entretanto, não o seduziu. Ainda durante o regime militar decidiu retornar ao Brasil para lutar pela volta da Democracia.
Homem de partido, ajudou a consolidar o MDB, principalmente no interior da Bahia, que até 1986 era dominada por uma estranha formação: os cargos eram disputados por políticos aliados da ditadura pelas legendas Arena 1 e Arena 2, e depois pelas legendas PDS 1 e PDS 2.
Com a volta do primeiro civil ao governo do País, em 1985, foi convidado por Tancredo Neves a ocupar o cargo de ministro da Previdência. O grande momento, entretanto, vai acontecer um ano depois, em 1986 quando liderou uma grande corrente de centro esquerda pelo governo da Bahia, contra o então todo poderoso Antônio Carlos Magalhães. O jingle de campanha até hoje não sai da cabeça dos baianos: “Eu quero ver um tempo novo de crescer e construir, a Bahia vai mudar trabalhando com Waldir”. A vitória foi esmagadora: quase 2,7 milhões de votos contra 1,2 milhões do candidato carlista Josaphat Marinho.
O compromisso partidário, entretanto, o levou a renunciar ao governo da Bahia, em 1989, para formar a chapa do PMDB à presidência da República, como vice de Ulisses Guimarães. Foi uma decisão difícil e controversa, e muitos enxergam nisso uma única mácula em sua carreira, que permitiu a volta de ACM ao poder, em 1990.
Biografia escrita por Emiliano José
A decisão polêmica de deixar o governo da Bahia não roubou a admiração dos baianos por Waldir Pires, que foi o deputado federal mais votado na Bahia, em 1990, pelo PDT. Em 1998, já no PT, elege-se novamente deputado federal. Nos dois governos de Lula (2003-2010), Waldir ocupou dois cargos importantes: o primeiro foi ministro-chefe da Corregedoria Geral da União (CGU), e depois ministro da Defesa. O último cargo político foi vereador de Salvador (2013-2016)
Waldir já enfrentava o mal de Alzheimer há alguns anos e, por essa razão, afastou-se da cena política. Sua última aparição pública aconteceu há uma semana, em 14 de junho, para receber o abraço dos admiradores no lançamento do primeiro volume de sua biografia, escrita pelo seu grande amigo e parceiro de jornada nas últimas décadas, Emiliano José. O livro, autografado pelo autor no Palácio Rio Branco, no centro de Salvador, já pode ser considerado um sucesso editorial, pois todos os 400 exemplares vendidos no lançamento.
Por sua coerência política por uma vida inteira em defesa da democracia, toda as homenagens são justas a Waldir Pires. O governador da Bahia Rui Costa (PT) decretou cinco dias de luto oficial. Para ele, Waldir é “um exemplo de retidão, na vida pública e privada” e o seu legado “serve de herança e inspiração para todos nós”.