Os sabores perdidos do Nordeste
30 de Janeiro de 2024, 12:05
, por Dimas Roque
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Eu ainda me lembro do cheiro da manteiga de garrafa que
invadia a nossa cozinha quando eu era criança. Era um cheiro único, que ficava
no ar mesmo depois de fechar a garrafa. Era um cheiro que eu nunca mais
esqueci. Naquele tempo, há uns 45 anos atrás, a manteiga de garrafa era uma das
coisas mais saborosas e cheirosas que existiam. Era um luxo que a gente só
podia comprar de vez em quando, porque não tínhamos muito dinheiro. Minha mãe
tinha que economizar muito para trazer aquela garrafa com a manteiga de gado,
que era uma festa em casa. A gente comia com pão aguado e ensopado, queimado no
fogo de lenha. Era como estar no paraíso, desfrutando do alimento preferido ao
lado de Deus.
O mesmo acontecia com o queijo de manteiga e o requeijão.
Cada pedaço deles dentro do pão era uma delícia que satisfazia a gente. Eles
tinham um sabor característico, que combinava com a manteiga. Mas esses sabores
ficaram no passado. A manteiga perdeu o sabor, o queijo virou uma massa sem
graça, que como dizem por aqui, "é a mesma que comerisopor". Não tem
sabor nenhum.
Um dia, eu fui à feira da cidade de Paulo Afonso, na Bahia,
onde eu moro, e perguntei a uma vendedora desses produtos por que a manteiga
tinha perdido o cheiro característico e o queijo o sabor. Ela me disse que no
caso do queijo, os produtores estavam usando muita farinha de trigo para dar
volume na mercadoria e no caso da manteiga, ela não sabia, mas também tinha
percebido que o cheiro tinha sumido. Ela disse que tinha gente que dizia que
estavam usando óleo de cozinha durante o processo de fabricação.
Hoje em dia, eu não tenho mais vontade de ir à feira comprar
manteiga de garrafa para colocar no feijão de corda. Não vale mais a pena. O
feijão fica muito gorduroso e o sabor não se destaca. E assim vamos perdendo,
com a tal da tecnologia, os sabores e cheiros característicos dos alimentos
típicos do Nordeste brasileiro.
E isso porque eu nem falei do queijo de coalho. Tem uns que
se colocam na assadeira e se desmancham em soro. Mas isso é assunto para outra
conversa.
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