A esquerda brasileira encontra-se numa grande encruzilhada. Derrotada pelo golpe, desorientada, vai trilhando o caminho da divisão, da sobrevivência individual e da disputa de supostas “pós hegemonias”, como se fosse possível, num quadro de defensiva histórica com Trump passeando pelo mundo e partidos neofascistas debutando na Europa, brincar com fogo.
Nesta quadra, a chapa Lula-Ciro reedita a necessidade histórica que se impôs em 1998 e obrigou PT e PDT a superarem querelas e disputas menores com a formação da chapa Lula-Brizola. Então presidente da UNE, lembro do ato da ABI, no Rio, quando na presença dos dois cunhei uma frase que Lula me pediu que repetisse ao longo da campanha. “Em 89 a esquerda no Rio se chamava Brizola, foi dele meu primeiro voto, mas eu sentia que faltava alguma coisa. Em 94, votei em Lula, mas fiquei com a mesma sensação, faltava algo. Agora em 98 estou feliz, com apenas um voto vou conseguir votar no Lula e no Brizola!”
Seria importante Lula, Ciro e as direções partidárias virem a público explicar, por que não unidade? Precisam responder algumas questões. Alguém tem dúvida que Lula candidato é a melhor opção para enfrentamento do campo conservador? Existe opção de vice melhor que Ciro? Se Lula for impedido no meio do caminho não seria natural o vice assumir? Hegemonismos partidários estão acima dos interesses nacionais? Na eventualidade de Ciro assumir, resta alguma dúvida a ele quanto à centralidade do PT, maior e mais forte partido da Frente proposta? Se Lula conseguir ir até o final, Ciro tem alguma dúvida que apoiar o ex-presidente é uma tarefa histórica de todos os democratas brasileiros?
Não existe argumento público capaz de divergir destas questões. Pode haver briga de torcida, mágoa despolitizada, sonhos descolados da realidade objetiva, mas nenhum quadro da esquerda brasileira que tenha compreensão do que está em curso e que consiga se despir de qualquer tipo de patriotismo partidário será capaz de apresentar argumentos públicos e sólidos contrários.
Esta união, neste momento, seria capaz de fazer a esquerda retomar a expectativa de poder aglutinando forças para voltar a polarizar o Centro político brasileiro. Alguém tem dúvida que na reta final o campo conservador irá se unificar? Até Doria já está se oferecendo como vice de Alckmin. Bolsonaro não passa de um recipiente de reserva que no momento certo será esvaziado. O que a chapa Lula-Ciro seria capaz de produzir?
Em cada Estado, apoiaria o candidato melhor colocado nas pesquisas no campo, ou algum aliado de centro com força que se somasse. Em Pernambuco Lula e Ciro subiriam juntos no palanque de Paulo Câmara! O PSB não viria para Frente? E porque não dar trabalho a Alckmin em São Paulo sinalizando a possibilidade de apoio a Márcio França no PSB, seu vice que assumirá o Governo? França é muito Tucano e recusaria? Será? No Paraná a Frente iria de Requião? Em Alagoas de Renan Filho? Em Minas e na Bahia fortaleceria as reeleições de Pimentel e Rui Costa. No Maranhão, de Flávio Dino. No Rio Grande, a unidade entre Manuela, Rosseto e Jairo, apoiando o melhor colocado nas pesquisas, colocaria ou não nosso campo na disputa? Com duas vagas em disputa, que Senador não gostaria do apoio desta Frente com Lula e Ciro em seu palanque? Agindo assim começaríamos a falar com seriedade em vitórias.
Ao invés de nos dividir, dividiríamos o país entre a Frente Tiradentes e a chapa Silvério do Reis, uniríamos forças, aglutinaríamos aliados. A força gerada por esta unidade, que partiria da união PT-PDT-PSB-PCdoB, seria irresistível, arrastaria milhões pelo Brasil, colocaria a questão nacional e o novo projeto de desenvolvimento no centro do debate nacional.
Se uma “Nova Independência do Brasil” é uma necessidade histórica, a Frente Ampla nucleada pela esquerda através da chapa Lula-Ciro é o caminho. Que Tiradentes nos ajude.
Por Ricardo Cappelli.