Em meio a uma paisagem sonora cada vez mais globalizada nas festas juninas, a aposta em Zé Ramalho surgiu como um manifesto cultural. O artista paraibano chegou sem firula, armado apenas de sua voz marcante, seu repertório de ouro da MPB e a força das narrativas tipicamente nordestinas. O resultado foi um contraponto poderoso, um resgate intencional da memória afetiva e da identidade regional que muitos temiam perdida.
O poder do show transcendeu o palco montado pela prefeitura no Lindinalva Cabral. A voz inconfundível de Zé Ramalho foi apenas a líder de um imenso coro formado pela plateia. Cada sucesso – um "Chão de Giz", um "Admirável Gado Novo", um "Avôhai" – era cantado em uníssono, palavra por palavra, num testemunho vivo da profundidade com que sua música toca gerações. Os pés não paravam, dançando naturalmente ao som da sanfona e do baião. Não foi apresentação, foi comunhão. As histórias de amor, luta e paixão do sertão, entoadas por Zé, não eram apenas ouvidas; eram sentidas e vividas pela multidão, "invadindo corações" num raro momento de união emocional.
O sucesso estrondoso do show de Zé Ramalho vai além da nostalgia. Ele carrega uma lição contundente para produtores e mercado e mostra que investir em grandes artistas nacionais, especialmente aqueles que carregam e celebram suas raízes regionais com autenticidade, não é apenas um gesto cultural, é um acerto de público e de negócio. Enquanto modas passageiras tentam se impor, Zé Ramalho demonstrou que a identidade genuína tem apelo massivo e gera conexão profunda. É sobre honrar a origem, ter "chão" cultural, e isso ressoa com força no público, gerando engajamento e lucro.
Mais do que um espetáculo musical, a apresentação de Zé Ramalho foi um ato de resistência cultural vibrante. Ela gritou a Paulo Afonso ao Nordeste e ao Brasil que o forró “pé-de-serra”, a poesia contundente, as histórias do povo e a voz dos grandes ícones nacionais seguem vivos, pulsantes e capazes de eletrizar multidões. O show foi a prova de que o "verdadeiro São João", com sua alma calorosa e suas tradições musicais, não apenas resiste como é capaz de emocionar e empolgar como poucos. Zé Ramalho, reafirmou seu lugar e, de quebra, reacendeu a chama da cultura popular autêntica.