19 de Maio de 2013, 21:00, por Desconhecido
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Ex-agente: Coronel Perdigão deu um tiro na nuca de cada um deles
por Conceição Lemes
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Nesta quinta-feira 16, o ex-agente da repressão Valdemar Martins de Oliveira prestou depoimento na audiência pública realizada da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo.
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Ex-paraquedista, Valdemar disse a Rodrigo Vianna, em reportagem exclusiva veiculada nessa quarta-feira 15 pelo Jornal da Record, que abandonou o Exército brasileiro por discordar de torturas e assassinatos cometidos pelos militares contra militantes polÃticos que se opunham à ditadura.
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Valdemar foi testemunha do assassinato do casal Catarina Abi-Eçab e João Antônio dos Santos Abi-Eçab, em 1968, no Rio de Janeiro.  Os dois militavam no movimento estudantil e eram suspeitos de ter participado da execução do capitão do Exército norte-americano Charles Rodney Chandler, em 12 de outubro de 1968, feita pela ALN e pela VPR.
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Durante muito tempo prevaleceu a versão policial que atribuiu a morte do casal à explosão do veÃculo em que viajavam, em consequência da detonação de explosivos que transportavam,  no km 69 da BR-116, próximo a Vassouras (RJ).
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A versão divulgada na imprensa foi a de que ambos foram vÃtimas de um acidente de automóvel: “[…] chocaram-se contra a traseira de um caminhão que transportava pessoas em sua caçambaâ€. No veÃculo em que estavam, teria sido encontrada uma mala com armamentos e munição.
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No boletim de ocorrência, que registrou o suposto acidente, consta:
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Foi dado ciência à PolÃcia à s 20h de 08/11/68. Três policiais se dirigiram ao local constatando que na altura do km 69 da BR116, o VW 349884-SP dirigido por seu proprietário João Antônio dos Santos Abi-Eçab, tendo como passageira sua esposa Catarina Helena Xavier Pereira (nome de solteira), havia colidido com a traseira do caminhão de marca De Soto, placa 431152-RJ, dirigido por Geraldo Dias da Silva, que não foi encontrado. O casal de ocupantes do VW faleceu no local. Após os exames de praxe, os cadáveres foram encaminhados ao necrotério local.
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O laudo da exumação, elaborado pelos legistas Carlos Delmonte e Isaac Jaime Saieg, em 23 de julho de 2000, concluiu que a morte foi conseqüência de “traumatismo crânio-encefálico†causado por “ação vulnerante de projétil de arma de fogoâ€.
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Sua morte ocorreu em decorrência de um tiro que a atingiu pelas costas. Além disso, os legistas não encontraram sinais de autópsia feita anteriormente. A causa mortis apresentada em 9 de novembro de 1968, pelos médicos Pedro Saullo e Almir Fagundes de Souza, do IML de Vassouras, foi “fratura de crânio, com afundamento (acidente)â€.
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A reportagem feita pelo jornalista Caco Barcellos, veiculada no Jornal Nacional (TV Globo) em abril de 2001, desmentiu a versão policial de acidente e demonstrou que João Antonio e Catarina foram executados.
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Na entrevista ao repórter Rodrigo Vianna, Valdemar deu detalhes: “O capitão Pereira deu um tiro na nuca de cada um delesâ€.
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Nesta quinta-feira 16, em depoimento à Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, na Assembleia Legislativa, Valdemar revelou o nome do “capitão Pereiraâ€: “O coronel Freddie Perdigão deu um tiro na nuca de um e outro tiro na nuca do outroâ€.
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Em depoimento à Comissão Nacional Verdade, o ex-militar já havia revelado o nome de Freddie Perdigão. Como lá a audiência foi fechada, a informação não veio a público.
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FREDDIE PERDIGÃO, O DR. NAGIB
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Segundo o Grupo Tortura Nunca Mais/RJ, o nome de Freddie Perdigão, conhecido como o dr. Nagib nos porões da ditadura, aparece em duas listas do Projeto Brasil Nunca Mais, como Major atuando no DOI/CODI do Rio de Janeiro, em 1970.
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Em documento de 2008, o Tortura Nunca Mais/RJ, relata:
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“Na primeira destas listas, a de “Elementos Envolvidos Diretamente em Torturasâ€, à página 39 do Tomo II, volume 3 “Os Funcionáriosâ€, seu nome é denunciado por Tânia Chao que, em dezembro de 1970 era professora, tendo 25 anos. Seu depoimento encontra-se à pág 769 do Tomo V, volume 3, “As Torturas†do Projeto BNM, transcrito abaixo:
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( ) … que a declarante anteriormente a assinatura de suas declarações foi agredida de diversas maneiras sofrendo, inclusive, choques elétricos pelo corpo sendo que esses fatos foram presenciados pelo Encarregado do IPM; que a declarante foi agredida, inclusive, pelas pessoas de nome PlÃnio e Nagib, e, também, por Timóteo Ferreira por palmatória; que a declarante na prisão não tem obtido tratamento médico necessário uma vez que sofre de artrite rematoide e de úlcera; que em sua prisão não tem o mÃnimo conforto necessário no que se refere a higiene uma vez que não há banheiro na cela …( )
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Estas declarações de Tânia Chao encontram-se no Processo N.º 81/70 da 1ª Auditoria da Militar, da 1ª RM/CJM, com Apelação no STM de n.º 39.519 consta de dois volumes e dois apensos ( informações contidas à pág 209, Tomo II, Volume 1 “A Pesquisa BNM†do Projeto Brasil Nunca Mais).
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Este processo, trata de réus acusados de pertencerem a ALA, no Rio de Janeiro, em 1970, tendo conseguido do dono de uma gráfica autorização para imprimirem identidades falsas, o que efetivamente fizeram. Alguns réus fundaram um curso para obter fundos para a Ala, onde era impresso em mimeógrafo o jornal “Unidade Operáriaâ€
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Na segunda lista, a de “Membros dos órgãos da Repressãoâ€, à página 233 do Tomo II, Volume 3 “Os Funcionáriosâ€, o nome de Nagib é denunciado também em abril de 1971 e aparece no mesmo Processo citado acima.
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O Coronel Freddie Perdigão foi denunciado pelo estudante Sérgio Ubiratan Manes em depoimento ao Tribunal Superior Militar (STM), em 1969, segundo reportagem do Jornal O Globo de 04/07/99, como um dos torturadores que o espancaram na PolÃcia do Exército, na Rua Barão de Mesquita.
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Nessa mesma reportagem, o General Newton Cruz revela que o Capitão Perdigão o avisou da Operação Riocentro e esteve no local do atentado com o grupo de militares que colocaram a bomba no estacionamento do Riocentro, durante um show em homenagem ao Dia do Trabalhador, em 30/04/81, onde morreu o sargento Guilherme do Rosário e ferindo o capitão Wilson Machado, ambos agentes do DOI/CODI.
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Segundo o jornalista Elio Gaspari, publicado na sua coluna, no Jornal O Globo, no dia 24/10/99 “…O grupo terrorista a que Perdigão estivera ligado em 1968 voltou a agir em 1976.
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Seqüestraram, espancaram, pintaram de vermelho e deixaram nu numa estrada o bispo de Nova Iguaçu, Dom Adriano Hipólito…â€
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Fonte:Â Viomundo
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Visite o Memorial online dos mortos e desaparecidos da ditadura militar
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Veja entrevistas com ex-guerrilheiros:
IVAN SEIXAS, CELSO LUNGARETTI, FRANKLIN MARTINS, FLÃVIO TAVARES, ÃUREA MORETI, VERA SILVIA MAGALHÃES, JACOB GORENDER, VLADIMIR PALMEIRA, AMÉLIA TELLES, CRIMÉIA ALMEIDA, CLÃUDIO TORRES, JOSÉ DIRCEU, CLARA SHARF, JOSÉ ROBERTO REZENDE, ALFREDO SIRKIS, ALOÃZIO PALMAR.
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Veja documentários sobre a guerrilha no Brasil:
Documentário Tempo de Resistência: é o mais completo sobre a luta do povo brasileiro contra a ditadura militar.
Documentário Hércules 56: sobre o sequestro do embaixador americano
Documentário Brasil: um relatório sobre tortura: feito pelos guerrilheiros trocados pelo embaixador suiço.Â
Reportagem sobre a Guerrilha do Araguaia
Veja o documentário 15 filhos de guerrilheiros: Eles falam de suas vidas no meio da ditadura.
Veja o grupo da Revista Subversivos - Histórias em quadrinhos baseada na luta armada.
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