Até meados de 2016, quando eu era abordado no transporte coletivo de Curitiba por solicitantes de doações, sugeria que procurassem apoio na Fundação de Ação Social da cidade, o órgão municipal responsável pelas ações do Poder Público para evitar a mendicância.
Ultimamente, a quantidade de solicitantes de doações nos ônibus e terminais curitibanos cresceu muito. Por exemplo, na linha expressa Santa Cândida – Capão Raso, cujo itinerário liga as regiões norte e sul da cidade, é possível estimar que exista um novo solicitante de doações a cada três quilômetros percorridos pelos ônibus. Já cheguei a presenciar casos em que um rapaz pedia doações na carroceria frontal do biarticulado e outro pedia recursos nas carrocerias traseiras do mesmo veículo.
Há, ainda, o desconforto pelo odor de alguns pedintes, dentre os quais o de uma senhora que consegue ter um cheiro mais desagradável do que o dos defuntos.
Recentemente, a Câmara dos Deputados noticiou que o orçamento federal de 2019 para as iniciativas de ação social foi reduzido em R$30 bilhões, como consequência da implementação da Emenda Constitucional do Teto de Gastos. Segundo a Frente Parlamentar em Defesa do Sistema Único de Assistência Social, esse montante representaria a metade do valor necessário para o pagamento do Benefício de Prestação Continuada para pessoas idosas ou com deficiência – benefício destinado a quem não cumpriu os requisitos do INSS para receber o auxílio-doença ou a aposentadoria.
Por outro lado, desde 2014, observou-se um ativismo jurídico para destituir do Poder Executivo federal o grupo político de centro-esquerda que ampliou as ações de assistência social no país. Esse ativismo, conjugado com a aprovação da Emenda do Teto de Gastos, está provocando impactos até no aumento de mendigos no transporte coletivo de Curitiba.
Diante dessas circunstâncias, analiso a possibilidade de sugerir às pessoas em situação de vulnerabilidade social que me abordam nos ônibus, a procurarem a ajuda dos “heróis” curitibanos do combate à corrupção. Até porque alguns desses “heróis” talvez tenham recebido dos cofres públicos um auxílio-moradia sem necessidade (cerca de R$4,3 mil mensais)...