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Everton de Andrade

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A partida de Vicentina Garcia Ferreira

12 de Junho de 2021, 21:47 , por Everton de Andrade - | No one following this article yet.
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Licenciado sob CC (by)

No último dia 04 de junho, infelizmente uma das pessoas vitimadas pela pandemia foi a Vicentina Aparecida Garcia Ferreira, esposa do Adão Alves Ferreira, a quem considero afetivamente como meu “primo-avô”.

Vicentina sempre foi muito dedicada à família e ao lar, a ponto de zelar durante muito tempo por alguns familiares com problemas de saúde, juntamente com o Adão, no município de Pinhais.

E o Adão sempre foi e continua sendo uma pessoa muito agradável, solícita e cordial, inclusive quando reformou minha residência em meados de 1994 e 2000. Recordo-me do acabamento vermelho do piso feito por ele na reforma da garagem. Infelizmente, poucos meses depois, houve a enchente de janeiro de 1995 no bairro Uberaba que ofuscou a alegria daquele cômodo recém-adaptado.

Também me lembro de algumas visitas ao casal, uma delas em meados de 1987, juntamente com meus familiares durante minha primeira infância, nos deslocamos até o Centro de Curitiba para embarcar na linha de ônibus com destino à casa do Adão.

Me chamava a atenção que os ônibus provenientes da região metropolitana de Curitiba eram muito coloridos. No caso das linhas de Pinhais, os veículos eram azuis-claros com detalhes em amarelo, da Viação Expresso Azul.

Em 1988, após visitarmos minha saudosa bisavó Madalena, que infelizmente estava acamada no Jardim Acrópole, na capital paranaense, fomos a pé até à casa do Adão e da Vicentina.

Para quem acredita no saudosismo da ditadura de 1964, a precariedade na periferia de Curitiba e nas cidades vizinhas era tão grande na década de 1980, que precisamos percorrer uma ponte feita de corda para cruzarmos o rio Iraí e chegarmos em Pinhais. Fiquei muito amedrontado com o balançar da ponte, e precisei ser transportado no colo de minha mãe naquela travessia.

Para conversarmos com o Adão sobre a reforma da garagem de casa em 1994, fui de bicicleta com um familiar meu do bairro Uberaba até Pinhais. O trajeto de cerca de nove quilômetros foi muito interessante, margeando a linha do trem e as cavas do Iguaçu. Do lado esquerdo da via férrea, no sentido de Curitiba, obras de terraplanagem eram realizadas pela companhia de habitação da cidade para a implantação do Conjunto Marumbi. À direita, a área de manancial das cavas ainda estava preservada, onde posteriormente surgiu a Vila Icaraí, local de habitações precárias e que tornou-se conhecido em razão da violência.

Minha visita mais recente à família Ferreira foi em janeiro do ano passado, antes do isolamento pela pandemia. Embora 2020 tenha sido muito difícil, pude realizar alguns passeios muito gratificantes até o dia 07 de março, e um deles foi me deslocar até Pinhais em janeiro daquele ano para rever a Vicentina e o Adão, exatamente no dia de comemoração do aniversário da Rebeca, a netinha deles, na casa do filho Vanderlei.

Nossa última conversa foi por telefone em março desse ano. Ouvi o relato do casal sobre os óbitos na vizinhança deles por causa da pandemia. Estávamos apreensivos em função disso.

Nos últimos dias, ao telefonar para o Adão, ele me relatou que os profissionais de saúde do hospital em que a Vicentina foi internada estavam emocionados ao comunicar o falecimento dela, mesmo com a frequente ocorrência desse tipo de óbito. Essa é uma conduta totalmente diferente em relação a uma determinada autoridade nacional que esnoba da pandemia, das respectivas vítimas e familiares desde os primórdios do ano passado. Inclusive, nesse final de semana de junho de 2021, esse dito cujo promoveu uma enorme carreata de motocicletas, talvez para comemorar a proximidade dos quinhentos mil mortos pela Covid-19.

Apesar das inúmeras dificuldades atuais, sobretudo a falta de colaboração e empatia, agradeço pela vida da Vicentina, particularmente pelo cuidado com a família. Na minha opinião, a espécie humana apresentou maior longevidade também graças ao zelo com a higiene e a organização dos ambientes domésticos.

Expresso meus profundos sentimentos ao esposo da Vicentina, o querido Adão Alves Ferreira, aos filhos Cristiano, Juliana e Vanderlei, ao irmão Fabiano, aos netos e netas, bem como a todos os moradores das cidades de Pinhais e Piraquara que perderam pessoas queridas desde o ano passado.

Reitero meu apelo para que mantenhamos os cuidados de higiene, etiqueta respiratória e distanciamento social, mesmo àqueles que foram imunizados, para que, ao final da pandemia, possamos nos reunir novamente para homenagearmos as pessoas especiais que partiram ou continuam conosco e vivermos muitas outras histórias inesquecíveis.

Dias melhores virão!


Everton de Andrade