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Everton de Andrade

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É preciso também acabar com a epidemia de fome no Brazilquistão

3 de Outubro de 2021, 11:57 , por Everton de Andrade - | No one following this article yet.
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Licenciado sob CC (by)

Enquanto a pandemia começa a se estabilizar minimamente em termos nacionais – graças às manifestações populares no início do ano contrárias às mortes por asfixia na região Norte do país, as quais impulsionaram a aquisição de vacinas por parte dos governantes – ao menos 19 milhões de compatriotas são atingidos pela fome.

Esse é um problema extremamente difícil de ser resolvido. Primeiramente porque os famintos não têm condições de protestar e, muitas vezes, sentem vergonha de se manifestar.

Em segundo lugar, porque o Brazilquistão é atualmente administrado pela extrema direita, grupo político que tradicionalmente nega o direito de pobres, idosos e inválidos existirem.

Em terceiro lugar, a ampla maioria da classe média “liberal” prefere insistir no discurso de uma pretensa “meritocracia” ao invés de reconhecer o direito dos desempregados serem incluídos nos orçamentos públicos, mediante o pagamento do salário mínimo a cada flagelado.

Os mencionados “liberais” ignoram que, quando uma criança passa fome durante seguidos momentos, as funções neurológicas ficam comprometidas até mesmo na fase adulta, inclusive com problemas cognitivos, como a realização de operações matemáticas básicas. Assim, o cérebro de alguém faminto na infância jamais será parecido com o de um adulto de classe média ou rica. Dificilmente um faminto crônico conseguirá aprovação num concurso para assumir algum cargo público ou ter habilidades para ser contratado em funções intelectuais e diretivas no setor privado – consequentemente, está fadado a tentar sobreviver como assalariado em funções operacionais, conforme as circunstâncias econômicas do país, historicamente adversas.

Outro aspecto são os gastos na saúde pública decorrentes da fome. Uma pessoa desnutrida corre sérios riscos de internamentos hospitalares devido às diversas doenças surgidas. O núcleo familiar também pode ser atingido pela comoção gerada ao ver a pessoa morrendo em cruéis circunstâncias, de modo que a depressão poderá atingir outras pessoas próximas ao faminto – e, consequentemente, novos gastos de tratamento no sistema público de saúde podem ocorrer.

Os "liberais" também negligenciam que a miséria e a fome podem gerar revoltas sociais e o aumento da criminalidade. Por exemplo, há informações atuais sobre a elevação de casos de sequestros-relâmpago, os latrocínios podem ocorrer com maior frequência, as potenciais vítimas desses tipos de crimes são as pessoas da classe média, nas vias públicas de todo o país. Quem perdeu um ente querido vítima de latrocínio sabe o valor milionário de cada pessoa falecida  – com novas possibilidades de casos de depressão e atendimentos de longo prazo no sistema público de saúde.

Por outro lado, o reconhecimento do direito à dignidade financeira dos pobres nos orçamentos públicos pode impulsionar a atividade econômica, especialmente porque quase todos os recursos recebidos são gastos durante o período mensal, principalmente em bens essenciais. Assim, estima-se que cerca de 30% dos valores governamentais dispendidos retornam em forma de arrecadação de impostos no mesmo mês.  Além disso, há a geração de novos empregos, novas oportunidades de negócios em função do aquecimento das atividades econômicas, enfim, novos ciclos de prosperidade a todos os segmentos sociais do país.

Desse modo, a sociedade precisa avaliar que o custo governamental com o pagamento do salário mínimo a cada desempregado poderá ser menor se comparado aos prejuízos do setor público e das famílias devido à fome e à revolta social por ela provocada. E pressionar a extrema direita nacional pelo direito à dignidade financeira de todas as pessoas acima de dezoito anos de idade.


Everton de Andrade