Morolândia é conhecida como a cidade modelo do país desde o período anterior à primeira gestão de Chapeuzinho Vermelho.
Em 1993 e 1995, quando ele era prefeito e surfava nas campanhas de marketing mitológico desse município, enfrentei duas enchentes no Uberaba: na primeira, em setembro de 1993, fiquei desabrigado durante uma semana; em janeiro de 1995, permaneci uma quinzena ausente de casa porque o rio Belém tinha pouca vazão e o nível de água atingiu cerca de 1,20m de altura na minha residência. Passado esse último alagamento, o único apoio material que minha família recebeu do Poder Público foram dois litros de água sanitária.
Nessa segunda gestão de Chapeuzinho, houve o fechamento da UPA da Matriz, a qual funcionava em parceria com o Hospital de Clínicas, e a Secretária dona Bela quase fechou a UPA do Pinheirinho para implantar um centro psiquiátrico naquele equipamento público. Após intensos protestos, o prefeito resolveu assumir o papel do Arcanjo Rafael e determinou a permanência daquela unidade de pronto atendimento.
Com a crise sanitária provocada pela atual pandemia, Chapeuzinho Vermelho, dona Bela e as diletas assistentes ganharam bastante projeção na imprensa local e nacional. Coincidentemente, nesse ano haverá eleições municipais e até o Ministro da Saúde, que é do mesmo partido de Chapeuzinho, teceu elogios à Morolândia. Assim, o marketing da cidade modelo continua forte.
Embora a turma da dona Bela negue terminantemente as ocorrências de óbito causadas pela pandemia, a imprensa destacou que há 75% de chance de erro para os casos negativos apontados pelos testes rápidos. Com isso, os pacientes negativados podem receber alta, ter crises respiratórias agudas fora do ambiente hospitalar e entrar em óbito no ambiente familiar, por exemplo.
Acrescenta-se a isso o interesse político de Chapeuzinho e dona Bela em usar todos os subterfúgios necessários para manter a imagem da cidade como a referência nacional na área da saúde.
Mesmo assim, eles revelaram que, desde o início de março, 25 pessoas morreram por Síndrome Respiratória Aguda Grave. Em outra pesquisa, pelo DATASUS, a informação mais recente é a de que, em janeiro deste ano, 30 pessoas faleceram na cidade devido às doenças do aparelho respiratório.
Diante dessas circunstâncias, os munícipes precisam manter a prontidão e evitar as aglomerações. Por outro lado, sugiro aos jornalistas e repórteres da cidade para formarem uma rede de monitoramento sobre a quantidade de cadáveres recepcionados pelas funerárias, crematórios e cemitérios de Morolândia e cidades próximas. Pois essa poderá ser a melhor alternativa para acompanhar a evolução dos óbitos decorrentes da pandemia nessas localidades – desde que esses profissionais exerçam a liberdade de imprensa para divulgar as informações apuradas, o que pode ser desfavorável aos patrocinadores e proprietários dos órgãos de comunicação, devido à necessidade imperiosa de se manter Morolândia imaculada.