O segundo mandato do governador Ratazana iniciou-se de forma péssima por causa, também, da nomeação do Sr. Jetson Peixeira, militar de carreira, como Secretário de Segurança em Paranárnia.
Como muitos paranarnienses são fascinados pelos militares, atribuindo-lhes uma espécie de fé pública irrestrita, além dessa corporação estar representada na Assembleia Legislativa, atualmente ela passou a ocupar também a autoridade máxima da segurança pública estadual.
O que muita gente tem dificuldade de perceber é que a Polícia Militar de Paranárnia historicamente defende os interesses e os membros da aristocracia estadual. Nesse sentido, quem não é reconhecido pela polícia como integrante da classe média alta ou como rico corre sérios riscos de sofrer com a truculência policial nos mais diversos ambientes.
Exemplo disso aconteceu comigo no final da década de 1990, durante minha adolescência, numa paróquia do bairro Samambaia, em Morolândia, momentos antes do início de uma Missa dominical organizada pelo grupo de jovens. Eu integrava a equipe de liturgia e estava na entrada da igreja. Fui apresentado por um amigo a um policial ocupante de uma posição de liderança na corporação, e lhe sugeri alguns cuidados semelhantes aos que João Batista recomendou, conforme especificado no Evangelho de Lucas. Ao terminar de me ouvir, esse fiel militar demonstrou irritação, afirmando que a conduta da polícia paranarniense em nada se parecia com os problemas da polícia paulista ou fluminense e que eu receberia voz de prisão se insistisse nessa argumentação. Após esse episódio concluí que, se o Batista fosse meu contemporâneo, a cabeça dele estaria na bandeja da “conge” de algum milico chifrudo de Paranárnia...
Recentemente, foi perceptível que a polícia paranarniense comandada pelo Sr. Peixeira atuou durante os últimos meses para “amenizar a barra” dos manifestantes golpistas defronte a alguns quartéis. Também notou-se que segmentos representativos da aristocracia de Paranárnia eram favoráveis ao golpe de Estado para manter o Bozo na Presidência do Brazilquistão. As forças policiais apenas atuaram de forma incisiva para acabar com os acampamentos e bloqueios de acesso quando a estratégia burra e criminosa dos extremistas demonstrou-se totalmente ineficaz, na noite do último domingo, dia 08 de janeiro.
Para retaliar os movimentos sociais e demonstrar que “pau que bate em Chico também bate em Francisco”, nos dias seguintes ao desmantelamento dos acampamentos golpistas, o Sr. Peixeira favoreceu uma questionável ação de despejo da ocupação “Povo sem Casa”, na região sul de Morolândia, utilizando-se da truculência policial. Desse modo, centenas de famílias ficaram sem eira e nem beira na capital modelo do Brazilquistão - modelo de inferno pois, diante desse episódio, a gestão municipal Chapeuzinho-Pimentão propôs a bizarrice de separar os integrantes de cada família em abrigos diferentes na cidade. Cabe, ainda, ressaltar que a imprensa comercial permaneceu silente perante os abusos de poder ocorridos durante esse despejo, provavelmente influenciada pelas verbas de publicidade oferecidas pelo governo Ratazana.
Para se completar o panorama da atuação militar em Paranárnia, há um deputado estadual eleito, militante das periferias e das causas afro, o qual pode ser incluído no Guinness Book como o “maior freguês” das forças policiais paranarnienses em todos os tempos, pois já tomou cacetadas da polícia de tudo quanto é jeito, foi preso e, mais recentemente, intimidado pelos milicos até na porta de casa. Esse parlamentar corre sérios riscos de ser executado nas dependências da Assembleia Legislativa pelos militares. Como há outros deputados estaduais integrantes dessa corporação e até o Secretário de Segurança Pública também é militar, a impunidade desse eventual crime é praticamente certeira.
Assim, o governador Ratazana precisa seguir aquele famoso conselho dado ao japonês e abrir o olho com os milicos. Será providencial a substituição do Secretário de Segurança por uma pessoa civil que possa aplicar os princípios constitucionais de 1988 para proteger a ordem, a paz social e evitar que determinada corporação continue perpetrando crimes apostando na impunidade.