Nas datas festivas desse final de ano, em Curitiba, muitas famílias devem estar reunidas para celebrar os êxitos do ano corrente, comentar as perspectivas de sucesso para o futuro... Todavia, nessa mesma cidade, há famílias que perderam tudo o que tinham devido a um recente incêndio, supostamente motivado por vingança; foram cerca de trezentas casas atingidas pelo fogo.
O espírito cristão do Natal é um convite para se recordar que o “salvador do mundo” nasceu numa estrebaria. Mesmo na fase adulta, o “Messias” cultuado pelos cristãos recorrentemente fez um apelo à humildade, à simplicidade e à solidariedade.
Contudo, durante os últimos anos no Brasil, fiquei estarrecido com o comportamento de muita gente que se vangloria de estar vinculado às denominações religiosas e que, fora das igrejas, propagou as mais diversas mensagens de violência e intolerância.
Um dos casos foi o de um ex-coordenador de liturgia da comunidade católica em que frequentei há vinte anos; estivemos juntos até para organizar uma Missa de encerramento do ano litúrgico, parecia uma pessoa sensível e com percepção de realidade no trato com o público. Contudo, no julgamento de um habeas corpus nesse ano, ele se manifestou comemorando a possibilidade de um golpe militar no país. Talvez ele nunca ouviu falar sobre as sessões de tortura aos presos políticos do Regime Militar, o qual vigorou em terras brasileiras até meados da década de 1980...
Anteriormente, a esposa de um ex-Presidente ficou internada num dos hospitais brasileiros de referência na qualidade de atendimento. Num grupo de mensagens que reunia médicos, surgiram comentários recomendando alguns procedimentos para provocar a morte dessa paciente.
Novamente no sul do país, a caravana do mesmo ex-Presidente, que percorria as cidades para tentar expor outra versão dos fatos publicamente conhecidos, foi alvejada a tiros. Além disso, uma senadora gaúcha, profissional de comunicação, elogiou as agressões ocorridas no estado dela contra a referida caravana.
No dia em que esse mesmo líder político foi preso, foguetórios ocorreram em diversas localidades do país. Imagino que nenhum dos festejadores era cristão, pois o Mestre desse grupo religioso recomendou a misericórdia e até mesmo visitar na cadeia quem estiver detido.
Apesar das situações acima, a passagem do tempo em vida permite que as pessoas e as sociedades amadureçam. Francamente, nessa transição de ano, esse é o meu desejo aos brasileiros e, particularmente, aos sulistas, bem como aos médicos.
Do contrário, poderá acontecer aquilo que o repórter Philip Lichterbeck, da Deutsche Welle da Alemanha, mencionou numa publicação do final de novembro desse ano, sobre o possível destino dessa atual sociedade brasileira: para o nada. Para o esquecimento eterno, talvez o esquecimento similar ao dos apoiadores do regime nazista alemão.