A Europa acordou diferente no dia 24 de junho. Na noite anterior, a maioria da população Reino Unido votou pela saída do país da União Europeia. A decisão, batizada de Brexit, desencadeou alguns efeitos imediatos. Por exemplo, a Libra despencou para o menor nível em 31 anos e o setor de ações caiu acentuadamente nesta manhã. Mas, qual é o impacto disso sobre as empresas e os mercados latino-americanos?
“Em primeiro lugar, devemos olhar para os laços existentes entre as duas regiões. Embora a situação varie de país para país, em termos gerais o Reino Unido não é muito elevado no ranking de destinos de exportação ou de fontes de importação para países latino-americanos”, comenta Ignacio Perrone, gerente da indústria de transformação digital da Frost & Sullivan para a América Latina.
Na visão do especialista, esse mesmo conselho vale para os investimentos. Segundo ele, apesar de as empresas britânicas terem uma presença significativa na região, elas não têm a mesma relevância de organizações dos Estados Unidos. “Assim, o impacto de curto prazo do Brexit não seria tão grande”, adiciona.
Perrone afirma que o impacto da saída do Reino Unido do bloco europeu poderia ser mais agudo pelo aspecto da fuga de investimentos. ”Se isso acontecer, os fluxos financeiros globais vão escolher títulos do Tesouro dos EUA ou outros investimentos de qualidade ao invés dos mercados emergentes”, pondera.
Dessa forma, o dinheiro ficará menos disponível, ou a uma taxa de juros mais elevada, o que afetaria uma região que ainda precisa de uma grande quantidade de recursos para ajudar no seu processo de desenvolvimento.
“Particularmente para o mercado de tecnologias de informação e comunicação da América Latina, pode haver algumas consequências a curto e médio prazo. Como resultado dos muitos investidores à procura de investimentos de qualidade, é esperado que o dólar se valorize frente às moedas locais dos países latino-americanos”, adiciona Sebastian Menutti, analista da consultoria.
Caso isso ocorra, o encarecimento da tecnologia pode pesar no bolso das empresas, atrasando alguns projetos e retraindo ainda mais o mercado regional, que já sofre com os impactos da variação cambial. “Esta situação também pode conter os gastos públicos em tecnologia, uma vez que os fluxos financeiros internacionais provavelmente serão mais escassos para os países da região”, adiciona.
Vale lembrar, contudo, que o Brexit ainda pode levar até dois anos para se concretizar, com o processo de retirada do UE previsto para começar quando o artigo 50 do Tratado de Lisboa for acionado. Uma vez que a intenção de separação for formalizada, a Grã-Bretanha vai começar a negociar os termos de retirada com os estados membros do bloco econômico em questões, como tarifas comerciais e da circulação de cidadãos pelo continente europeu.
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