Ainda é cedo para projetar os impactos de um governo de Michel Temer para a indústria brasileira de tecnologia da informação. “Não adianta ficar muito ansioso. É preciso olhar com cuidado e entender a situação”, comenta Francisco Camargo, presidente da Abes.

Com outros líderes de associações setoriais, o executivo nutre a esperança de que o novo presidente ajude a quebrar o círculo vicioso que levou à economia brasileira a amargar resultados negativos ao longo dos últimos trimestres. Turbulência que, por sinal, travou muitos negócios.

O passado recente, de fato, não foi muito amigável à indústria de TI. Estatísticas do Gartner apontam que o faturamento do setor despencou 30% em 2015 e vai cair mais 12% neste ano. O desempenho levou a consultoria a classificar o período como “horrível”, e prever uma retomada do crescimento apenas em 2017.

Muitos investimentos em TI foram paralisados em decorrência das incertezas macroeconômicas e políticas que tomaram o país. “Não se via muito horizonte para planejamento e isso desencadeou corte de custos”, sinaliza Camargo.

E o setor vai precisar cobrar de Temer maneiras para viabilizar um ambiente que permita essa retomada. Afinal, tecnologia é uma atividade “transversal”, que toca praticamente todos os setores produtivos.

“Olhamos de perto em mais ou menos 200 Projetos de Lei que correm na Câmara e uns outros 60 que estão no Senado com potencial de influenciar o segmento de TI De uma maneira ou de outra”, diz Camargo.

A Abes acredita que as portas do Governo estarão abertas para discutir políticas setoriais. A opinião se baseia no fato que já havia um bom trânsito com parlamentares, e os novos representantes do executivo que assumem o posto de ministro já eram interlocutores das associações de classe.

O executivo, que antes de empreender no mercado de tecnologia atuou durante anos em um grande banco europeu, acredita que o novo governo terá muito trabalho para colocar o país de volta aos trilhos. “E acho que vai haver um cabo de força entre o pessoal que pede redução de despesas e aqueles que querem aumento de imposto”, opina.

Mas há alguma mudança imediata com Temer na presidência? “O que muda imediatamente é a percepção dos agentes financeiros e econômicos”, avalia Camargo, para quem caberá ao próprio governo tomar medidas corretas para angariar o apoio da população e do empresariado.

No mais, o presidente da associação das empresas de software se mostra cauteloso para fazer qualquer previsão mais contundente. “É preciso ser cauteloso quando se está bem e não ser tão pessimista quando as coisas estão ruins. O país vai acabar se ajeitando. Esse é o interesse de todo mundo”, conclui.

Vale lembrar que já em seu primeiro dia como presidente interino Michel Temer determinou a fusão dos ministérios da Ciência e Tecnologia e Comunicações, que agora ficarão sob o comando do ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. A medida foi criticada pela comunidade científica.