Cultura popular não é o que se chama tecnicamente de folclore, mas uma linguagem em permanente rebelião histórica. O encontro dos revolucionários desligados da razão burguesa com as estruturas mais significativas desta cultura será a primeira configuração de um novo signo verdadeiramente revolucionário
Glauber Rocha
Cultura é o patrimônio de bens simbólicos materiais e imateriais de um povo, é o que nos identifica como seres humanos, pertencentes a um determinado grupo, é o que nos define como nação, tradição e invenção, preservação e transformação da realidade.
Compreender as múltiplas dimensões da cultura é essencial ao projeto de transformação social.
Políticas de inclusão das classes populares, historicamente marginalizadas, no processo de desenvolvimento social exigem mudanças estruturais nas formas tradicionais de relações de poder. É preciso ampliar o conceito de democracia, de educação e de cultura para que possamos criar as bases que irão desencadear as mudanças históricas que desejamos.
Hoje, a falta de recursos alternativos e a comodidade tecnológica impõem a televisão e o rádio como os principais meios de acesso a bens culturais imateriais e a informações gerais. Esses veículos de comunicação em sua maioria pertencem a grupos privados com interesses econômicos e políticos, na maioria das vezes contrários aos interesses populares e nacionais e ao invés de suprirem as necessidades de informação e de formação cultural que alimente a fome de educação e política dos cidadãos, mercantilizam todos os conteúdos, empobrecendo e reduzindo a educação e a cultura a meros produtos na prateleira de um mercado cada vez mais belicista e desumano.
Os bens culturais mais expressivos da criação artística brasileira e universal estão acessíveis a pequenas parcelas da população, seja em grupos resistentes produtores de cultura popular (bumbas-meu-boi, congadas, reisados, catiras, guerreiros, folias, fandangos e etc) ou grupos de classe média produtores e consumidores de literatura, cinema, teatro, artes plásticas e etc. Esses grupos que são responsáveis pela construção da identidade cultural brasileira precisam dialogar mais entre si, trocar experiências, buscar alternativas de ampliação da produção e difusão da cultura brasileira.
Em um mundo “coisificado” onde a globalização imposta pelo império capitalista, faz com que o “consumismo” seja parâmetro para medir a condição social dos indivíduos, necessitamos com urgência e precisão valorizar e dar visibilidade à cultura portadora de valores éticos humanistas necessários à construção da sociedade socialista e democrática que sonhamos.
Uma das características do capitalismo moderno é a necessidade de destruição das culturas locais para que em seu lugar sejam vendidas as novidades descartáveis do mercado.
Dado às características peculiares de produção e organização da cultura popular brasileira se faz necessário à criação de programas e projetos específicos para esta área que não sobrevive dentro das relações tradicionais do mercado capitalista nem consegue se ajustar às exigências burocráticas legais que o estado faz aos proponentes de projetos culturais.
Nossa luta é contínua, e nossa política cultural não deve perder de vista este combate. Então, Para que sejamos eficientes em nossas ações a atividade artística popular precisa ser também considerada sob o prisma da transversalidade, permeando várias áreas do conhecimento humano, articulando-se no âmbito das políticas públicas ás áreas de educação, saúde, meio ambiente, desenvolvimento sustentável, geração de trabalho e renda e toda a pauta da inclusão social no Brasil.
Chico Simões