Os episódios recentes do cenário político em convulsão no país evidenciam que, no fundo, as elites conservadoras e retrógradas, que abandonaram a ordem constitucional, protagonizando o golpe à democracia, seguem comandando o Brasil, totalmente subordinadas à financeirização da economia.
Com a cumplicidade da mídia dos poderosos que propõe a agenda nacional, sob a premissa da criminalização da política e do falso combate à corrupção, agravaram a crise política produzindo um enorme conflito institucional, que fertiliza perigosas retaliações.
Entretanto, o caos criado no vácuo gerado pela violação do Estado Constitucional de Direito torna-se cada vez mais incontrolável.
Em sua ilegitimidade, Temer está ‘ensanduichado’ entre a pressão verde amarela das ruas que eles próprios incentivaram e a tensão do Parlamento que efetivou o golpe, colocando-o na interinidade usurpadora.
Está claro que setores mais à direita e o tucanato repelem a companhia incômoda do PMDB carimbado pela incriminação de réus como Cunha e Renan. Este parceiro de ocasião já pode ser descartado pois cumpriu seu papel de aríete do impeachment sem crime de responsabilidade, derrubando a presidenta legitimamente eleita pelas urnas, na bravata que os unificava perante o símbolo do pato empresarial da Fiesp, revelador da captura do Estado pela financeirização econômica.
Agora, instaura-se o golpe dentro do golpe, preparando o caminho para eleger, em 2018, a verdadeira expressão política orgânica do bloco dominante que é o tucanato.
Candidato desta articulação neolibeal, Alckmin está na cabeceira da pista para 2018 à espera da semi legitimidade da construção de um governo transitório eleito de forma indireta no Congresso no início do ano que vem.
Mas para esta manobra ter êxito é fundamental dar continuidade ao controle do poder judiciário sobre a política (o chamado tenentismo de toga) para conduzir esta transição sem ruptura institucional.
Com todos os limites e debilidades deste momento, os democratas têm que estimular o impasse oriundo da luta intestina no bloco dominante, sem legitimidade das urnas, destituído de projeto para a nação e sem uma união amparada no interesse público.
Diante das graves contradições por eles mesmos criadas, resta ao Senado tentar interditar, do ponto de vista institucional, a agenda neoliberal e encaminhar este debate para as ruas, convocando a sociedade para decidir os rumos do país.
Sobretudo pelo barril de pólvora que pode significar a reforma da Previdência, que ataca os direitos de um povo que não vai aceitar pacificamente a supressão arbitrária de suas conquistas passadas e recentes, obtidas nos últimos 14 anos de governos de inversão de prioridades no Brasil.
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Adão Villaverde é professor, engenheiro, deputado estadual (PT/RS).