A ópera bufa que se tornou a política nacional nos brinda com uma quantidade absurda de cenas inacreditáveis. Outras são puro escárnio.
Primeiro a sessão ‘inacreditável’.
Após o afastamento de Renan Calheiros da presidência do senado por decisão monocrática de Marco Aurélio Mello, ministro do STF, o seu colega Gilmar Mendes chutou o balde e disse que a decisão de Marco Aurélio é caso de inimputabilidade ou impeachment. Pesado até para o padrão Gilmar.
Depois disso a mesa do senado decidiu não cumprir a decisão de Marco Aurélio, alegando interferência desmedida de um poder sobre outro.
O primeiro vice do senado é Jorge Viana, do PT. É ele quem assumiria a presidência da casa no afastamento de Renan.
Depois de notícias no sentido de que Viana teria avisado ao PMDB que não se comprometeria com a colocação em pauta da PEC 55, as últimas informações, vindas da coluna Painel e da Mônica Bergamo, da Folha, são de que Viana poderia renunciar à vice-presidência do senado caso confirmado o afastamento de Calheiros, o que tornaria Romero Jucá presidente da casa. Trecho da coluna de Bergamo:
“Não tenho condições de assumir”, chegou a dizer o petista, segundo relatos de magistrados, num apelo dramático para que a Corte (STF) encontre uma saída que mantenha Renan no cargo. Viana alegou que não terá condições de governabilidade já que sofrerá violentas pressões tanto do governo, para votar medidas de contenção de gastos, quando da oposição, campo ao qual pertence, para protelá-las, agravando a crise política.
A oportunidade de barrar ou ao menos atrapalhar os ataques brutais aos direitos dos trabalhadores que não param de vir do governo golpista cai no colo de um senador petista e a reação é essa? Covardia é muito pouco para descrever a atitude de Viana.
Agora vamos à sessão ‘escárnio’.
O ministro Luís Roberto Barroso entrou em cena para comentar o descumprimento da decisão do STF pelo senado:
Eu não participo desse julgamento por estar impedido e portanto não quero fazer comentário sobre ele. Porém, falando em tese, diante da decisão judicial é possível protestar e apresentar recurso. Mas deixar de cumpri-la é crime de desobediência ou golpe de Estado.
Derrubar uma presidenta eleita sem que haja crime de responsabilidade tudo bem, a gente chancela aqui no STF, mas descumprir decisão absurda de um dos ministros aí já é golpe de Estado!
É difícil até comentar uma declaração dessas.
Carmem Lúcia, presidenta do Supremo, teve a desfaçatez de dizer que não vê conflito algum entre as instituições: ‘os poderes atuam de forma harmônica’. A prova seria uma reunião entre os chefes dos três poderes ocorrida há um mês atrás para tratar da segurança pública. Não é brincadeira, ela disse isso mesmo.
Mas o grande escárnio das últimas horas não poderia deixar de ser a premiação ‘Brasileiros do Ano’, da revista IstoÉ.
Além das fotos (que viralizaram) da conversa ao pé do ouvido, com direito a risadinhas, entre o julgador imparcial Moro e o citadíssimo em delações Aécio Neves, o prêmio ‘Brasileiro do Ano’ foi para Michel Temer.
Não se sabe se foi pela montagem de um ministério altamente qualificado e ético, pela recuperação econômica ou pela pacificação do país que Temer nos proporcionou.
Deve ter sido pelo ‘conjunto da obra’, como foi o impeachment da Dilma…