Bolsonaro é um fenômeno interessante de observar. Interessante, mas não por isso menos perigoso. É o fio da meada.
O tal capitão é o primeiro candidato de extrema direita com real chances de incomodar os favoritos numa corrida presidencial no pós ditadura.
Bolsonaro tem outros similares na história, em 1955, por exemplo, Plinio Salgado, o líder integralista, postulou a presidência da república, pelo PRP (Partido de Representação Popular) e obteu 8% dos votos. Mas o que difere os dois exemplos é o fato de que Plinio era um outsider controlado pelo estabilishment, Bolsonaro está saindo do controle e quer negociar, o preço não se sabe.
Bolsonaro surge em outro contexto, ele é o clássico bode na sala, um incêndio criminoso para gerar lucros com o seguro. Ele surge de uma mistura de neoconservadorismo e ultraliberalismo gestado e estimulado nas redes sociais já há algum tempo, um ambiente que passou anos sendo visto como folclórico e que não tinha nenhum nome expressivo que o representasse no campo politico. O velho discurso moralista, misógino, homofóbico e violento do capitão se adaptou aos memes politicamente incorretos das redes e o ungiu como a cabeça que faltava ao camarão.
Mas por que ele é o bode na sala? Nas prévias informais, Bolsonaro foi e é estimulado por um cálculo. Sua maior qualidade é representar o medo de que venha a dar certo e com isso impulsionar uma alternativa de centro direita. O problema é que uma alternativa de centro direita tá difícil de ser inventada. Dória, Alckmim, Meireles, Huck? Até agora nada de embalar, todos derrapam.
O niilismo e a descrença da população em relação à política, foi o investimento diário da direita nos anos Lula/Dilma. O massacre moralista engoliu os parlamentos e o executivo, a “mão invisível” e classista do judiciário só aprofundou a crise de despolitização. Tudo isso adicionado ao ódio pariu Bolsonaro e as violências afins. Agora, ele é o perfeito bode na sala, um tanto pesado pra ser retirado apenas com desejos e simples manipulação.
As contradições são o fardo mais pesado de carregar. Desconstruir Bolsonaro é tentar curar com bandaid a lepra da despolitização. O frankestein do parlamento saiu do controle, não é à toa que um dos agentes dessa destruição, a Folha de São Paulo, já tenta tornar palatável um suposto bolsonaro costumizado. A farsa tentando a construção de mais uma farsa.
Diferente dos 8% obtidos pelo Plinio integralista de 1955, o capitão Bolsonaro, hoje ostenta 20% de intenção de voto. Claro que por ora são apenas intenções. O que assusta é que estas intenções verbalizam toda uma construção simbólica erigida minuciosamente nos últimos anos: a desqualificação da política.
E 2018 se aproxima e o bode berra bem alto.
