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Celular Proibido em Escolas “não faz falta” e crianças reeditam velhas e didáticas praticas e brincadeiras

June 20, 2025 10:54 , von Luíz Müller Blog - | No one following this article yet.
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A Lei que regula uso de Celular em Escolas foi sancionada pelo Presidente Lula em Janeiro deste ano e já esta trazendo efeitos muito positivos, como é possível verificar em matéria da Zero Hora, que reproduzo na íntegra a Seguir.

Jogos inventados, amarelinha, bambolê e idas à biblioteca são algumas das práticas que têm reaparecido nas escolas após a proibição do uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos.  O tédio no tempo que, antes, era consumido por telas, virou ócio criativo, e os recreios têm sido mais barulhentos, movimentados e saudáveis para as crianças.

Eduardo Silva Pinto e seus amigos resolveram inventar o próprio jogo de cartas, com textos e desenhos feitos por eles, em vez de comprar um pronto. Os adolescentes de 12 anos estão no 7° ano do Colégio Anchieta, no bairro Três Figueiras, em Porto Alegre, e, apesar de já não gostarem muito de usar o celular na escola antes, sentiram o impacto da proibição neste ano.

— A ideia surgiu por causa do tédio que a gente estava tendo no recreio, porque a gente não fazia nada. Aí, a gente começou a fazer cartas e a colocar cards que tinham “HP”, ataque, pra começar a fazer uma batalha. Tá sendo legal. A gente joga todo recreio. Não me sinto mais entediado como antes — conta.

O menino acha que as partidas ajudam no desempenho em matemática, já que cada carta possui pontos em aspectos como fraqueza e ataque, além do percentual de raridade. Felipe Machado Farina concorda e acha que o tempo tem sido melhor investido do que quando o celular era permitido.

— Eu ficava muito parado, não gostava. Eu não sei por que, mas, quando eu usava o celular, o tempo passava muito rápido — comenta o estudante.

Entre as alunas do 6° ano, tem de tudo: algumas meninas que se encantaram pelo vôlei, outras que se engajaram em partidas intensas de UNO, um grupo que se refugia na biblioteca para ler e fugir do barulho e os meninos que aproveitam o tempo para trocar figurinhas para completar seus álbuns.

— Eu acho que começamos a jogar mais vôlei porque não podia usar o celular, aí a gente começou a praticar mais esportes, achar coisas para fazer no recreio — conta Rafaela Arnhold Soares, 11 anos.

A demanda pelas quadras foi tanta, que o colégio precisou organizar um revezamento entre as turmas. Quando não jogam, Rafaela e as amigas, Isabela Barichello de Lima e Ana Beatriz Jaeger Porto, ficam conversando. O trio acha que a comunicação e as interações são melhores sem o celular por perto.

A biblioteca ganhou mais adeptos, que buscam lá um refúgio para o barulho do recreio.

— Na biblioteca tem gente que pinta, ou coisa assim, e a gente pode ficar sem a gritaria que tem lá embaixo. Às vezes, a gente tem a vontade de ficar o tempo todo lá, só lendo juntos — diz Helena Amaral, 11 anos.

A menina e seus amigos, que cursam o 6º ano, não tinham acesso ao celular até o ano passado, pois o Anchieta já tinha como regra não permitir o aparelho entre crianças até o 5º ano. Isso mudaria neste ano, mas, com a lei, os dispositivos seguem guardados na mochila – mas não têm feito falta.

— Eu acho que não faz falta, porque a gente pode trocar o celular por diálogo, por ir à biblioteca, ler livros — avalia Antônio da Rosa Wünderlic, 11 anos.

Benjamin Dutra e Vicente Branchi, 11 anos, adoram colecionar figurinhas em álbuns de campeonatos de futebol. No recreio, a diversão é se juntar e trocar as que vieram repetidas. Agora, estão completando o do Mundial de Clubes.

— Eu comecei faz um mês e falta pouquinho pra eu completar. Sempre gostei de colecionar coisas, porque, no futuro, eu vou poder me lembrar das coisas do passado — explica Vicente.

O hábito serve para conhecer times e fazer amigos. Além do intervalo, a gurizada às vezes vai a encontros de troca de figurinha, como os que ocorrem no Viva Open Mall e em uma banca de revistas na Rua José de Alencar.

— A gente combina de se encontrar em um lugar, todo mundo leva as figurinhas e a gente vai trocando. Tem bancas específicas que, todo domingo às 16h, vai um monte de gente lá pra trocar — descreve Benjamin.

Conhecido pela brincadeira que “desfaz amizades”, devido a cartas como o +4, que faz o oponente ter que rechear o baralho em suas mãos, o jogo Uno fez o contrário, no caso de um grupo de meninas do 6º ano: as uniu ainda mais para realizarem partidas épicas durante os recreios.

— Acho que o Uno ajudou muito a gente a se adaptar e fazer novas amigas aqui neste prédio — opina Marina Pilotto, 11 anos, se referindo à troca de prédio que acontece quando os alunos saem dos Anos Iniciais do Fundamental e iniciam os Anos Finais.

As estudantes temiam que, com a liberação para o uso de celular no 6º ano, as crianças que não tivessem o aparelho ficassem excluídas. Por isso, o veto foi um alívio. Mas, para Helena Ubatuba, 11 anos, o início foi difícil:

— Eu estava muito a fim de usar o celular, queria muito poder usar na escola, e daí deu essa lei. Eu concordo com essa lei, mas foi muito difícil no começo. Depois, a gente começou a jogar Uno e foi uma coisa muito legal.

A volta de brincadeiras antigas

Na Escola Municipal Jean Piaget, no bairro Rubem Berta, em Porto Alegre, as professoras também perceberam uma demanda maior pelo uso das quadras esportivas e a volta do interesse no bambolê. Outras práticas populares são pintar livros de colorir, como os amados Bobbie Goods, pular corda – o que reúne meninos e meninas – e pular amarelinha.

Nathalia Padrino Farfán, oito anos, nunca teve celular. No recreio, conta que, junto com os amigos, o tempo passa rápido entre as brincadeiras que se multiplicam a cada intervalo.

— A gente monta brincadeiras novas e é divertido — resume a pequena.

Entre os jogos preferidos da menina está o pega-pega zumbi:

— É assim: quem é o zumbi corre atrás de quem não é e tenta pegar — conta.

Ela também brinca de esconde-esconde, “o chão é lava” e pega-pega.

Já Nayane Paim da Silva, oito anos, conta que, mesmo tendo um celular em casa, “é mais legal inventar brincadeira”. Ela joga amarelinha com o irmão, pula corda e brinca de telefone sem fio. A experiência, segundo Nayane, é melhor do que ficar sozinha mexendo no celular.

— Antes eu não tinha telefone, agora tenho um pouco, mas não posso trazer pra escola — completa a criança.

Erick Castro Santos, nove anos, se apresenta como o “melhor youtuber do mundo”. Ele gosta de gravar vídeos de desafios e construir casas com massinha e madeira, mas reconhece que, no ambiente escolar, é melhor deixar o celular de lado.

O aluno diz ter estranhado o fato de que, antes, os adolescentes podiam usar celulares e os menores não, mas aproveita o tempo longe da tela para se movimentar:

— Gosto mais de brincar de pega-pega, porque é pra correr e fazer exercício. Eu gosto de correr pra me exercitar e pra não ficar tão parado. Quando estou entediado, chamo alguém pra brincar, mesmo se eu não conheço. Faço pra pessoa não ficar tão parada como eu.

Erick prefere fazer atividades que o movimentem do que ficar no celular.Jefferson Botega / Agencia RBS

Para Erick, a diferença entre o recreio e a sala de aula é clara:

— Quando eu me exercito, eu fico mais concentrado. O recreio é pra brincar e na sala de aula é pra aprender e estudar — sintetiza, reconhecendo que o tempo sem celular melhora até a atenção nas aulas.

Lorenzo de Lima Silveira, nove anos, também gosta das brincadeiras tradicionais. Cabo de guerra e brinquedos de peças de madeira estão entre suas atividades preferidas.

— Nunca trouxe o telefone pro colégio — diz o estudante, ansioso para voltar a brincar de cabo de guerra com uma amiga.

O menino conta que prefere interagir com os colegas e se divertir com atividades físicas. Em casa, usa o celular para ver desenhos e jogar, mas com horário controlado.

— Tenho três jogos e posso usar só às sete horas. Depois vou pra casa da vó, vejo desenho e brinco — conta Lorenzo.

O “brincar” como elaboração psíquica

A psicóloga clínica e escolar Laura Graña ressalta que a capacidade de brincar espontânea e criativamente é um “indicador de saúde importante em qualquer momento da vida”, sendo o brincar “constitutivo” da experiência humana.

— É pelo brincar que as crianças dão sentido às suas experiências e inventam o mundo, um processo equivalente à elaboração psíquica dos adultos — esclarece a profissional.

Laura ressalta que o brincar necessita de um ambiente favorável, que inclua uma condição hoje “bastante impopular”: o tédio.

— Quando as crianças ficam entediadas, atravessando a frustração, elas têm a chance de inventar brincadeiras, criar histórias, imaginar mundos. Nesses momentos de ócio, a criança sente que consegue se divertir sozinha, descobrir interesses de forma ativa e desenvolver de forma lúdica recursos internos diante do vazio.

A psicóloga critica a tendência de preencher o tédio imediatamente com telas.

— Quando a criança se acostuma a depender do estímulo constante das telas, ela perde a oportunidade de desenvolver essa criatividade espontânea, de brincar livremente, de lidar com o tempo mais lento das coisas e perde, em especial, a oportunidade de criar intimidade com a solidão — pontua Laura.

A dependência pode levar à desorganização ao remover o aparelho. Para a profissional, o tédio não é um problema a ser eliminado, mas “um estado a ser atravessado” para o desenvolvimento da capacidade de brincar em grupo, o que desenvolve coordenação motora, linguagem, socialização, pensamento simbólico, raciocínio e compreensão do “eu” e do “outro”.

Conforme a psicóloga, muitos estudos mostram que o excesso de tempo diante das telas está ligado a atrasos na linguagem, dificuldades de atenção, menor capacidade de controle emocional e até mudanças na estrutura cerebral, especialmente em áreas ligadas à memória e à cognição.


Quelle: https://luizmuller.com/2025/06/20/celular-proibido-em-escolas-nao-faz-falta-e-criancas-reeditam-velhas-e-didaticas-praticas-e-brincadeiras/

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