Por Claudio Kinerim*
A vitória do “Frente Amplio” no Uruguai destaca um aspecto crucial que muitas vezes passa despercebido: a segurança pública como prioridade. Diferente do que ocorre em muitos lugares, onde a direção executiva define as pautas principais, no Uruguai foram os mais de 500 Comitês de Base que decidiram que a segurança pública seria o ponto central do programa eleitoral da Frente Ampla.
A cúpula política, que provavelmente queria priorizar áreas como saúde ou educação, acabou se rendendo ao que mais tocava a população. Com “los comitês barriales” tendo voz e voto, foram eles que definiram as prioridades.
O programa de Governo, os materiais de campanha e a comunicação nas redes sociais afirmaram o compromisso de abrir duas mil vagas para policiais, aumentar o número de câmeras de vigilância para 20 mil em todo o país, instalar bases móveis para a patrulha nas ruas e melhorar os salários dos policiais. Esses foram os motes da campanha de Orsi, orientada no lema: “Meus inimigos são o tráfico de drogas, o crime e a corrupção”. O tráfico de drogas também foi indicado como prioritário, e o presidente eleito prometeu desarticular 50 facções durante seu governo.
Além de remediar as situações, a ideia de Orsi é prevenir crimes através da aplicação do programa Policiamento Orientado aos Problemas (POP), que tem como objetivo atacar as causas dos crimes. Pablo Alvarez afirma que esse foi o grande trunfo da campanha da Frente Ampla. Para ele, um governo que seja referência na segurança pública precisa focar na raiz da criminalidade e não apenas correr atrás para resolver algo que já se expressa na sociedade.
“Os uruguaios têm a questão da segurança como principal ponto. O governo de direita não resolveu isso, então essa foi uma questão central. O eixo da Frente Ampla é ser contundente contra o delito, mas também perseguir as causas que, do nosso ponto de vista, envolvem uma bateria de políticas sociais. A desigualdade é um componente central. Então é preciso trabalhar os dois lados”, diz Orsi.
Enquanto isso, aqui, essas propostas de combate ao crime foram deixadas nas mãos da extrema direita.
Claudio Kinerim é Historiador