Direitos pisoteados, “democracia” tutelada e entreguismo
A possível admissibilidade da denúncia para investigar criminalmente, pela primeira vez na história, um presidente no exercício de suas atribuições no Brasil tem um caráter absolutamente gravíssimo.
A gravidade é tamanha que a reação imediata do ilegítimo governo, acuado pela devastadora força da publicização de áudios, vídeos e delações, foi apelar ao jogo imoral de distribuir bilhões de reais em emendas, trocar centenas de cargos e realizar a operação truculenta de substituições de deputados na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), sem poupar mesmo aliados, escorraçados para dar lugar a fantoches de posições coniventes com o interino, que usurpou o posto da presidenta legitimamente eleita pela vontade das urnas.
Afirmamos e reafirmamos o que temos dito: segue em curso, em nosso país, mais um golpe parlamentar, midiático, empresarial e do sistema financeiro dentro do próprio golpe. E sabemos que este ataque também conta com fortes apoios de setores do Judiciário.
Anteriormente, o golpe sem armas, de prática conhecida na América Latina por evidente inspiração externa, também foi articulado por esse conjunto de forças conservadoras contra Dilma Rousseff, o Partido dos Trabalhadores, a esquerda, o resultado das urnas, a democracia e os projetos sociais que vinham mudando o país e que visa, ao final, eliminar Lula politicamente, impedindo sua reeleição.
Agora, tudo ocorre com o silêncio estarrecedor de alguns antigos paladinos da moralidade que maculam trajetórias políticas e, sobretudo, a encenação de alguns ritos pretensamente democráticos e constitucionais para dar aparente legalidade à sequência do assalto ao poder desta “Confederação de Investigados”, que enlameia detentores de cargos nos mais altos escalões da República.
Sua agenda, porém, é sempre muito clara: dar curso às antirreformas sociais, trabalhistas, previdenciárias e ao entreguismo, submetendo o país a interesses não republicanos, financistas e especuladores de âmbito internacional inclusive, agora usando, como pantomima, mais uma marionete posando no trono do poder para dar seguimento ao trabalho incompleto que o ilegítimo presidente golpista foi incapaz de concluir para contentar a Casa Grande.
A recente aprovação da antirreforma trabalhista remete para uma preocupação evidente com o aumento da marginalização e dos conflitos sociais, alavancando a violência e o fascismo, favorecidos pelo contexto de uma democracia tutelada.
De modo simultâneo, a tal Confederação busca fazer aquilo que sempre foi o seu grande objetivo: interditar as investigações de corrupção, acabar com os vazamentos seletivos que só serviam contra seus adversários e dar prosseguimento ao discurso de que querem melhorar a economia brasileira quando, na verdade, estamos vivendo o agravamento da maior crise econômica dos últimos tempos, em que os verdadeiros responsáveis são aqueles que enganam o povo brasileiro porque seus compromissos são com o princípio do rentismo que tão somente visa o lucro financeiro pela aplicação de capitais. E não com o setor produtivo que, verdadeiramente, daria as condições para o Brasil crescer, se desenvolver, gerar emprego, promover a renda e distribuí-la. Como os governos de Lula e Dilma vinham fazendo pela primeira vez na nossa história, no rumo da construção de uma nação afinal livre e soberana.
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Adão Villaverde é engenheiro, professor e deputado estadual (PT/RS).
