“Por Kika Castro em seu Blog“
Fico me perguntando o que ainda não foi dito sobre Divertida Mente 2. Um dos filmes mais falados do ano, ele tem tudo para repetir a proeza do primeiro e ganhar um Oscar de melhor animação (isso se não for indicado, também, a melhor roteiro).
Como escrevi sobre o filme de 2015, trata-se de “um dos roteiros mais filosóficos da Disney”. Sem dúvida, é uma animação mais bem compreendida pelos adultos do que pelas crianças – estas se divertem bastante com os personagens inusitados, representando sentimentos, mas somos nós que vivemos aquelas fases do crescimento e nos identificamos com cada um dos perrengues descritos.
Outra curiosidade do que escrevi há alguns anos foi a seguinte:
“Originalmente, o filme incluiria outras das várias emoções que sentimos, como orgulho, surpresa e confiança. Elas foram cortadas e os roteiristas deixaram apenas aquelas cinco principais, para facilitar o entendimento. Afinal, mesmo com a redução, a animação já comporta grande nível de complexidade.”
Foi preciso passar quase uma década para que a continuação saísse e, mesmo assim, ela só incluiu mais quatro sentimentos: ansiedade, tédio, vergonha e inveja.
Isso deixou a falsa impressão de que as crianças não nascem com esses sentimentos, que eles só surgem na adolescência. Mas manteve o didatismo de abordar a complexidade do nosso cérebro e de nossas memórias e construção de identidade de uma maneira simples, fácil de ser entendida por todos.
Na verdade, imaginem como seria difícil roteirizar um filme com centenas de personagens? Além dos nove que aparecem nesta continuação, teriam que colocar amor, cansaço, calma, ciúme, culpa, depressão, espanto, felicidade, gratidão, ódio, orgulho, confiança, pena, solidão, rancor, arrependimento, rebeldia, preguiça… A lista é gigante!
E este filme, assim como o outro, aborda uma miríade de assuntos complexos: o crescimento, o amadurecimento, o autoconhecimento, a autoafirmação, a construção da identidade, a construção das convicções pessoais, a amizade, o medo de rejeição, a solidão, a insegurança, além do funcionamento do cérebro, das memórias e dos sonhos.
Como tratar de assuntos tão difíceis em um curto espaço de tempo, numa animação com classificação indicativa livre, que também seja palatável para crianças pequenas? Eis a jogada de mestre deste filme, que mexeu tanto comigo como, por exemplo, “Viva: a vida é uma festa” (nota 10), “Soul” (9) e “Up” (9).
Eu ri, gargalhei, me emocionei, chorei. De novo.
Crescer é difícil mesmo – e nem sempre vai ser divertido.
P.S. Quando a crise de ansiedade for forte demais, peça ajuda 
