
Uma instigante pergunta do Jornalista Leandro Demori e um artigo didático e exemplar artigo sobre o que significam as privatizações de bens públicos e quem ganha e quem perde com elas. Por que este caso do Aeroporto de Porto Alegre é só um exemplo:
MAS O QUE ACONTECE SE A FRAPORT DEVOLVER O AEROPORTO SALGADO FILHO?
A empresa Fraport pode devolver o aeroporto Salgado Filho caso o poder público (nós, pagadores de impostos) não paguemos pela reconstrução. Ela não está amparada em contrato para sequer pedir ressarcimento por isso, a não ser em casos de interpretações “criativas”.
Era ela, a Fraport, obrigada a segurar o aeroporto. Obrigada por contrato. Contrato esse do qual ela tinha conhecimento dos riscos (inclusive da situação geológica do aeródromo – isso está ESCRITO no documento). E “enchentes” são seguradas neste caso (basta ler a apólice, não requer muita sabedoria).
A Fraport alega que o seguro cobre apenas R$ 130 milhões, e que isso não seria suficiente. Primeiro que me chama atenção ela saber disso de antemão sem inventariar a perdas, o que ainda não fez. Mas sigamos.
Ora: o prêmio de um seguro é proporcional ao custo da apólice. Quem negociou essa apólice foi a Fraport. Ela pagou o quanto achava que tinha que pagar (ou economizou o quanto achava que tinha que economizar). A responsabilidade pela negociação é dela.
Mas e se ela abandonar o aeroporto e voltar pra Alemanha?
Eu apurei que a Infraero tem total condições de reassumir o Salgado Filho.
A Infraero já chegou a ser uma das maiores administradoras de aeroportos do mundo antes de ser ferida de morte pelas concessões.
O setor aéreo hoje está nas mãos dos lobbies privados: concessionárias e companhias aéreas. Estaria também o Ministério dos Portos e Aeroportos? E a ANAC? Esses órgãos estão trabalhando no melhor do interesse público ou privado? Questões.
A Infraero tem quase 3 mil (sim, TRÊS MIL) funcionários cedidos para a máquina pública. Eles deveriam estar administrando/construindo/reformando aeroportos, e esses lucros (porque os aeroportos são lucrativos) deveriam se reverter em favor da população. Mas o Brasil escolheu outro caminho: dar esses lucros a empresas privadas.
Do jornal O Globo (18/08/2022): “Atualmente, 2.870 pessoas [funcionários da Infraero] exercem atividades em mais de 50 órgãos e entidades da federação, tribunais, ministérios, agências reguladoras e órgãos de segurança. O orçamento da Infraero este ano é de R$ 1,7 bilhão.”
Ou seja: tem pessoal e tem caixa.
Se a Fraport se mandar de Porto Alegre, a Infraero tem condições de reassumir o Salgado Filho (não é o que eu acho, é apuração). Aliás, foi ela, a Infraero, que construiu o aeroporto e o administrou historicamente. Basta chamar parte ínfima desses funcionários cedidos de volta para suas funções.
Mas tem que reconstruir de todo modo, não?
Sim, tem que reconstruir. Agora vejam as opções.
- Reconstroi com dinheiro público e deixa os lucros futuros na mão da Fraport.
- Reconstroi com dinheiro público e deixa os lucros futuros na mão da Infraero (pública).
Não parece uma escolha muito difícil.
O objetivo neste momento deve ser salvar o AEROPORTO, não o balanço da empresa. Há uma diferença abissal entre uma coisa e outra. Porto Alegre nunca precisou da Fraport pra voar, e nem precisará futuramente caso ela decida que sem dinheiro público o Salgado Filho é um mau negócio.
Ou: Fraport aciona o seguro, arca com o restante e segue a vida. Essa é a opção que arrepia os advogados voluntários da empresa na política e na imprensa.