*Vicente Rauber é Engenheiro Especialista em Planejamento Energético e Ambiental
As águas estão baixando. Hora de avaliar o que aconteceu. Porque aconteceu. E o que fazer agora.
Em nossa capital temos o melhor sistema de proteção contra as cheias entre todas as capitais. Foi construído pelo DNOS, com sua definição feita por engenheiros alemães. A sua construção iniciou nos anos 70. Em 1973 foi criado o DEP – Departamento de Esgotos Pluviais – e em 2017 foi extinto em nome da “modernidade” do serviço público. A “modernidade” que retrocedeu 47 anos!
O DEP, mesmo quando sem os recursos adequados, sempre fez adequadamente a manutenção deste sistema: seus diques, comportas e casas de bombas. Fazia mais: cuidava dos arroios e das redes pluviais, fazendo com que os alagamentos fossem reduzidos. Desde 2021 praticamente nada disto tem sido feito. O resultado: A Cidade ficou mais inundada do que em 1941, quando quase nada disto deveria ter ocorrido. Não basta ter, é preciso manter. É preciso valorizar o Saneamento ambiental como política prioritária, especialmente nos municípios, seus responsáveis diretos.
E porque temos tantos desastres ambientais em todo planeta?
Porque emitimos Gases de Efeito Estufa – GEEs – em excesso, gerando um aumento de temperatura, o que causa todas as perturbações climáticas.
Elas vão continuar acontecendo, temos que nos preparar melhor. Mas, ao mesmo tempo, não podemos aceitar este chamado “novo normal”. Temos que construir um normal mais sustentável, ajudando a natureza reverter esta situação, para não morrermos abraçados! Precisamos urgente gerar menos GEEs e reter o excesso de GEEs. Para isto é necessário substituir as energias baseadas em petróleo e carvão mineral por energias renováveis e realizar a captação do excesso de GEEs. Isto chamamos de Transição Energética.
E isto se faz principalmente nos municípios. Na maioria das grandes e médias cidades mais da metade dos GEEs é produzida pelo transporte aos queimar os combustíveis de petróleo. É preciso racionalizar todo o transporte, incentivar o transporte coletivo, usar mais bicicletas, trens e barcos. Introduzir fortemente os veículos elétricos, que farão uma grande revolução em nossa época.
Na habitação precisamos retomar os reassentamentos das áreas de risco, especialmente os existentes nas beiras das águas e nas encostas. Em seu lugar colocar áreas verdes com vegetação que faz a captação das GEEs.
Mais verde na cidade e no campo, terra nua nem pensar, nunca! Cuidar melhor da água tratada, dos esgotos, da drenagem pluvial e das inundações. E muito importante: reaproveitar e reciclar todo o lixo gerado, especialmente os materiais plásticos e eletrônicos, em todos os lugares. Do lixo orgânico fazer adubo através da compostagem. Fazer coleta separada do azeite usado em cozinhas. Usar borra de café e erva-mate usada para regenerar a terra, nos jardins e em plantações.
A agricultura e a pecuária também são grandes geradoras de GEEs. Precisamos implantar mais rapidamente o Plano ABC – Agricultura de Baixo Carbono -, aprovado ainda em 2009 em Copenhague/Dinamarca pelos países, incluindo o Brasil, sendo aqui coordenado pela EMBRAPA. Propõe, entre outras medidas, o plantio direto, a recuperação de pastagens e áreas degradas, a utilização das curvas de nível, dos bioinsumos, sistemas de integração agricultura/floresta/pecuária, plantação de florestas em áreas sem uso e manejo de resíduos da produção .
Assim podemos ter cidade e campo muito mais saudáveis e seguros, mais eficientes e menos caros e com muito mais qualidade de vida. E fazer a nossa parte para melhorar o planeta.