Ir para o conteúdo

Luiz Muller Blog

Voltar a Blog
Tela cheia Sugerir um artigo

MEU AVÔ, JANGO (Por Christopher Goulart)

6 de Dezembro de 2016, 8:55 , por Luíz Müller Blog - | No one following this article yet.
Visualizado 47 vezes
jango

Jango no Comício da central do Brasil, onde apresentou seu Projeto de Reformas de Base. Ainda hoje carecemos de Reformas fundamentais no País, como a Reforma Política, a Reforma Agrária e a Reforma Tributária.

Nesta data tão especial, recordando quarenta anos de falecimento de meu avô Jango, peço permissão aos leitores para remeter inicialmente à data de cinco de outubro de 1976. No Hospital de Hammersmith, em Londres, foi o dia em que o Presidente deposto, João Belchior Marques Goulart, solicitou a um enfermeiro presente para fazer um retrato histórico, numa velha Polaroid, de seu primeiro neto em seu colo que chegava ao mundo. Jango faleceu no dia seis de dezembro de 1976, dois meses após este encontro comigo. Tal recordação restou gravada na nossa única fotografia. Poucos imaginam no Brasil as consequências familiares de um Golpe ou exílio sem volta, que ultrapassam as barreiras geracionais e atingem diretamente aos descendentes dos perseguidos. Experiência que, se bem compreendida, sempre fortalece.

Justamente em razão da deposição inconstitucional de um Presidente da República, sou portador de três nacionalidades (Uruguaio, Inglês e Brasileiro), tendo sido registrado em consulado brasileiro, na Inglaterra. Quis o destino – e o Estado de Exceção Militar-ditatorial, que em minha identidade conste, Naturalidade: Londres. Nacionalidade: Brasileiro. Em suma, nascido no exílio e brasileiro nato, de acordo à Constituição Federal.

Eis algumas fortes razões que me ligam diretamente a um intenso legado, de lutas sociais. Hoje, vivendo em tempos onde origens e tradições políticas nem sempre são atrativos, posso afirmar com muita clareza que me honra ter uma causa. Vou além: penso que a maioria dos homens públicos de hoje não tem causa nenhuma. Obviamente jamais estarei à altura de representar uma figura tão expressiva da nação brasileira, porém, de outra sorte, não fujo da responsabilidade de minimamente reproduzir a obra de meu avô.

Analisando essa história sob ótica pessoal e pública, alguns números me chamam a atenção. A trajetória política de Jango, entre a sua eleição de Deputado Estadual em 1947 até a deposição da presidência em 1964 compreende apenas 17 anos de vida pública. Este curto período foi suficiente para marcar perante a história brasileira o seu nome como o chefe de executivo que mais se empenhou em reformar profundamente o estado brasileiro, que já na década de 60 não mais correspondia às expectativas da população.

Falar em João Goulart é refletir sobre as reformas da sociedade brasileira. Nas palavras do próprio Presidente, no famoso comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964: “não apenas pela reforma agrária, mas pela reforma tributária, pela reforma eleitoral ampla, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os brasileiros, pela pureza da vida democrática, pela emancipação econômica, pela justiça social e pelo progresso do Brasil”.

Durante seu curto mandato presidencial, Jango compreendeu que os contrastes mais agudos que a sociedade brasileira apresentava, naquela fase de desenvolvimento, eram de natureza estrutural, e, em virtude deles, a imensa maioria de nossa população vinha sendo sacrificada. Nosso povo sofria em função da injusta e desigual distribuição de renda, no referente à sua participação na vida política do país e na falta de oportunidades de trabalho e de educação que o país oferecia. Como se percebe, esta luta continua viva e segue valendo o sacrifício diário de mantê-la erguida. Consta que Getúlio Vargas, inspirador de Jango na política, certa feita teria dito que “quem não tiver confiança nos nossos destinos é indigno do legado que recebeu”.

Reafirmo nesta data de 40 anos de morte de meu avô o compromisso com a importância de seguir lutando por uma Nação independente e soberana, sem dobrar-se aos desmandos do rentismo especulativo de qualquer ordem. Aponto para a necessidade de explorar um humanismo que lhe era característico, que se perde hoje gradativamente para o individualismo da sociedade de consumo. Por fim, passados 40 anos da morte de um grande homem público é válido lembrar que como nunca, precisamos de seu exemplo para consolidarmos uma realidade calcada em justiça social.

 

Christopher Goulart

Advogado, primeiro suplente de Senador



Fonte: https://luizmuller.com/2016/12/05/meu-avo-jango-por-christopher-goulart/

Novidades