Quando Lula saiu vitorioso das eleições de 2022, o senso comum tomou conta de nós do Partido dos Trabalhadores (PT) e de parte da chamada esquerda (algo indecifrável no Brasil). Dava-se ao futuro uma cancha reta para qualquer páreo. Ledo engano. A política não tolera ingenuidade.
Veio então o 8 de janeiro golpista, e mesmo assim há quem ainda tenha a crença de que a eleição de 2024 iria materializar essa disputa em cancha reta.
Mas vou me ater às coisas da província e afirmo: nada terá a graça de versos rimados e chistes. Em se tratando de Porto Alegre, os 16 anos de administração popular não estão corroídos, mas sofrem sim alguns cortes de foices.
O Orçamento Participativo, que muitos ainda teimam em louvar se tornou uma “farsa”, foi enfraquecido e esvaziado pelos últimos governos locais e seguir com a mesma lógica e o mesmo discurso de que toda a política local deve ser feita passando por ele, é ilusão.
A participação popular é, sim, necessária para fazer uma administração franca, próxima da realidade das pessoas, mas ele foi enfraquecido como ferramenta de participação e precisa ser reformulado, atendendo as expectativas das mais diversas comunidades e realidades, que, desde os anos da administração popular, mudaram muito.
As emendas impositivas, repassadas pelos vereadores às entidades sociais e direcionados ao orçamento do município, se estabeleceram em 2019 contra meu voto. Agora, o perigo é nós da esquerda cairmos nesta nova armadilha, sendo ingênuos e nos acomodando em nossos gabinetes, nos tornando apenas receptores de demandas de quem não conhece a cidade e suas reais necessidades. Ou seja, esvaziar o OP e nos colocar diante da tentação do resultado fácil da indicação de emendas, pode ser novamente a armadilha que os últimos governos preparam para nós.
O PT decidiu pela candidatura da valorosa militante Maria do Rosário. Teve seu rito de escolha. Não deve ter agradado a todos. Mas afirmo que estou na primeira fila desta trilha, pois sei dos obstáculos. A campanha de 2024 será um sobe e desce de montanhas, e vai nos obrigar a não nos iludir com o discurso de que o OP será a solução para nossa política e a saída para nossa volta ao Paço. Teremos que enfrentar Fake News, enfrentar novos preconceitos, o ódio e o discurso que nosso jeito de fazer política e administrar é o mesmo de décadas atrás.
No último sábado estive na festa de aniversário de nossa candidata, no tempo que ali fiquei pude trocar ideias com companheiros e companheiras sobre temas indispensáveis sobre a cidade para preparar nossa campanha. Com o Raul Pont falamos do Plano Diretor e com outros militantes sobre temas diversos da cidade, uma capital para as pessoas de todas as idades, inclusiva, educativa. Uma cidade para as pessoas idosas.
Senti-me em casa com encontros com a velha guarda. Precisamos buscar os mais jovens, com aquele pulsar no peito dos anos de nossa formação. Para tal penso em propor ações concretas no GTE – grupo de trabalho eleitoral – o qual vou frequentar como militante independente e sem tendência, fazendo mil e uma escutas para contribuir de fato.
Tenho convicção na luta política do PT para aglutinar não só a esquerda, mas ir além dela, formando o maior bloco democrático para derrotar o status quo de rendição ao capital imobiliário e ao atraso.
Adeli Sell, vereador
