Do artigo Dialética da Guerra, de Tarso Genro, extraio os parágrafos a seguir, que mostram a necessidade de um mudança profunda, senão uma revolução, no processo de Formação dos cidadãos e trabalhadores em tempos de Revolução Tecnológica.
Se por um lado o artigo é focado na sociedade como um todo, o meu intuito ao publicar este extrato aqui, é contribuir para um necessário avançar na Formação de Militantes do Partido dos Trabalhadores.
A Classe Trabalhadora já sofreu mudanças profundas com a Revolução Tecnológica e na ausência de uma Nova Formação adequada a Revolução em andamento, fica sujeita a anárquica e ultra individualista “auto formação” do empreendedorismo, difundida e supervalorizadas pelas mesmas novas tecnologias frutos da mesma Revolução.
Segue o Extrato do Artigo:
“As grandes questões geopolíticas de hoje, quanto as suas opções políticas, todavia, só podem ser compreendidas objetivamente a partir dos pontos focais dos interesses nacionais, que são designados por decisão soberana e que, necessariamente, se chocam com as decisões dos países mais débeis. Os ciclos de desenvolvimento da modernidade, que até os anos 1960 avançavam como somas de relações aritméticas com negociações entre blocos, foram surpreendidos – no fim dos anos oitenta – por uma justaposição de crescimentos geométricos, em fluxos informacionais amparados por novas formas técnicas de comunicação e novíssimas tecnologias de destruição, em crescimento vertiginoso.
O ponto de partida metodológico para a crítica da barbárie atual, portanto, para prospectarmos um novo tipo de crise do progresso, não pode esperar a sua normal absorção pelo “pulmão do sistema”, pois é provável que estejamos num definhamento respiratório. E este transformou a socialdemocracia – último exemplo da civilidade capitalista – apenas “em um ajuntamento demográfico através do qual se subestima, (…) o papel da dominância global por trás da encruzilhada da luta pelo desenvolvimento (como progresso social) em nosso tempo”.[ix]
A elite dos romances de cavalaria é o próprio cavaleiro andante, épico ou irônico (como Dom Quixote), embora na geopolítica global essa elite se refugie nas medidas definidas pela Carta das Nações Unidas, pela qual os países hegemônicos criariam sua própria “cavalaria”. Esta apareceu como “direito público universal”, que organizou o capitalismo do século passado, deu ordem à apropriação dos recursos naturais e humanos, através de ações bélicas e jurídicas que se “transformaram em mais investimentos, mais empregos, mais lucros, mais capital e mais impostos, para assegurar políticas públicas. Era um sistema injusto, mas produtivo”,[x] cujos momentos cíclicos iniciaram a partir da Primeira Guerra Mundial.
A atual configuração do progresso, todavia, permitiu que o “capitalismo e o capital mudassem sua estrutura orgânica a partir do final da Segunda Guerra. Em 1967 Guy Debord, no seu clássico A sociedade do espetáculo já apontava: “O espetáculo é o capital em tal grau de acumulação que se torna imagem”, (…) pois não há, portanto, uma descontinuidade entre a tirania da mercadoria sobre o sujeito e a tirania da imagem (…), ao contrário: a imagem é o prolongamento exponenciado do predomínio da mercadoria sobre a vida social”,[xi] ora garantido pelas armas, ora pelo controle da subjetividade pública manipulada pelo mercado.
Manuel Castells, numa conferência em Lisboa (05.12.15), disse estarmos na “época em que as informações e diálogos, lutas e acordos em rede, tornaram envelhecidos os mecanismos tradicionais de disputa política da democracia moderna”.[xii]
Esta se tornou uma perversa difusão de delitos miscigenados com manifestações legítimas de opinião, dentro de uma nova ordem, em que uma “cavalaria” – real e virtual – promove a barbárie, cujo suporte é a inteligência tecnocrática erguida à condição de ciência e apropriada pelos estados nacionais que dominam uma nova “ordem”. O genocídio do povo palestino é uma cruel demonstração da eficácia desta nova “cavalaria”, que não traz mais esperanças e só difunde a morte e o medo.
Para uma mudança estrutural na formação de uma cidadania ativa, neste novo contexto, é preciso um sistema educacional renovado que revise e enfrente dois desafios: alfabetizar numa nova linguagem e letrar com novas tecnologias, que são necessidades oriundas do fato de que a linguagemde hoje não é mais a mesma.[xiii] Os processos comunicativos de interação social mudaram e as mudanças, no modo de vida da sociedade industrial, envelheceram na anarquia da globalização. A política democrática, mesmo a de caráter emancipatório, será insuficiente para mudar o sentido trágico da história se não estiver lastreada por novos processos e sistemas educacionais.
As formas que vêm moldando as relações entre as novas tecnologias e os processos sociais mudam, em cada final de tempos curtos, e elas se modificam em ritmos diferentes; as novas tecnologias, em ritmos alucinantes, para incidir no mundo da vida; e as incidências sobre os processos sociais e políticos, em ritmos lentos e exasperantes.
Assim, as fontes de legitimidade da democracia liberal estão quase no seu ponto terminal e elas só poderão ser reinventadas com mais democracia, não com menos democracia, ponto nevrálgico, portanto, de uma nova educação, voltada para reinventar tanto o socialismo como o republicanismo democrático.
Neste novo contexto é que cobra atualidade uma outra teoria da escola, para adequar a nova escala de necessidades da socialização da técnica, da ciência e da filosofia do trabalho, ao período atual da modernidade. Penso que se trata, não de multiplicar ou hierarquizar os tipos de escola profissional, mas de criar um “tipo único de escola preparatória (primária-média) que conduza o jovem até os umbrais da escolha profissional, formando os alunos – durante este meio tempo – como pessoas capazes de pensar, de estudar, de dirigir como técnicos, gestores e políticos, ou (mesmo) de controlar quem dirige(…)”.[xiv]
“Não há nenhuma atividade humana da qual se possa excluir qualquer intervenção intelectual: o Homo Faber (“empregado” – ou não – acresento) não pode jamais ser separado do Homo Sapiens, pois separá-los é reabrir espaços para o fascismo prosperar. Além disso, fora do trabalho, todo homem desenvolve alguma atividade intelectual. Ele é, em outras palavras, um “filósofo”, um artista, um homem com sensibilidade; ele partilha uma concepção do mundo, tem uma linha consciente (mesmo alienada) de conduta moral, e, portanto, pode contribuir para manter ou mudar a concepção do mundo, isto é, para estimular novas formas de pensamento”[xv].
Para fazermos todos os dias na vida comum, conscientemente, novas lutas contra velhas guerras!”