
Plá é o artista que faz das ruas o seu palco de público em trânsito
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Rafael Antunes
-Alô, Plá?, você vem na Boca Maldita hoje?
- Vou sim, estou saindo de casa. Chego em vinte minutos.
Desligo o telefone e aguardo.
Durante este tempo, o calçadão da rua XV de Novembro segue sua rotina no início de tarde de uma quarta-feira qualquer. O bondinho eternamente estacionado serve para lembranças fotográficas de turistas; estudantes e trabalhadores a bordo de telefones celulares, sempre com tanta pressa, contrastam com amigos aposentados que conversam sobre outros tempos.
A Boca Maldita é local de trabalho para tarólogos, caricaturistas, pintores de cerâmicas; panfleteiros distribuem propagandas que vão parar no lixo antes mesmo de serem lidas.
Um tempo depois, não muito mais que vinte minutos, rompendo a multidão do calçadão, surge a figura de bicicleta, barba e cabelos brancos ao vento, trazendo às costas o inseparável violão.
É ele: Ademir Antunes, nome conhecido e utilizado por poucos. Para nós, nas ruas, é Plá, o artista de rua mais popular da região das araucárias.
A origem do nome artístico é praticamente mitológica: “Plá é algo que está no cosmos. Que toca e eleva”, ele explica.
Plá faz das ruas o seu palco desde 1984, quando começou a gravar suas apresentações na Boca Maldita. Eram registros ao vivo, em fitas cassetes (lembra?), elaboradas e comercializadas ali mesmo.
De lá para cá são mais de 700 músicas gravadas, 52 álbuns (com o 53º já em edição), e 11 livros de poemas e pensamentos desse artista cotidiano.
O ritual das apresentações públicas é sempre o mesmo. Estaciona a Ventosa Esbelta (a bicicleta) e descarrega a bagagem que carrega por todos os lados. O violão, os pergaminhos, os livros, os CDs, todos compostos pelo próprio Plá. Inclusive o Calendário Plático, que trás uma mensagem de reflexão para cada dia do mês. Um misto de artista e mensageiro.
Materiais espalhados pelo chão, o palco está pronto. Um gole no chá de gengibre (para preparar a voz), violão em punhos, a música começa.
O fluxo de pessoas é contínuo, para lá e para cá. Uma massa uniforme que parece absorver as individualidades dos que passam.
Dedilhando e cantando, o músico crava os olhos no público, elegendo alguém, individualmente, e transmite suas mensagens: “As borboletas deixaram de serem lagartas e foram para a imensidão”. É por aí.
Alguns correspondem, olham de canto, sinalizam com algum cumprimento, outros não hesitam e param a contemplar uma amostra da apresentação. Há quem não resista e se ajoelhe a escrever alguma mensagem no pano branco sempre presente nas apresentações. É com este material que o artista confecciona as roupas para o dia a dia. Logo o grupo se forma ao redor de uma das vozes mais conhecidas das ruas de Curitiba.
Seja na Boca Maldita, no Largo da Ordem, festivais pelo país ou manifestações populares, ele está sempre lá, a bordo da Ventosa Esbelta, com suas ideias e melodias.
São rituais e cotidianos que acompanham Plá há quase 30 anos, desde que guardou seu diploma de Licenciatura Plena em Música no armário e decidiu vir às ruas e fazer sua própria arte. Há quem questione sobre o retorno financeiro de seu trabalho. Mas para essa pergunta, a resposta é simples e abrangente: “Eu não vivo disso. Eu vivo isso”.
São rituais e cotidianos que acompanham Plá há quase 30 anos, desde que guardou seu diploma de Licenciatura Plena em Música no armário e decidiu vir às ruas e fazer sua própria arte. Há quem questione sobre o retorno financeiro de seu trabalho. Mas para essa pergunta, a resposta é simples e abrangente: “Eu não vivo disso. Eu vivo isso”.
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Confira abaixo um trecho de uma apresentação do Plá no Calçadão da XV:
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