Menino brinca com pneu em frente a edifícios destruídos por ataques aéreos em Sanaa, no Iêmen. Foto: Giles Clarke/OCHA
A conferência para angariar fundos para o Iêmen, realizada em Genebra, na Suíça, recebeu na quarta-feira (25) a promessa de financiamento de 1,1 bilhão de dólares para a ajuda humanitária no país.
Em fevereiro deste ano, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) e parceiros lançaram um apelo de 2,1 bilhões de dólares para o plano de resposta humanitária de 2017. No entanto, a ONU só recebeu 15% desse total, representando um déficit de 1,8 bilhão de dólares.
“Estamos observando a fome e a paralisação de toda uma geração. Precisamos agir agora para salvar vidas”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, durante o encontro.
Ele observou que a “crise provocada pelo homem” devastou a economia de um país que já era “lamentavelmente pobre” antes do conflito atual, e forçou 3 milhões de pessoas a fugir de suas casas, deixando muitos incapazes de ganhar a vida.
“Cerca de 17 milhões estão em insegurança alimentar, tornando esta a maior crise de fome do mundo”, disse Guterres, destacando uma situação agravada por restrições à importação e pela destruição de instalações portuárias.
Chamando atenção especial para as crianças em risco no Iêmen, o secretário-geral da ONU disse que, em média, uma criança com menos de 5 anos morre de causas evitáveis a 10 minutos no país.
“Isso significa que cinquenta crianças no Iêmen vão morrer durante a conferência de hoje — e todas essas mortes poderiam ter sido evitadas”, frisou.
De acordo com o OCHA, as promessas de fundos foram feitas por 48 Estados-membros, pela Comissão Europeia, pelo Fundo Central das Nações Unidas de Resposta à Emergência (CERF) e por quatro ONGs humanitárias no Iêmen.
“Agora, precisamos ver as promessas traduzidas em ação, pois os iemenitas precisam e merecem”, concluiu Guterres.
Segundo o secretário-geral, o próximo desafio é pôr fim às restrições ao acesso humanitário em todo o Iêmen.
Guterres pediu às partes em conflito que respeitem o direito internacional humanitário e apelou pelo fim dos obstáculos que impedem os atores humanitários de socorrer os necessitados.
“O acesso é a chave para o sucesso desta conferência de promessas”, disse ele, ressaltando a importância de recursos e infraestrutura necessária para operar em condições adequadas.
“As Nações Unidas e os parceiros humanitários estão prontos para fazer mais, desde que haja recursos e acesso”, acrescentou o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Stephen O’Brien.
Os altos funcionários da ONU ainda pediram a cessação das hostilidades e um acordo político, com conversações facilitadas pelo enviado especial do secretário-geral, Ismail Ould Cheikh Ahmed.
Segundo dados da ONU, dois anos de conflito no Iêmen destruíram a infraestrutura do país. Foram verificados cerca de 325 ataques em estabelecimentos de saúde, escolas, mercados e outros estabelecimentos.
“À medida que a violência aumentava, a capacidade de ajudar os necessitados era dificultada. A interrupção dos serviços de saúde tem sido severa”, disse a diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan.
Segundo Chan, menos da metade das unidades de saúde do país está funcionando e a maioria dos prestadores de serviços médicos não foram pagos desde pelo menos agosto de 2016.
Ela alertou também que as infecções podem aumentar à medida que a população com fome cresça.
“Grandes faixas da população estão à beira da fome. Entre fome e a morte por inanição está a doença. Infecções se tornam mortíferas em pessoas gravemente desnutridas”, continuou.
Assistência aos agricultores é fundamental
O diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, observou que a ajuda agrícola, juntamente com a ajuda alimentar, é a única forma de evitar a fome no país.
“A assistência agrícola em uma crise humanitária não pode mais ser uma reflexão tardia”, disse. “Precisamos aproveitar todas as oportunidades para apoiar as comunidades no Iêmen a continuar produzindo alimentos, mesmo em circunstâncias difíceis”.
Ele sublinhou que o apoio aos meios de subsistência, especialmente à agricultura e à pesca, deve ser parte integrante da resposta da comunidade internacional à crise no país.