O evento deixou clara a importância da participação de todos os atores envolvidos para que as medidas anticorrupção sejam frutíferas. Foto: Fellipe Abreu/Rede Brasil do Pacto Global
No último dia 13 de junho, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) sediou em São Paulo um workshop para debater boas práticas e aprendizados em ações coletivas de combate à corrupção, realizado pela Rede Brasil do Pacto Global.
Parte do projeto “Ações coletivas de combate à corrupção no setor privado” – cujo primeiro encontro foi em março –, o evento deu início às conversas para a formação de parcerias e contou com presença maciça do setor privado.
“Nós trabalhamos sempre com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [ODS] da ONU e há uma meta específica, a 16.5, que fala em reduzir substancialmente a corrupção e o suborno em todas as suas formas”, lembrou Vanessa Tarantini, assessora de Direitos Humanos e Anticorrupção da Rede Brasil do Pacto Global, na abertura do evento.
A superintendente da Área de Controladoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Vania Maria da Costa Borgerth, explicou quais são as exigências do órgão para financiamentos, principalmente para assegurar que tudo será feito de acordo com a lei.
“Temos uma consciência muito grande de que trabalhamos com dinheiro público e temos a obrigação de sermos, na medida do possível, transparentes”, afirmou. Segundo ela, por conta da operação Lava-Jato, em maio de 2016, os empréstimos a 25 empresas investigadas foram interrompidos.
Vania explicou como funciona a complexa estrutura do BNDES. Para operações indiretas, o banco deve seguir todas as exigências do órgão antes de aprovar o financiamento. Já em operações diretas, os trâmites são ainda mais minuciosos, passando por especialistas de cada setor da economia, além de uma equipe técnica multidisciplinar, superintendentes e chefes de departamentos, até o relatório chegar à avaliação da diretoria, que tem a palavra final sobre os processos.
“Pode parecer burocrático para o meio externo, mas nos dá tranquilidade de saber que seria muito difícil alguém conseguir burlar todo o esquema de segurança”, disse.
Ela ainda foi bastante questionada sobre o sigilo bancário da instituição, e principalmente se os cidadãos não teriam direito de saber se seu dinheiro está sendo investido em empresas envolvidas em escândalos recentes. Ao responder, lembrou que o BNDES ainda é um banco e não pode divulgar o saldo devedor dos clientes. “Estamos abertos a mudanças da lei, mas enquanto isso não ocorre nós precisamos seguir o que está determinado”, finalizou.
Representante da própria FGV, a professora Ligia Maura Costa, titular da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, apresentou uma pesquisa inédita que realizou para o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).
O objetivo era descobrir o que é ensinado no mundo sobre corrupção, crime organizado, tráfico de seres humanos, armas de fogo, crimes cibernéticos, terrorismo, justiça criminal e ética e integridade. Para isso, ela contatou 612 acadêmicos de instituições internacionais, cobrindo cerca de 700 programas.
O estudo levantou algumas questões importantes. Primeiro, sobre a barreira do idioma. Metade dos cursos que incentivam o combate à corrupção é dada em inglês. Para a docente, facilitaria o acesso à informação se a aula fosse na língua de cada país. Ligia também destacou o grande número de cursos a distância, o que evidencia o uso de métodos inovadores e ajuda na absorção do conhecimento, com a proposta de jogos interativos e tarefas práticas.
É preciso ainda, afirma, capacitar mais professores e, nesse ponto, as empresas têm grande participação, treinando funcionários para falar sobre o assunto. “Como posso esperar que um país brigue contra a corrupção se não se investiu antes em educação sobre o tema?”, desafiou.
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