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‘Empoderamento nos permitiu modificar nossa realidade violenta’, diz travesti brasileira na ONU

14 de Agosto de 2017, 16:28 , por ONU Brasil - | No one following this article yet.
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Taya Carneiro foi à sede da ONU falar sobre desafios e conquistas da população trans no Brasil. Foto: Arquivo pessoal

Taya Carneiro foi à sede da ONU falar sobre desafios e conquistas da população trans no Brasil. Foto: Arquivo pessoal

Taya Carneiro tem 24 anos e é formada em Comunicação Organizacional pela Universidade de Brasília (UnB), instituição na qual atualmente cursa mestrado. Travesti, ela ajudou a criar dois coletivos que promovem a busca por direitos e a não discriminação. Ativa apoiadora da Livres & Iguais, a campanha da ONU pela igualdade de direitos da população LGBTI, Taya foi a jovem brasileira convidada para participar do evento oficial das Nações Unidas para o Dia Internacional da Juventude, realizado na sexta-feira (11) na sede do organismo internacional em Nova Iorque.

A juventude trans na linha de frente do enfrentamento à violência e à discriminação

Falando no painel “Construção da paz e prevenção da violência”, Taya afirmou que o trabalho que ela realiza está relacionado à sua história de vida. Oriunda de uma periferia de Brasília, ela conta que, desde criança, já enfrentava violência e pensava que o único modo de escapar a essa situação era mudar de país: “eu sonhava em vir para os Estados Unidos, como eu via nos filmes. Eu pensava: lá eu vou estar segura”.

No entanto, quando ela cresceu e teve suas primeiras experiências com o ativismo e com programas de promoção de jovens lideranças, acabou trocando a ideia de fuga pela de resistência. Taya descobriu que tinha a capacidade de ocupar espaços estratégicos de tomada de decisão, a fim de mudar a realidade violenta em que vivia.

Com as novas possibilidades, porém, ela também percebeu que esses espaços frequentemente são inacessíveis para a maior parte dos jovens, especialmente aqueles pertencentes a grupos mais discriminados. “Foi por isso que eu e outros colegas iniciamos nossos próprios projetos de empoderamento dessa juventude que é esquecida pelas políticas públicas e muito vulnerável à violência.”

Nós concentramos a maior quantidade de homicídios LGBTIfóbicos
no mundo. Isso faz mulheres transexuais e travestis,
como eu, terem uma expectativa de vida de 33 anos,
enquanto a média da sociedade é de 70 anos.

Taya fez parte da Corpolítica, um projeto interseccional que promove o empoderamento de mulheres, afrodescendentes, pessoas LGBTI e pessoas vivendo nas periferias urbanas do Distrito Federal. Inspirada na metodologia da educação popular, a Corpolítica permite que todos os seus integrantes sejam simultaneamente alunos e professores, aprendendo uns com os outros e combinando conhecimentos tradicionais sobre política e direito às suas próprias vivências.

Já com a experiência adquirida na Corpolítica, Taya ajudou a fundar a ULTRA – União Libertária de Travestis e Mulheres Transexuais, um grupo que tem o mesmo objetivo de promover o empoderamento de jovens mulheres trans. “Os resultados foram maravilhosos. As integrantes da ULTRA se tornaram referências e começaram a ser convidadas para palestras em escolas e universidades públicas e privadas e, na mídia, ensinando pessoas como prevenir a violência e a discriminação”, explica a brasileira.

A ULTRA atua ao lado de diversas organizações para promover a igualdade de direitos da população trans e contribuir para mudar a cultura de violência contra as travestis e homens e mulheres transexuais. De acordo com Taya, “o empoderamento nos permitiu agir para modificar nossa realidade violenta”.

Material da campanha 'Sobre Viver Trans', iniciativa lançada no Dia da Visibilidade Trans pela Livres & Iguais. Imagem: ONU/Livres & Iguais

Material da campanha ‘Sobre Viver Trans’, iniciativa lançada no Dia da Visibilidade Trans pela Livres & Iguais. Imagem: ONU/Livres & Iguais

No evento em Nova Iorque, Taya compartilhou com o mundo os elevados índices de mortalidade de jovens no Brasil. “Quando eu digo ‘juventude’, não estou afirmando que se trata de um grupo homogêneo, pois somos tão diversos quanto a população brasileira, e alguns grupos são muito mais vulneráveis à violência”, alerta.

O Mapa da Violência de 2016 aponta que os números de assassinatos de crianças e adolescentes negros são 178% maiores que de brancos. Do conjunto da população na faixa etária até os 17 anos, em 2013, a taxa de homicídios de brancos foi de 4,7 por 100 mil habitantes e de negros 13,1 por 100 mil.

Taya também falou sobre as taxas de feminicídio, de violência contra mulheres transexuais e travestis e contra a juventude LGBTI como um todo. “A juventude LGBTI também é muito vulnerável à violência no Brasil, já que nós concentramos a maior quantidade de homicídios LGBTIfóbicos no mundo. Isso faz mulheres transexuais e travestis, como eu, terem uma expectativa de vida de 33 anos, enquanto a média da sociedade é de 70 anos.”

O dossiê preparado pela RedeTrans Brasil reportou que, no ano de 2016, 144 pessoas trans foram assassinadas no país, que ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de assassinatos transfóbicos.

“A maior parte de nós sequer consegue se tornar adultos e, apesar de apresentarmos esses índices, a discriminação, como uma causa da violência, é frequentemente negligenciada nas agendas de segurança do meu país e do mundo inteiro, especialmente quando falamos sobre LGBTI-fobia”, criticou Taya.

Para a ativista, isso é motivo suficiente para que a juventude trans esteja na linha de frente do enfrentamento à violência e à discriminação. “Nós estamos sofrendo com a violência e com o extremismo violento no Brasil e estamos enfrentando isso para sobreviver. Isso significa que nós construímos a paz e que deveríamos ser colocados no centro dos esforços de prevenção de violência no nosso país. Infelizmente ainda não estamos lá.”

Os jovens podem liderar e inspirar, e é isso que Taya Carneiro faz, enquanto colaboradora de coletivos que visam combater diversas formas de discriminação e apoiadora ativa da Livres & Iguais. Em janeiro de 2017, a jovem foi um dos rostos a ilustrar uma campanha da iniciativa no Brasil, a “Sobre Viver Trans”, lançada no Dia da Visibilidade Trans, lembrado em 29 de janeiro.

O Dia Internacional da Juventude

As discussões dessa edição do Dia Internacional buscaram promover a juventude como um importante ator para a prevenção da violência e a construção de um mundo pacífico.

O tema escolhido para este ano foi “Juventude Construindo a Paz”, em seguimento à Resolução nº 2250 adotada unanimemente pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas em 2015. A diretiva ressaltava o papel da juventude nos processos de estabelecimento da paz e de combate ao ódio e ao extremismo. A decisão convocou todos os Estados-membros da ONU a aumentar a representatividade e a garantir a participação dos jovens em processos decisórios nos âmbitos local, nacional, regional e internacional.

O Dia Internacional da Juventude é uma data criada pela Assembleia Geral da ONU, por meio da Resolução nº 54/120, aprovada em 17 de agosto de 1999. Desde então, 12 de agosto é observado globalmente como uma data para celebrar as diversas contribuições feitas pelos jovens à sociedade, mas também para lembrar os muitos desafios e obstáculos que ainda se colocam para as gerações mais novas de todo o mundo.

Dirigindo-se aos participantes e espectadores do evento, a enviada do secretário-geral da ONU para a Juventude, Jayathma Wickramanayake, destacou o importante papel dos jovens para a construção e a manutenção da paz e da segurança. Para ela, mais do que estatísticas, os jovens são líderes que mobilizam pessoas a nível local, construindo pontes entre comunidades e conduzindo toda a sociedade em direção à paz e à prosperidade.

Livres & Iguais

A Livres & Iguais é a campanha da Organização das Nações Unidas pela promoção da igualdade de direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, pessoas trans e intersex. Iniciativa inédita e global da ONU, ela reconhece que a orientação sexual e a identidade de gênero atuam como fatores que estruturam desigualdades sociais e impactam negativamente a fruição plena dos direitos humanos das pessoas LGBTI.

Implementada no Brasil desde 2014, a campanha possui parcerias com a Prefeitura de São Paulo e com o estado de Minas Gerais, e conta com Daniela e Malu Mercury como suas Campeãs da Igualdade.

Saiba mais sobre a campanha aqui: https://nacoesunidas.org/campanha/livreseiguais/ e www.unfe.org/pt.


Fonte: https://nacoesunidas.org/empoderamento-nos-permitiu-modificar-nossa-realidade-violenta-diz-travesti-brasileira-na-onu/

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