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‘Nos sentimos incluídos’, diz pai gay que recebeu carta do papa Francisco

22 de Agosto de 2017, 16:22 , por ONU Brasil - | No one following this article yet.
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Foi uma peregrinação para que Toni Reis e seu marido, o britânico David Harrad, encontrassem uma igreja que batizasse seus filhos. Tentaram quatro paróquias de Curitiba (PR), onde moram, e ouviram respostas negativas em todas as ocasiões.

Recorreram, então, ao arcebispo da cidade, que finalmente autorizou a cerimônia. Em abril deste ano, Alyson, de 16 anos, Jéssica, de 14, e Felipe, de 12, foram batizados na Catedral Metropolitana de Curitiba.

“Não foi apenas um batizado, foi um fato histórico”, contou Reis em entrevista por telefone ao Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil (UNIC-Rio).

Como forma de agradecimento, Reis enviou uma carta ao Vaticano, contando a experiência ao Pontífice. Não esperava resposta, mas, surpreendentemente, uma correspondência papal chegou à casa da família em julho deste ano.

“O Santo Padre viu com apreço a sua carta, com a qual lhe exprimia sentimentos de estima e veneração e formulava votos pelos bons frutos espirituais de Seu ministério de Pastor da Igreja Universal”, disse o texto assinado por Paolo Borgia, assessor para assuntos gerais do Pontífice.

A carta teve um forte significado para a família. “Como católico, respeito muito o Papa. E agora nos sentimos incluídos pela igreja”, declarou Reis, que é católico desde criança, enquanto Harrad é anglicano.

Mais surpreso ainda ficou o filho caçula, Felipe. Fã de futebol, ele achava que nunca gostaria de um argentino. Jéssica, a roqueira da família, afirmou convicta: “o Papa é pop”. Já Alyson, o mais velho, declarou-se honrado: “estou muito feliz que agora somos reconhecidos como uma família pela religião que acreditamos”.

Na linha de frente pelos direitos LGBTI

Em 2011, um cartório do bairro Uberaba, em Curitiba, oficializou o relacionamento de Toni Reis e David Harrad, tornando-se um dos primeiros do Brasil a registrar a união de um casal homossexual após reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da “união estável” de casais do mesmo sexo. E isso nem foi o primeiro feito histórico do casal.

Em 2005, com base em um pedido feito por eles, o Conselho Nacional de Imigração havia concedido pela primeira vez a um estrangeiro o direito de permanecer no país por ter uma união com um brasileiro do mesmo sexo. Além disso, há pouco mais de três anos, eles também foram os primeiros homossexuais a adotar um filho, Alyson, após uma decisão do STF — processo que demorou sete anos. Posteriormente, adotaram os irmãos biológicos Jéssica e Filipe.

Escrever igual ao pai

Em 2012, quando chegou a Curitiba, Alyson não gostava muito de ler. Tinha 11 anos e já havia passado por sete abrigos na cidade onde nasceu, Rio de Janeiro. No início, foi difícil se acostumar com a nova casa. “Eu era muito bagunceiro”, contou. Não imaginava que, aos 13 anos, publicaria um livro inspirado em sua vida.

“Eu disse ao meu pai: quero escrever, igual a você”, lembrou. Toni Reis é licenciado em Letras e Pedagogia.

O livro “Jamily, a holandesa negra: a história de uma adoção homoafetiva” (Editora Appris) conta a trajetória de uma menina etíope que passa a viver com uma família homoafetiva na Holanda. “Através da Jamily, procurei contar a minha história de superação”, disse Alyson.

Para o segundo livro, “Kayke, o menino transformado”, o jovem autor afirmou ter colocado seu sofrimento no papel. A obra retrata a vida de um garoto adotado por um casal de lésbicas que se torna poliglota e trabalha em uma empresa de telefonia.

Mesmo após a adoção, Alyson e seus irmãos tiveram de enfrentar dificuldades, como o preconceito na escola. “As outras crianças perguntavam ‘cadê a sua mãe?’ o tempo todo, para provocar. Eu não sabia como responder”, contou Alyson.

Hoje, a convivência com os colegas melhorou. Para o menino, cada conquista, como a carta enviada pela Santa Sé, fortalece o reconhecimento de sua família perante a sociedade. “Em tempos de tanto fundamentalismo religioso, fico muito feliz que a minha família seja reconhecida pelo papa Francisco. É uma honra”, declarou.

Presidida por Toni Reis, a Aliança Nacional LGBTI é parceira da campanha Livres & Iguais, das Nações Unidas, para a promoção dos direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais. Juntas, elas possibilitam ações que visam a conscientizar a sociedade, combater a intolerância e implementar políticas públicas de inclusão e proteção dessa população.


Fonte: https://nacoesunidas.org/nos-sentimos-incluidos-diz-pai-gay-que-recebeu-carta-do-papa-francisco/

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