Secretário-geral da ONU pede apoio e solidariedade para número recorde de pessoas deslocadas

Depois de três dias na estrada, refugiados sul-sudaneses chegam ao recém-construído campo de Gure Shembola, na Etiópia. Foto: ACNUR/Diana Diaz

Com um recorde de 65,6 milhões de pessoas no ano passado forçadas a deixar suas casas por conta da violência e da perseguição, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu nesta terça-feira (20) à comunidade internacional que ofereça apoio e solidariedade.

“Refletimos sobre a coragem daqueles que fugiram e a compaixão daqueles que os recebem”, disse o secretário-geral em sua mensagem de vídeo para o Dia Mundial do Refugiado, marcado anualmente em 20 de junho.

Ele observou que, atualmente, mais pessoas do que nunca antes estão fugindo de guerra, desastres e perseguições.

“Dificuldades, separação, morte”, disse Guterres, lembrando verdadeiras histórias de pesadelo ouvidas por refugiados e pessoas deslocadas, cujo número aumentou em cerca de 300 mil desde o final de 2015.

Os conflitos deslocaram 12 milhões de sírios, 7,7 milhões de colombianos, 4,7 milhões de afegãos e 4,2 milhões de iraquianos, de acordo com um relatório divulgado no dia anterior pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

Apesar das dificuldades de fugir sem poder levar nada, “eles nunca perdem seus sonhos para seus filhos ou seu desejo de melhorar nosso mundo”, disse Guterres. “Eles pedem pouco – apenas nosso apoio em seu tempo de maior necessidade e nossa solidariedade.”

O chefe da ONU disse que é “tão inspirador ver países com o mínimo fazendo o máximo para os refugiados”.

De acordo com o relatório, cerca de 84% das pessoas deslocadas à força estavam em países de baixa ou média renda. Desse número, uma em cada três pessoas refugiadas – cerca de 4,9 milhões – estavam em países menos desenvolvidos.

O alto-comissário das Nações Unidas para Refugiados, Filippo Grandi, disse que o Dia também é um momento para reconhecer as comunidades e pessoas em todo o mundo que recebem refugiados e deslocados internos, oferecendo-lhes um lugar seguro e os recebendo em suas sociedades.

“Vivemos hoje em um mundo de incertezas. A instabilidade econômica, convulsões políticas e a violência perto de nossas casas podem fazer com que queiramos fechar nossos olhos e nos blindar. Mas medo e exclusão não irão nos levar a um lugar melhor – eles trarão somente barreiras, alienação e desespero”, ressaltou Grandi.

“Está na hora de mudar essa trajetória para melhor”, disse o chefe do ACNUR. Em inúmeras comunidades em todo o mundo, lembrou Grandi – inclusive nos países mais pobres, que acolhem a grande maioria dos refugiados do mundo –, executivos, comunidades de fé, professores, jornalistas e muitos outros “estão se unindo para prover refúgio aos deslocados e promover a sua inclusão nas sociedades”.

“A inclusão requer abrir nossas mentes, corações e comunidades aos refugiados. Ela exige uma abordagem da sociedade como um todo – reunir estudantes, líderes empresariais, atletas, ativistas, líderes religiosos, políticos e artistas – para compartilhar esta responsabilidade. O acolhimento dos refugiados não deve ser feito à custa de ajuda a outros, mas sim ampliar a ajuda a todos aqueles que precisam”, acrescentou.

Principais dados de deslocamento forçado no mundo

65,6 milhões de pessoas deslocadas à força: 300 mil a mais do que em 2015.
Em todo o mundo, 1 em cada 113 pessoas está deslocada: juntas, formam uma população maior do que a da Grã-Bretanha (ou pouco menor do que a da Tailândia).
É alto o nível de deslocamentos: uma pessoa é deslocada a cada 3 segundos.
10,3 milhões de novos deslocamentos em 2016, sendo que 6,9 milhões se deslocaram dentro de seus próprios países.
22,5 milhões de refugiados: o maior número da história.
40,3 milhões de pessoas deslocadas internamente (dentro de seus países de origem): eram 40,8 milhões ao final de 2015. Síria, Iraque e Colômbia foram os países com as mais graves situações de deslocamento interno.
Crianças são a metade dos refugiados do mundo.
84% dos refugiados são acolhidos por países de renda baixa ou média.
Síria: 5,5 milhões de refugiados, a maior crise de refugiados do mundo. 5 milhões foram acolhidos por países vizinhos.
Sudão do Sul: é crise de deslocamento forçado que cresce mais rapidamente no mundo (1,4 milhão de refugiados e 1,9 milhão de deslocados internos). Aumento de 64% no segundo semestre de 2016.
2 milhões de novas solicitações de refúgio: Alemanha foi o país que mais recebeu solicitações de refúgio, seguida pelos Estados Unidos, Itália e Turquia.
37 países aceitaram 189,3 mil refugiados para reassentamento.
Aproximadamente meio milhão de refugiados e 6,5 milhões de deslocados internos voltaram para suas casas.
55% dos refugiados vêm da Síria, Afeganistão e Sudão do Sul.
75 mil solicitações de refúgio foram feitas por crianças que viajavam sozinhas ou separadas de seus pais.
Ao menos 10 milhões de pessoas não têm nacionalidade ou correm risco de apatridia.
Alemanha: o número de refugiados mais que dobrou, principalmente devido ao reconhecimento das solicitações de refúgio feitas em 2015. Uma em cada 20 solicitações foi feita por crianças desacompanhadas ou separadas.
O contínuo conflito ao leste da Ucrânia deslocou cerca de 1,8 milhão de ucranianos.
Mar Mediterrâneo: A rota do Norte da África para a Itália foi a mais utilizada para chegar à Europa. Foram registradas 181 mil novas chegadas à Itália.
Turquia: país que mais recebeu refugiados pelo terceiro ano consecutivo. Atualmente abriga 2,9 milhões de refugiados, sendo que 328 mil sírios receberam proteção temporária em 2016.