– Aconteceu esta semana, na segunda-feira (14), a cúpula União Europeia – China. Não fosse a pandemia, teria sido um grande evento em Leipzig, na Alemanha, com o primeiro encontro entre Xi Jinping e os 27 chefes de Estado do bloco europeu chefiados por Merkel. Mas foi uma videoconferência. Participaram, além de Xi e Merkel, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. O principal tema do encontro foi um acordo que vem sendo negociado há sete anos, o Acordo Abrangente de Investimentos EU-China (CAI). Ao contrário do que esperava Merkel, para seu período de presidência do bloco, o acordo não parece tão perto de ser assinado. Os países europeus têm jogado duro, alegando fechamento do mercado chinês para produtos europeus, falta de transparência no início do surto de coronavírus, nova lei de segurança nacional para Hong Kong e falta de clareza com relação aos direitos humanos dos uigures em Xinjiang. Uma pauta ocidental anti-China que vai se tornando cada vez mais evidente. Curiosamente o encontro ocorre duas semanas após uma visita de Mike Pompeo pela Europa, que foi considerada pelo jornal alemão Der Spiegel, como uma agenda “anti-China”. Nessa visita, Pompeo saiu recolhendo assinaturas e compromissos dos europeus para não adotarem o 5G da Huawei e banirem a empresa até 2028.
– O Secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, vem ao Brasil esta semana. De acordo com a divulgação oficial da visita, que inclui outros países da América do Sul, ele vem para “demonstrar o apoio dos EUA às democracias da região, tratar das respostas à pandemia do novo coronavírus e promover segurança regional”. A visita começa hoje (17) e termina no domingo (20), com um roteiro que inclui Paramaribo, no Suriname; Georgetown, na Guiana; Boa Vista, no Brasil e Bogotá, na Colômbia. A visita obviamente faz parte de um contexto pré-eleitoral e Pompeo vem tratar justamente de um dos temas preferidos de Trump, a desestabilização da Venezuela. Ocorre também às vésperas da Assembleia Geral da ONU, onde deverá ser tratado o relatório de um inquérito aberto pela organização contra supostos crimes de Maduro. Enquanto isso, a Venezuela também anunciou esta semana que um espião americano e sete colaboradores venezuelanos serão acusados de terrorismo após ataque a instalações petrolíferas no país na semana passada. Outro país que está achando no mínimo estranha a visita de Pompeo é a Guiana. Historicamente um dos países mais pobres da América do Sul, nunca havia recebido a visita de um secretário de Estado dos EUA. A visita ocorre agora que o país pode chegar a crescer economicamente 90% esse ano devido a recentes descobertas de petróleo.
– Reportagem do Valor de ontem (16) trouxe uma nota sobre uma carta que teria sido enviada pelos governos de oito países europeus ao vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão. Tema: desmatamento da Amazônia. Na carta se fala em “taxas alarmantes” e que estaria se tornando “cada vez mais difícil para empresas e investidores atender a seus critérios ambientais, sociais e de governança” ao fazerem negócios com o Brasil. Assinam a carta, a Alemanha, Dinamarca, França, Itália, Holanda, Noruega, Reino Unido e Bélgica. Dados publicados no portal G1, usando fontes do Ministério da Agricultura, dão conta de que esses países juntos importaram 6,77 bilhões de dólares em produtos agropecuários do Brasil entre janeiro e agosto deste ano, o equivalente a 9,7% de tudo que o Brasil exportou. Sete desses oito países, menos a Bélgica, fazem parte da Parceria das Declarações de Amsterdã, neste momento presidida pela Alemanha, e que tem nas suas resoluções a decisão de “eliminar o desmatamento das cadeias de produtos agrícolas vendidos para a Europa”. Alguns desses países, como França e Alemanha, são concorrentes do Brasil no mercado internacional de produtos agrícolas e se beneficiam da má imagem do Brasil no exterior. Nesse ambiente, o comemorado acordo Mercosul – União Europeia está se tornando cada vez mais inviável. Depois de recebida a carta, o vice-presidente Mourão disse que vai levar os embaixadores desses países para darem uma voltinha na Amazônia.
– Para além da Amazônia, circulam também pelo mundo as imagens das queimadas no Pantanal, maior bioma úmido do mundo, que já teve 12% de seu território devastado. Duas informações acompanham as imagens, os incêndios provavelmente foram provocados de forma deliberada para formação de pasto, segundo a própria polícia local, e o governo Bolsonaro não fez nada até o momento para se envolver na solução do problema. (Meio)
– No Equador, com a impossibilidade do ex-presidente Rafael Correa ser candidato a vice-presidente, o partido Centro Democrático (CD), pelo qual ele concorreria, anunciou sua substituição por Carlos Rabascall. Andrés Arauz segue como o pré-candidato a presidente do correísmo. Em entrevista à Russia Today (RT), Correa classificou Rabascall como um “homem progressista, próximo da Revolução Cidadã, vinculado a setores empresariais, jornalista e empresário”. O anúncio se deu no mesmo dia em que o Conselho Nacional Eleitoral do país, anulou a possibilidade de algumas organizações participarem do pleito, entre elas a Força Compromisso Social (FCS) que vinha abrigando Correa. Fica assim cancelada a aliança entre o CD e a Força Social, pela qual Arauz e Correa concorreriam como candidato a presidente e vice respectivamente. Agora a chapa deve ser Arauz e Rabascall pelo CD.
– Na Bolívia, foi divulgada uma pesquisa de intenção de voto realizada com uma amostra de 16 mil pessoas, moradoras na área urbana e rural, feita por um pool de 27 institutos de pesquisa intitulado “Tu voto cuenta” (Seu voto conta). Luis Arce segue liderando as pesquisas com 29,2% das intenções, seguido de Carlos Mesa com 19%. A novidade da pesquisa é que o terceiro lugar no ranking de intenções não está mais com a presidente de fato e golpista Jeanine Añez. Outro promotor do golpe de 2019 subiu para a terceira posição, Luis Fernando Camacho, mundialmente conhecido por sublevar Santa Cruz e invadir a residência presidencial pós-golpe com uma bíblia na mão. Camacho aparece com 10,4% e Añez com 7,7%. Neste cenário, 17,7% votariam em branco ou nulo e 9,8% não responderam. Considerando somente os votos válidos, o candidato do MAS, Luis Arce, lidera a intenção de voto da população com 40,3% e Carlos Mesa vem atrás com 26,2%, em seguida Camacho com 14,4% e Añez com 10,6%. Tanto Mesa, como Camacho, tem defendido nas últimas semanas uma unidade dos setores anti-MAS para derrotar Arce.
– Após meio século de presença no Brasil e 36 anos de funcionamento de sua fábrica em Manaus, a japonesa Sony resolveu fechar as portas por aqui. Na nota divulgada, não são relatados os motivos do fechamento, mas fala-se em “medidas para fortalecer a estrutura e a sustentabilidade de seus negócios, para responder às rápidas mudanças no ambiente externo”.
– No Chile, está marcado para o dia 25 de outubro o plebiscito constitucional. Não fosse a pandemia do novo coronavírus, teria ocorrido em abril deste ano. Cerca de 15 milhões de chilenos estão aptos a votar no plebiscito. Serão duas cédulas de votação. Na primeira, os chilenos marcarão se aprovam ou não uma nova constituição, escrevendo “aprovo” ou “não aprovo”. Na segunda cédula eles escolherão por qual órgão será concebida a nova constituição e terão como opções: convenção mista (composta por 50% de parlamentares já eleitos e 50% de novos parlamentares eleitos exclusivamente para a constituinte); convenção constituinte (integrada exclusivamente por novos membros eleitos especificamente com essa missão constituinte pelo voto popular). Para além de como será composta a convenção constitucional, outra grande polêmica tem girado sobre a necessidade estabelecida de 2/3 dos votos para aprovação de qualquer ponto da nova constituição. O tempo de duração da convenção será de 9 meses, prorrogável apenas uma vez por 3 meses. Depois disso, a nova proposta de Carta Magna, passará por um novo plebiscito com sufrágio universal que irá ou não ratificá-la.
– Em relação aos acordos firmados por Israel com os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, comemorados esta semana em cerimônia na Casa Branca, o presidente do Irã Hassan Rouhani, disse que seu governo considera os dois países árabes como “responsáveis por todas as graves consequências que derivarão” dos acordos. A declaração foi dada em uma reunião de ministros do governo iraniano amplamente divulgada pela TV local e internacional. Rouhani disse ainda que alguns estados árabes “ignoram a própria dívida que tem com a nação palestina e com seus irmãos que falam a mesma língua”.
– Foi em um dia 15 de setembro, em uma reunião no Salão Oval da Casa Branca, em 1970, que o então presidente americano, Richard Nixon, deu ordem para impedir que Salvador Allende assumisse a presidência no Chile. A vitória da Unidad Popular tinha se dado há dez dias, em 4 de setembro. Os documentos relativos à reunião foram publicados pelo National Security Archive (Arquivo da Segurança Nacional) dos EUA esta semana. O título do conjunto de relatórios, agora desclassificados, leva o nome de “A opção extrema: derrubar Allende”. Os documentos trazem também os relatos de reuniões anteriores e que construíram a opinião de Nixon, antes ainda da eleição de Allende. Nos documentos, as autoridades americanas se referem a Allende como o primeiro marxista-leninista eleito livremente por uma população em todo o mundo e que o perigo era terrível. (AFP)
O post Notas Internacionais (por Ana Prestes) – 17/09/20 apareceu primeiro em O Cafezinho.