Análise do filme: colegas- a ironia da vida e a visão distorcida da mídia
12 de Maio de 2014, 14:09 - sem comentários ainda
Introdução e desenvolvimento do filme
O filme trata da história de três jovens com síndrome de Down que vivem alojados em um instituto. Stalone que sonhava em ver o mar, Márcio que desejava voar, e Aninha que queria se casar com um cantor. O personagem principal é Stalone que foi abandonado pela mãe e levado ao instituto que vivia, tendo desde o inicio visitas de seus parentes regularmente, mas foram reduzindo gradativamente até acabar. Um de seus filmes favoritos mostrava a história de duas mulheres que viveram uma grande aventura enquanto viajam e isso o inspira a fazer a mesma coisa. Durante a aventura eles realizam assaltos como um tipo de “brincadeira” e dois policiais são mandados por razões de Stress para a seção de desaparecidos a qual passam a procurar os jovens. Os assaltos realizados os fizeram serem procurados em menos de 24 horas por todo o país. Os policiais e a mídia os tratam como bandidos perigosos, os policiais interrogam a diretora do instituto e os colegas com a mesma síndrome. Os sonhos a serem realizados eram sequencialmente o de Stalone, Aninha e Márcio. A viagem se torna para eles uma grande aventura e todos os detalhes são mostrados de forma cômica trazendo a tona muitos aspectos relativos à síndrome de Down e para surpresa e comicidade no fim do filme três jovens com síndrome de Down acabam sendo procurados em todo o mundo como bandidos perigosos, mobilizam grandes forças policiais quase causando sua morte e o mais legal é que no encontro deles com as pessoas tudo que houve foi boa impressão, mas nos noticiários tudo era bastante distorcido, interessante a distorção midiática não? (link para assistir ao filme http://www.filmesonlinegratis.net/assistir-colegas-nacional-online.html / )
Análise do filme
É importante notar como o filme trata a forma de transmissão da informação nos noticiários de forma cômica, não tendo vítima alguma exceto no primeiro assalto, e mesmo as pessoas entrevistadas eram cômicas inventando fatos como o rapto de um menino ou ameaças, além do medo que o desconhecido causa a outras pessoas. O sensacionalismo jornalístico aparece claramente quando um psicólogo diz “Essa figura do palhaço nada mais é do que uma forma irônica, até mesmo debochada que eles encontraram de dizer o que pensam sobre a nossa sociedade” e ele continua “Mais olha, é preciso muito cuidado. [...] Porque são deficientes mentais vivendo o mundo lúdico do cinema.” Até que um jurista replica “Veja o seguinte, nós estamos falando de um seqüestro, isso aqui é um crime hediondo, dispensa qualquer comentário.” A parte interessante desse diálogo é quando se pergunta a um garoto com síndrome de Down chamado Israel que se encontra no programa se ele é perigoso e ele diz “Eu sou muito, mais muito perigoso (fazendo um barulho do tipo “ahh” enquanto fala)” e a platéia ri. O mais legal desse debate? A única sensata era a mãe por ser relutar em aceitar os “fatos” discutidos e curiosamente foi a única a não ter espaço. Esse psicólogo cometeu dois erros gravíssimos: um- não é possível dizer o pensamento do outro sem antes consultá-lo, e dois- é que nem se sabia qual era a representação mental dos sujeitos, o comentário do jurista de fato dispensa comentários, mas o erro comum é o seguinte: os fatos não foram realmente averiguados, e nem precisavam, já que a televisão não quer verdades e sim verdades sensacionalistas, basta reparar em qualquer crime noticiado e pseudo diagnósticos dados por especialistas na mídia a criminosos loucos, alguns são até do imaginário popular. Sobre o comportamento de quem possui a síndrome o filme é bem educativo.
A forma como eles abraçam a senhora que mostra onde é o mar, o comportamento de Aninha ao salvar os animais presos, o gosto comum entre eles por Raul Seixas, a falta de noção do que dizer, a sexualidade sem pudor, a repetição de frases assistidas em filmes usadas para assaltar, a inocência ao pegar e mostrar o cartaz, demonstrar suas idéias, dizer que gostam de gordas, a grande habilidade social, a primeira relação sexual. Outro comportamento interessante era a atitude democrática, isto é, se um fizesse todos fariam, além sua atitude criativa e não aceitação de falhas tornando tudo cômico, como histórias contadas por eles mesmos e que outros sujeitos sem entender acreditavam com facilidade, e o pior, a própria falta de noção dos policiais é muito ilógica, apesar de serem os únicos a reconhecerem a situação de fato. Os jornais levam a idéia do palhaço, da doença mental ao que era simplesmente uma representação mental a eles, ao extremo. Até mesmo o policial se vangloria do origame feito por Stalone, ironizando o desprezo por caricaturistas de rua.
Conclusão
De forma geral, o filme trata do preconceito social aos jovens que tem síndrome de Down, o sensacionalismo jornalístico, as relações internacionais entre os vários países, o paradoxo de viver como um adulto se divertindo como criança, mas principalmente como a inocência deles faz com que consigam seus objetivos, não sejam pegos, se divirtam e ainda sigam seus caminhos e frase final justifica tudo isso junto ao preconceito: “Para aqueles que, apesar das adversidades, conseguem com um simples sorriso enxergar a felicidade nas pequenas coisas da vida.”
Monopólio da informação e movimentos sociais
5 de Maio de 2014, 10:22 - sem comentários ainda
O movimento social tem ainda sua característica tradicional como predominante, mas o uso da internet possibilitou mudanças na disseminação da informação e permitiu grande aumento da comunicação, ainda mais após as redes sociais, permitindo o movimento social em rede. [1]A grande característica A grande característica desse tipo de movimento não é as redes sociais, mas sim a convocação sem filtro de grupos e indivíduos a participação que concordam com as propostas, com participação vinda pela solidariedade. Nesse sentido não é movimento em rede um sindicato divulgar pautas e atos em redes sociais, pois a decisão foi tomada de forma centralizada pelo grupo dirigente. Dessa forma o movimento em rede vem antes da rede social e é vantajoso porque pelo caráter aglutinador, espontâneo e descentralizado do movimento social (apesar do tradicionalismo), as decisões nem sempre podem ser tomadas em assembléias com seus ritos e burocracia. Esse evento foi fortemente observado nas manifestações de julho de 2013[2] onde várias organizações se solidarizaram e participaram das mobilizações com demanda própria havendo de alguma forma uma disputa pela centralidade, que não foi alcançada por instituição alguma ao mesmo tempo em que as pautas eram compartilhadas. Nesse sentido a força do movimento social em rede é levantar pautas genéricas e, portanto, atrair um grupo variado de pessoas e organizações a participação, simultaneamente é também sua fraqueza de maneira que cada um vai com objetivos e pautas próprios não sendo então um movimento passível de coordenação. A partir disso e situando as redes sociais dentro do movimento em que ela entrou é possível concordar com Haberna que o movimento social disputa o campo das idéias, e nisso reside uma força muito grande.
Agora vale analisar a própria utilização das redes sociais, internet e sua função em movimentos sociais. Dito que o movimento disputa o campo da idéia caímos então na força da informação e da comunicação. Antes da internet, e até mesmo atualmente o monopólio da informação está com os meios de comunicação tradicionais, sejam eles impressos, programas de rádio ou televisão. A internet junto às redes sociais possibilitou maior comunicação efetiva e mais rápida entre as pessoas, considerando até mesmo o email como essa ponte, afinal após sua existência não foi mais preciso mandar cartas, manda-se o email e a resposta vem quase imediata, e esse imediatismo vem ainda maior nas redes sociais. [3]No meio de todo esse monopólio todos temos nossas opiniões, mas no final quem de fato apura a noticia é a mídia. O mais legal é que a mídia tradicional não vai atrás das noticias por si só em sua grande maioria, principalmente em campo internacional. Elas obtém os fatos a partir de Agências de notícias, sendo que as grandes possuem 3 mil funcionários em todo o mundo, sendo que a maior Reuters possui 60 mil, sendo essas empresas responsáveis por formar um banco de dados de noticia que são então vendidas. As 4 maiores são EFE, AFP, AP e Reuters e juntas são responsáveis pela apuração de 94% das notícias do mundo, ou seja, nossa opinião sobre os fatos ocorridos no mundo vem de base da apuração de apenas 4 agencias. Como um experimento observem os seguintes links do G1, MSN noticias e UOL notícias - no local onde aparece o nome do autor da notícia o nome de uma das 4 empresas vai estar lá:
MSN noticias: EFE- notícia sobre francês preso por prostituir prostitutas e notícia sobre o “dia dos quatro papas”
AFP- sanções sobre a Russia na Ucrânia
Reuters- CCEE e empréstimo com 10 bancos
G1 EFE- Rússia, Ucrânia e observadores internacionaisionais
AFP- Korea do Norte e conflitos e Portugal e Boicote de comemoração
Reuters- Alemanha e negação dos campos de concentração e Irâ e Palestina
G1 EFE- Vaticano
REUTERS- Eua e Ucrânia
AFP- Coreia do sul e desfile de lanternas
Dada boa quantidade de exemplos não consegui achar nenhuma da AP, mas existem também algumas com agencias brasileiras e agencias próprias, mas dentre as internacionais havia sempre uma das três citadas e com maioria Reuters, mas vejam por vocês mesmos, as vezes podem encontrar outras. Ainda assim o que chamo de redes sociais? [4]
Segundo pesquisa realizada por Missila Loures Cardozo, a rede social representa um conjunto de participantes autônomos que unem recursos e ideias, em torno de interesses e valores compartilhados. Dessa forma se incluem o facebook, Orkut, twiiter, Tumblr, WhatsApp mas não só eles. A mídia tradicional cita somente o termo “redes sociais” e não mostra coisas importantes, até porque sem fazer necessariamente uma critica a essas redes sociais, elas não são propriamente políticas, servem sim para política, mas muito mais para comunicação social e por isso podem ser responsáveis por grandes atos de desinformação. Os hoax são exatamente isso, ou seja, um boato sobre um tema específico é lançado e se espalha como água no meio dos comentários e compartilhamentos[5]. De forma geral a mídia tradicional vem perdendo sua força para a internet e midías alternativas como o mídia ninja[6] e não divulgam redes que de fato levam a política. Ela não diz que o Brasil possui redes sociais, de sites para ver os gastos do governo, outros para falar sobre pesquisa ou mesmo sites de própria participação política. O Brasil possui por exemplo o https://diasporabr.com.br/ como rede social, o http://www.participa.br como meio de participação política, o http://transparencia.gov.br/ para consulta de gastos governamentais, o http://acessoainformacao.gov.br para acesso de informação, o http://www.inde.gov.br/ para ver o georeferenciamento do país, o http://dados.gov.br/ para verificação de dados, o http://participatorio.juventude.gov.br/ para participação política da juventude, esse http://www.brasil.gov.br para direcionar a vários outros e ainda muito mais. [7]O pior é saber que nossas informações estão nas mãos de 4 empresas e a imprensa local de cada país nada mais é do que a visão de potências como Estados Unidos, França e Inglaterra, e esses três serão sempre santos e o resto demônios a serem crucificados, exceto os que estejam do seu lado.
Referencias:
Disponível em: http://acessoainformacao.gov.br Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: http://dados.gov.br/ Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: https://diasporabr.com.br/ Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/04/desfile-de-lanternas-budistas-lembra-vitimas-de-naufragio-na-coreia-do-sul.html / http://g1.globo.com . Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/04/lavrov-diz-kerry-que-eua-devem-pressionar-ucrania-conter-exercito.html / http://g1.globo.com . Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/02/vaticano-diz-que-relatorio-da-onu-e-anormal-e-que-orgao-se-excedeu.html / http://g1.globo.com . Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: http://liamdevlin.blogspot.com.br/2014/02/e-tao-bom-assistir-uma-aula-que-te.html Devlin's Lair/ http://liamdevlin.blogspot.com.br . Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: http://noticias.br.msn.com/brasil/ccee-fecha-empr%C3%A9stimo-com-10-bancos-e-afirma-que-n%C3%A3o-h%C3%A1-risco-para-el%C3%A9tricas-9 Anna Flávia Rochas/ http://noticias.br.msn.com . Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: http://noticias.br.msn.com/mundo/eua-san%C3%A7%C3%B5es-afetar%C3%A3o-russos-ligados-a-bancos-e-energia / http://noticias.br.msn.com . Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: http://noticias.br.msn.com/mundo/funcion%C3%A1rio-da-air-france-%C3%A9-preso-por-prostituir-brasileiras-na-fran%C3%A7a / http://noticias.br.msn.com . Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: http://noticias.br.msn.com/roma-se-prepara-para-o-hist%C3%B3rico-dia-dos-quatro-papas / http://noticias.br.msn.com . Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2014/04/26/kim-alerta-forcas-norte-coreanas-para-conflito-iminente.htm / http://noticias.uol.com.br . Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2014/04/26/berlusconi-diz-que-alemaes-negam-existencia-de-campos-de-concentracao.htm James Mackenzie/ http://noticias.uol.com.br . Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2014/04/26/ira-sauda-tregua-palestina-mas-silencia-sobre-governo-de-coalizao.htm / http://noticias.uol.com.br . Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/35006/russia+diz+que+fara+o+possivel+para+libertar+observadores+internacionais.shtml / http://operamundi.uol.com.br . Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: http://participatorio.juventude.gov.br/ Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: http://pugnuscomunicacao.wordpress.com/2009/12/28/conceito-de-redes-sociais/ Marcos Masini/ http://pugnuscomunicacao.wordpress.com . Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: http://transparencia.gov.br/ Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em http://tvuol.uol.com.br/video/lideres-da-revolucao-dos-cravos-boicotam-comemoracoes-04024D1A3972C0815326/ / http://tvuol.uol.com.br . Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: http://www.brasil.gov.br Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia/505207/movimentos-sociais-e-ciberativismo-o-que-muda Luiz Fernando Gomes e Sonia Piaya M. Munhos/ http://www.cruzeirodosul.inf.br . Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: http://www.infowester.com/hoax.php Emerson Alecrim/ http://www.infowester.com . Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: http://www.participa.br Data de acesso: 26 de abril de 2014
Disponível em: http://www.travessacinematografica.com.br/2013/07/midia-alternativa-e-audiovisual.html Breno Rodrigues de Paula/ http://www.travessacinematografica.com.br/2013/07/midia-alternativa-e-audiovisual.html . Data de acesso: 26 de abril de 2014
Marx e O Marxismo 2013: Marx, 130 anos depois; Sydenham Lourenço Neto; Disponível em: http://www.uff.br/niepmarxmarxismo/MM2013/Trabalhos/Amc124.pdf
. Local de publicação: NIEP MARX- Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas sobre Marx e o Marxismo; Niterói/RJ-Brasil; Data de acesso: 26 de abril de 2014
Propaganda Pessoal: Redes Sociais na Internet; Missila Loures Cardozo; Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2008/resumos/R3-1061-1.pdf . Local de publicação: Intercom- Sociedade Brasileira de Estudos Intredisciplinares da Comunicação; Natal/RN-Brasil; Data de acesso: 26 de abril de 2014
[1] Desse ponto até o fim do parágrafo a fonte é a seguinte: http://www.uff.br/niepmarxmarxismo/MM2013/Trabalhos/Amc124.pdf
[2] Fonte da rede social em 2013: http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia/505207/movimentos-sociais-e-ciberativismo-o-que-muda
[3] Fonte desse ponto até o fim dos exemplos: http://liamdevlin.blogspot.com.br/2014/02/e-tao-bom-assistir-uma-aula-que-te.html
[4] Fontes do conceito de redes sociais: http://pugnuscomunicacao.wordpress.com/2009/12/28/conceito-de-redes-sociais/ e http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2008/resumos/R3-1061-1.pdf
[5] Fonte dos Hoax: http://www.infowester.com/hoax.php
[6] Fonte do mídia ninja: http://www.travessacinematografica.com.br/2013/07/midia-alternativa-e-audiovisual.html
[7] Fonte dessa última frase: http://liamdevlin.blogspot.com.br/2014/02/e-tao-bom-assistir-uma-aula-que-te.html
Por um movimento social menos ideológico 2: o partido e o movimento
27 de Abril de 2014, 20:41 - sem comentários ainda
[1]Uma pesquisa realizada em dois congressos estudantis, sendo um deles o 46.º CONUNE (Congresso da União Nacional dos Estudantes) ocorrido em Belo Horizonte em 1999 e outra no CONEA (Congresso Nacional dos Estudantes de Agronomia) ocorrido em Pelotas (Rs) em setembro deste mesmo ano procurou saber como andava a organização e estrutura do movimento estudantil. A escolha do CONUNE foi feita porque ele foi considerado um ponto onde os diversos grupos se manifestam e marcam seu campo político e reivindicações, mas acima de tudo um local onde a experiência coletiva se consolida e procura mudar seus métodos ou continuar como está. A pesquisa delimitou quatro campos extraídos a partir das entrevistas e pesquisa participante para sua exposição: A) O movimento estudantil e os estudantes B) O movimento estudantil e os partidos políticos C)O movimento estudantil e seus ideários D) O surgimento de novas linguagens e práticas emergentes em seu interior. . No primeiro texto da série “Por um movimento social menos ideológico” tratou-se do item A dizendo das falhas do movimento em relação a sua institucionalização e de formas de atuação antigas. Ainda assim não é uma institucionalização qualquer, mas sim uma que envolve os partidos, e é disso que o segundo texto vai tratar, isto é, o item B e na próxima semana o item C.
Na pesquisa constatou-se que para os entrevistados existe uma forte relação dos partidos com o movimento, partidos esses que imprimem sua visão de mundo, estratégias, ideário e proposta de sociedade em maioria de esquerda, sendo para muitos estudantes militantes uma das maiores barreiras para a efetiva representação de entidades/estudantes. A tendência majoritária da UNE no 46.º CONUNE apostou em unir forças políticas com o slogan “A UNE é união, não é partido não” buscando um movimento estudantil unitário e apartidario e essa idéia pôde ser vista em vários dos cartazes e faixas dispostos no congresso. Muitas vezes o tema em uma roda de discussão do congresso é comunicação e muitos vem falar de partidos, sendo que não deveria ser aquele o tema segundo uma militante da UJS/PC do B, ainda assim em militantes de outros grupos não é um discurso que aparece dessa forma. Na pesquisa foi preciso entender a unidade do movimento através da visão que cada tendência tem do conceito, que ainda como uma questão pertinente não pode acabar com o espaço para manifestação de diferenças. Em muitos discursos, no entanto, o tema aparece de forma ambígua, isto é, ainda que apartidarista vem mediado por uma tendência mantida por um partido. É necessário que exista para se manter enquanto grupo político e defende em vários momentos a importância do partido para organização dos estudantes dentro do movimento, portanto deixa de ser um discurso “neutro”.
Se o discurso então é ambíguo isso mostra que as entidades estudantis se desgastaram e houve uma reação à excessiva partidarização, e nesse sentido entre os meios menos institucionalizados a lógica apartidarista é mais aceita, sendo isso tudo efeitos da influencia dos partidos. Ainda que com tanta variação o discurso das diversas teses até mesmo das tendências mais tradicionais procuram amenizar a influencia partidária e a cultura criada e conservada por ela, apesar de não significar extinção do partido como orientador do movimento. Os entrevistados entendem a existência de conflitos que demarcam a fronteira movimento/partido, mas não vêem isso como um problema, mas como uma entidade que organiza, orienta e estimula os estudantes e a critica vem ao aparelhamento da entidade pelos partidos, havendo inclusive considerações de que só há linha organizada no movimento se houver partido. Discute-se nesse sentido que se a entidade se torna aparelho de um partido então vira uma extensão desse, aderindo suas visões de mundo e agenda demonstrando a falta de uma agenda clara da própria entidade e desconsideração inclusive da própria educação e universidade.
Existe uma “instrumentalização da entidade” e os entrevistados admitem que politizam, orientam, criam autonomia no pensar mas a cultura partidária no movimento estudantil Brasileiro é tamanha que imprime lógica própria abafando e sobrepondo iniciativas criativas feitas pelos estudantes e de alguma forma paralisa o movimento e limita a intervenção estudantil. Pode ser considerado uma profissionalização da política e um espírito vanguardista que leva ao tentar convencer as pessoas, por partir de uma compreensão hierarquizada dos fatos. Bordieau afirma que quanto maior a tendência de profissionalizar a política e burocratizar o partido a competição inicial é de quem toma poder sobre o aparelho e esses representarão os simples laicos, o monopólio da elaboração está mais reservado aos profissionais.[2]
O que então dizer sobre a influência dos partidos no movimento?
Percebe-se que enquanto instituição aparelhada o movimento estudantil se torna um braço do partido correspondente, levando a frente então seus objetivos, ideários, visão de mundo excluindo assim pessoas que não pertencem aquele partido ou estudantes que não fazer parte de partido algum. Muitos dos entrevistados na pesquisa consideraram ainda o partido um elemento importante da organização enquanto que não a aparelhe. Considero isso um erro, na medida em que como entidades externas podem sim haver membros participantes no movimento, mas que não necessariamente isso deva ser o guia do movimento. Acredito que outros referenciais devam ser procurados que não os partidários, e nesse sentido o fato de o militante ser de um partido é só algo que contribui com sua participação e pode trazer benefícios ao movimento, mas que deve ser mesclado a outras experiências de outros participantes partidários ou não com a consideração de que fazem parte de um outro além do partidário, portanto que se crie novos referenciais, nova organização que vá além dos partidos e assim concordo que a existência de um partido como orientador paralisa a criação de novas formas de comunicação criando um discurso fechado e institucionalizado como o único possível. [3]A conclusão da pesquisa, portanto, nesse sentido é que o discurso dos estudantes se torna fechado distanciando outras pessoas para a entrada do movimento criando a necessidade de outras formas de comunicação de maneira a não institucionalizar mais o discurso como único possível e nela estou de acordo.
Lembrem-se de referenciar a fonte caso utilizem algo deste blog. Dúvidas, comentários, complementações? Deixe nos comentários.
Escrito por: Rafael Pisani
Observação: No servidor anterior foi postado no dia 14/04/2014 as 11:07.
Referencias:
Marcos Ribeiro Mesquita, « Movimento estudantil brasileiro: Práticas militantes na ótica dos Novos Movimentos Sociais », Revista Crítica de Ciências Sociais [Online], 66 | 2003, colocado online no dia 01 Agosto 2012, criado a 28 Março 2014. URL : http://rccs.revues.org/1151 ; DOI : 10.4000/rccs.1151
Por um movimento social menos ideológico: o estudante e o movimento
27 de Abril de 2014, 20:26 - sem comentários ainda
[1]Uma pesquisa realizada em dois congressos estudantis, sendo um deles o 46.º CONUNE (Congresso da União Nacional dos Estudantes) ocorrido em Belo Horizonte em 1999 e outra no CONEA (Congresso Nacional dos Estudantes de Agronomia) ocorrido em Pelotas (Rs) em setembro deste mesmo ano procurou saber como andava a organização e estrutura do movimento estudantil. A escolha do CONUNE foi feita porque ele foi considerado um ponto onde os diversos grupos se manifestam e marcam seu campo político e reivindicações, mas acima de tudo um local onde a experiência coletiva se consolida e procura mudar seus métodos ou continuar como está. A pesquisa delimitou quatro campos extraídos a partir das entrevistas e pesquisa participante para sua exposição: A) O movimento estudantil e os estudantes B) O movimento estudantil e os partidos políticos C)O movimento estudantil e seus ideários D) O surgimento de novas linguagens e práticas emergentes em seu interior. Apesar disso vou tratar de cada um deles em um texto separado, iniciando com o item A.
A conclusão geral do artigo, baseada nas várias entrevistas é que o estudante tem pouco se identificado com o movimento estudantil, chamando-o de burocratizado, hierarquizado, centralizador, partidarizado, ultrapassado etc... sendo incrível o fato de cada grupo ou tendência ter essa idéia em comum, apesar de formular diferentes diagnósticos e avaliações, incluindo nisso todas as teses do 46.º CONUNE. Muitos dos estudantes entrevistados explicavam esse acontecimento devido a fatores externos e internos, como o individualismo, aparelhamento e burocracia das entidades evidenciando subliminarmente a reestruturação das formas de se fazer política, o esgotamento das práticas, ainda que seja algo de grande dificuldade. Isso tudo gera grande descrédito e falta de participação dos estudantes, sendo um movimento que não cria espaços de participação para os mesmos, produzindo então a falta de um elo identitário entre as várias aspirações estudantis e o ideário do movimento estudantil que resulta inclusive em uma falta de comunicação entre a entidade e o estudante, tornando-o não representativo. Grande parte disso se refere à estrutura das entidades.
A entidade, com todas as suas estratificações deixou de ser capaz de atingir as novas demandas e dessa forma limita estudantes que não se enquadram nesse modelo de organização institucionalizada, que mesmo tentando mudar seus modelos de organização não sai de uma estrutura centralizada e hierárquica. Houveram sim algumas mudanças, como a proporcionalidade qualificada que garante a presença de membros das várias tendências na diretoria e a criação de várias secretarias relativas as demandas gerais e atuais, como temas sobre racismo, mulheres, cultura, meio ambiente ainda que dentro de um modelo institucional e de temas que antes não institucionalizados, agora o foram dentro do movimento. Isso bloqueia as positividades das experiências dentro da nova estrutura e denuncia a falta de um novo modelo de estrutura no movimento. Tudo isso se junta à conjuntura neoliberalista e fica ainda pior.
Nessa os valores mudam e o individualismo se fortalece e faz o estudante tentar quebrar barreiras individualmente, mesmo que só seria possível através de um ato coletivo.[2] Esse modelo tradicional, que busca levar o conhecimento a quem supostamente não o tem, e servir de guia para quem está perdido já não tem mais força. Já foi importante, e ainda é que o movimento tenha seu lado institucional, formal, para que não perca sua referencia e cada um para seu lado, sem onde ter de se unir, mas a extrema institucionalização das ideias, das participações gera problemas, dito que as características do estudante atual diferem do estudante da década de 60, 70, 80 ou 90, um novo modelo precisa ser buscado. A forma de comunicação usada nesses períodos precisa mudar, e mesmo que algumas demandas tenham continuado as mesmas, outras mudaram e algumas apareceram. Sendo um estudante diferente, um trabalhador diferente, novas questões devem ser levadas em conta, novas incógnitas que diferem por exemplo da época da ditadura, onde vivia-se para acabar com a ditadura, o que já não é um modelo com valor atual. Não é possível nem plausível cobrar de um estudante universitário que trabalha 8 horas por dia e vai estudar a noite a participação assídua em reuniões semanais, mas isso não quer dizer que seja impossível sua participação, ela só vai se dar de forma diferente. As demandas desse estudante vão variar das de um que não trabalha, assim como a forma tradicional de convidar a participação deve funcionar mais com o que não trabalha, do que o que trabalha. A forma tradicional, isto é, chega-se ao sujeito e a ele é apresentado o conhecimento já não dá mais, sem conhecimento da vida do sujeito, do que pensa e sabe sobre o movimento, das suas condições de participação, de suas aptidões ou dificuldades, objetivos de vida e as mais variadas características sua atuação não vai ser efetiva, qualquer seja o movimento.
[3]O conhecimento que não seja prático a eles não tem valor, assim como se ele dá o direito a ouvir, deve-se fazer o mesmo, inclusive em uma reunião e deve ser garantido com ou sem reunião o acesso a conhecimentos necessários além das formas de demonstrar a existência de sua necessidade. O conhecimento deve guiar o movimento, e não as opiniões institucionalizadas. Deve conseguir mostrar que muitas de suas questões individuais se dão por falta do senso de coletividade, e que esse mesmo senso na prática pode resolvê-lo, portanto: menos tradicionalismo, mais inovação.
Lembrem-se de referenciar a fonte caso utilizem algo deste blog. Dúvidas, comentários, complementações? Deixe nos comentários.
Escrito por: Rafael Pisani
Observação: No servidor anterior foi postado no dia 14/04/2014 as 12:09. Nesse servidor houveram as seguintes alterações:
- Retirada de “que” entre “garantido” e “com” no seguinte trecho e substituição de “além das formas de demonstrar sua necessidade exista.” para “além das formas de demonstra a existência de sua necessidade” no seguinte trecho “O conhecimento que não seja prático a eles não tem valor, assim como se ele dá o direito a ouvir, deve-se fazer o mesmo, inclusive em uma reunião e deve ser garantido que com ou sem reunião o acesso a conhecimentos necessários, além das formas de demonstrar sua necessidade exista.”
Referencias:
Marcos Ribeiro Mesquita, « Movimento estudantil brasileiro: Práticas militantes na ótica dos Novos Movimentos Sociais », Revista Crítica de Ciências Sociais [Online], 66 | 2003, colocado online no dia 01 Agosto 2012, criado a 28 Março 2014. URL : http://rccs.revues.org/1151 ; DOI : 10.4000/rccs.1151
[1] Todo o texto tem como fonte a única referencia que está na lista, os comentários que forem do presente autor serão demarcados com uma nota de rodapé.
[3] Todo o trecho a frente, exceto a última frase foi de colaboração de Thiago Zoroastro. Link para contato: http://blogoosfero.cc/profile/thiagozoroastro
Não tenho tempo para meus direitos
21 de Abril de 2014, 9:05 - sem comentários ainda
O texto anterior "Não tenho tempo" fez menção a várias ideias relativas à falta de tempo como um todo. O texto foi trabalhando através de dois conceitos centrais: tempo objetivo ou cronológico e tempo subjetivo. Tempo objetivo é definido como o tempo em si, isto é, um minuto tem 60 segundos, 1 hora tem 60 minutos, um dia tem 24 horas e assim por diante, e esse é igual para todo mundo. O tempo subjetivo é que difere de um sujeito para outro, ou seja, o tempo que um sujeito pode levar para executar uma ou mais tarefas específicas pode ser diferente para outro sujeito e dessa forma o “espera um pouco”, ou “já estou chegando” pode ser 1 hora para sujeito A ou 10 minutos para sujeito B. O tempo da consciência difere do tempo dos relógios, sendo ela o tempo subjetivo que é um tempo próprio, sem regularidade e homogeneidade, enquanto o tempo dos relógios é o objetivo. [1] Isso foi relacionado à questão do automatismo da rotina e questionando a falta de tempo através desses dois conceitos e de diferentes formas. Nesse será adicionado um terceiro conceito: o significado de uma atividade para o sujeito. Ainda assim vale tratar um pouco mais dos conceitos de tempo cronológico e subjetivo.
Falta de tempo cronológico significa dizer que cada minuto das 24 horas de cada um dos 7 dias das 4 semanas de cada mês e dos 12 meses do ano estão ocupados com algo, sendo o mesmo que dizer: “minha vida esta totalmente programada para sempre” e dizer isso significa algo bastante sério. Ainda assim, analisando isso é possível perceber que é impossível, vejamos um exemplo:
João pereira quer passar em um concurso, mas sabe que para isso precisa estudar e até agora nem tentou porque não tem tempo. Vejamos sua rotina: de segunda a sexta trabalha de 8:00 as 16:00 e a noite estuda em seu curso de recursos humanos de nível técnico de 19: as 22:00. Aos fins de semana tem de ficar com a família e ver os amigos. Por isso tudo João afirma que não consegue estudar para o concurso. Aparentemente é verdade, mas será que é? Vejamos com mais detalhes: No seu trabalho nem sempre está ocupado de fato com o trabalho, muitas vezes ocupa um tempo considerável para dormir e conversar com os colegas, além disso tem 30 minutos de almoço por dia. Nas 3 horas que tem entre o trabalho e o curso técnico leva 1 hora no ônibus de ida para casa e 1 hora no ônibus de ida para o curso, ficando uma hora em casa sozinho, já que a esposa trabalha e os filhos estão na escola. Na volta do curso leva o mesmo tempo no ônibus, podendo ficar esse tempo com os filhos, de resto é o fim de semana. Nesse trecho muitas brechas se abriram. João agora pode estudar nas horas vagas de trabalho, no ônibus, quando está em casa de 17 as 18 e principalmente cortando alguns compromissos de fim de semana . Não existe essa falta de tempo cronológico, mas sim uma falta de consciência de sua organização, o que tem a ver com o tempo subjetivo. Para outra pessoa a organização pode ser diferente, mas de alguma forma pode haver tais brechas. O indivíduo pode considerar a mudança um sacrifício, algo difícil de fazer, mas ainda assim isso não quer dizer que é impossível, mas uma mudança e consciência do tempo psicologicamente difícil. Nesse ponto caímos no campo do tempo subjetivo.
Nesse sentido além da organização mental do tempo temos o significado da atividade. Apesar das brechas temporais cronológicas a falta de organização temporal pode fazer o sujeito não ser capaz de incluir algo novo. Em terceiro sentido se a atividade a ser incluída tem pouco valor, ou não se crê que o objetivo vai ser alcançado então a pessoa que quer fazer concurso mas não acredita que vá passar, ou a pessoa que é convidada a participar de um movimento social e não aceita e nega tanto estudar para o concurso quanto participar do movimento social dizendo que a razão é não ter tempo pode estar dizendo que não acredita no potencial da ideia, não tem consciência do próprio tempo, ou não sabe organizar o próprio tempo. Além de tudo isso movimento social não quer dizer só movimento estudantil ou sindical, significa também luta por moradias, baixa dos impostos e preços dos alimentos, melhores condições para mulheres e homens presos, doação de alimentos e roupas para quem precisa ou até mesmo a criação de uma ONG. Apesar de cada caso ser um, vale a pena pensar nisso não?
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Escrito por: Rafael Pisani
Observação: No servidor anterior foi postado no dia 24/03/2014 as 00:00. Nesse servidor houveram as seguintes alterações:
1. Adição de “vida” entre “minha” e “esta” no seguinte trecho “minha esta totalmente programada para sempre” e alteração do “esta” para “está”
Referencias:
Disponível em: http://jus.com.br/artigos/23107/o-tempo-subjetivo-e-as-emocoes-negativas-na-duracao-do-processo-penal Sebastião Raul Moura Júnior/ http://jus.com.br . Data de acesso: 16 de março de 2014
[1] Fonte do tempo da consciência e do tempo do relógio: http://jus.com.br/artigos/23107/o-tempo-subjetivo-e-as-emocoes-negativas-na-duracao-do-processo-penal