Um rapaz chamado John me mandou um e-mail fazendo aquela pergunta que todo cara que divulga SL já ouviu: "Como é possível viver de Software Livre?"
O interesse dele é em jogos, então vou tentar responder de forma generalista e depois trato dos jogos.
Gostei da pergunta do John, porque ele perguntou "Como é possível?" e não "É possível?". Ele já sabe e agora quer o caminho das pedras, mas... Não existe caminho das pedras. Ou melhor, não existe um caminho das pedras.
Eu sou sócio da Colivre, essa empresa cooperativa (é chato ter que lembrar isso, mas as pessoas não fixam a idéia que a cooperativa é uma empresa, justa e com princípios, mas é uma empresa) foi criada com amigos do tempo da faculdade que tinham sonhos em comum: Ter uma relação de trabalho mais justa e trabalhar com Software Livre.
Na Colivre usamos Softwares Livres como o Papers, o Inkscape e o Foswiki para prestar serviços e colaboramos com esses projetos em retribuição (por conta da nossa relação com o SL) e em prol da melhoria dos nossos serviços.
Alem de usar e colaborar, também criamos Softwares Livres quando temos demanda por isso. Nosso melhor exemplo é o Noosfero, licenciado sob AGPLv3, assim como tudo o que criamos está sob uma licença livre.
Nosso software não é produto de caixinha,
é fruto de serviço.
Assim é fácil faze-lo livre.
Tendo isso em mente vemos que a maioria, se não todas, as software houses brasileiras poderiam produzir Software Livre ou, o que seria melhor, usar um SL como base e melhora-lo para responder a demanda e beneficiar toda a sociedade. Por quê? Porque a maioria, se não todas, escrevem software como serviço a demandas (aparentemente) específicas. Sim, "aparentemente específicas" porque se assim fossem realmente a base de código não seria tão útil para reuso (e como reusam...) e não haveria porque se especializar em responder as necessidades de nixos.
Sendo assim, uma forma de viver de Software Livre seria a velha prestação de serviços, com o adendo da licença livre no contrato.
Mas a licença livre não espanta clientes? Para a Colivre foi justamente o contrário. Muitas pessoas com poder de decisão se importam com os benefícios (incluindo sim os sociáis) que o Software Livre traz e por isso nos procuraram.
E de que outras formas podemos viver com Software Livre?
Participando de Fundações ou ONGs voltadas para o movimento de Software Livre, como a Fundação GNOME, a Fundação Mozilla e a Fundação Software Livre - América Latina. Ou participando de ONGs bastante próximas do movimento ou que tenham o Software Livre no seu estatuto, como a Safernet Brasil
Organizando consórcios empresariais para promover projetos. Claro que aqui você precisa de uma pessoa com contatos e respeito no meio empresarial.
Buscando editais. Governos estaduais e o federal lançam frequentemente editais que podem ser executados com Software Livre. Mas é preciso paciência e estomago... você sabe como são as coisas...
Existem 1000 maneiras de se preparar Neston®. Invente uma!™
E quanto aos jogos?
É possivel constrir jogos com Software Livre, usando as diversas engines disponíveis, como a clássica Allegro, a DarkPlaces (derivada do Quake) e o Blender com Crystal Space (veja um tutorial) e nada (até o momento) ilustra melhor que YoFrankie
Como ganhar dinheiro (suficiente para o sustento) com eles é uma icognita para mim, porque não me interesso por esse mercado e não ouvi falar de nenhuma experiencia do gênero. Então vou tratar sobre os problemas, porque é daí que surgem as oportunidades.
Divagação introdutória: Por que eu colaboro com o Inkscape? Porque eu uso ele quase todos os dias e depois de conhece-lo bem, passei a estudar como melhora-lo e só então passei a faze-lo. Em geral é preciso envolvimento constante de um programador com um projeto para que ele começe a colaborar com ele, por isso projetos de uso diário tendem a ter um crescimento continuo no número de desenvolvedores (o que deve levar a estabilização e reciclagem continua). Estou falando sobre comunidade porque não dá para pensar na sustentabilidade de projetos livres sem comunidade e sem sustentabilidade também é difícil garantir o sustento financeiro.
Como acontece com jogos? É de se esperar que o usuário jogue até zerar, se o jogo for bom ele joga mais algumas vezes como passa-tempo e depois se esquece que o jogo existiu. Desta forma ele não cria vínculo e não aparece o interesse em colaborar. Isso explica porque o time de desenvolvedores de projetos de jogos inicia um número pequeno de pessoas, pode agregar um ou outro pela proposta, mas definha e morre com a saída dos desenvolvedores, um a um, para outros projetos.
Os jogos que parecem escapar desse processo são os RPGs massivos on-line, como o Mana World, onde o usuário tem um forte argumento para retornar ao jogo: relacionamento social. Este é um caso muito especial que tem forte potencial para modelos econômicos muito próprios, então fica para divagação pessoal porque não volto para esse caso.
Os jogos livres tem muito potencial, mas costumam sofrer com a falta de arte e roteiro, o que faz toda a diferença. E a explicação provável (não existe pesquisa é só vivencia) é o fato de que são feitos por programadores e quando temos alguém focado na arte é o cara que está aprendendo a usar Blender (na verdade aprendendo modelagem 3D, o que é pior). Mas vc não citou o roteirista... porque não tem. E não adianta lançar o jogo assim e esperar que o envolvimento com a comunidade o melhore, pois não vai acontecer com a força que acontece para uma ferramenta usada no dia-a-dia.
Para fazer um bom jogo precisamos de um investimento pesado no inicio, no planejamento. Isso explica porque o Bos Wars saiu legal, ele foi criado pela equipe do Stratagus, que já sabia um pouco mais sobre "como fazer". O mesmo parecia que iria acontecer com o Super Tux 2, que foi melhor planejado (ou melhor recebeu algum planejamento), mas nunca foi lançado.
Isso não quer dizer que jogos não se encaixem no modelo livre, é muita falta de visão entender assim, mas os jogos não podem ser criados como os desenvolvedores gostam, codifica primeiro e pergunta depois.
Bom, se é difícil manter uma comunidade de usuários ao redor de um jogo, então também será difícil fazer com que esse jogo livre gere renda. Mas temos como...
Claro que podem existir outras formas, mas eu só pensei em usa-lo como peça de marketing. Divulgação de Marcas: uma empresa quer ser mais comentada, ela pode ser representada dentro do jogo e fortemente divulgada como financiadora do desenvolvimento. Divulgação de Idéias: uma ONG ou um governo quer mostrar que uma atitude é melhor que outra. O roteiro de um jogo ou as regras do jogo podem focar na questão e fazer o usuário vivenciar e aprender jogando.
Como disse antes, o caso dos jogos não me interessa, mas fica aí a dica de um caminho que me parece viável. No fim das contas o que se exige de você é criatividade.
0sem comentários ainda
Por favor digite as duas palavras abaixo