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Censo 2010 confirma racismo no Brasil
1 de Julho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaAo contrário de Ali Kamel e seu livro, Censo confirma racismo no Brasil |
Por Leonardo Sakamoto, em seu blog
De tempos em tempos, sai alguma nova pesquisa apontando que negros ganham menos que brancos no Brasil. Quando toco nesse assunto no blog, sempre aparece um gênio que diz algo como “Meu Deus, você não entende nada de política corporativa! Ou acha que seria permitido em uma grande empresa uma pessoa branca ganhar mais que uma negra pela mesma função?”.
O comentário demonstra uma certa incapacidade do leitor de extrapolar o pensamento para além do visível (como uma pessoa que cita o sobrenatural não consegue trabalhar com abstrações? Curioso…) e imaginar que estamos falando de uma média da sociedade.
Somos bombardeados com o mito da democracia racial brasileira, construído para servir a propósitos. Mito que se prova verdadeiro em novelas, minisséries ou alguns programas de TV, normalmente concebidos por brancos, mas que na vida real são tão concretos quanto a curupira, o boto e a mulher de branco.
“Ah, mas o preconceito no Brasil é contra pobre, não contra negro!” A despeito do fato de haver, proporcionalmente, mais negros entre os pobres do que brancos, por conta de uma herança maldita deixada por uma abolição que nunca ocorreu totalmente, a discriminação pelos não-brancos vive saudável por aqui.
Nesta sexta (29), o IBGE divulgou dados demográficos do Censo 2010, mostrando que brancos recebem salários mais altos e têm mais acesso ao estudo do que negros, divididos pelo estudo em pretos e pardos,conforme matéria trazida pelo UOL Notícias. Na região Sudeste, os rendimentos dos brancos é o dobro do que é pago aos pretos. Há mais empregadores entre os brancos (3%) do que entre pretos (0,6%) e pardos (0,9%). Por fim, do total da população, 9,6% são analfabetos. Já, entre os brancos, 5,9%. E entre pardos e pretos, 13% e 14,4% respectivamente. Vale ressaltar que, de acordo com o Censo 2010, os brancos totalizam 47,7% da população, enquanto pretos e pardos correspondem a 50,7%.
Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que os homens brancos apresentaram as menores taxas de desemprego em 2005 (6,3%) – número que subia para 8,1% entre os homens negros e para 14,1% entre as mulheres negras. A diferença entre o rendimento médio dos homens brancos e negros havia caído 32,6% entre 1995 e 2005. A causa não foi tanto a melhoria do salário dos negros, que existiu, mas uma piora nos ganhos dos brancos – proporcionalmente, mais acentuada.
Não há uma pesquisa honesta que comprove relação entre capacidade intelectual e cor de pele. Ou alguma razão biológica bisonha que faça alguns preferirem ganhar mais do que outros. A resposta para esse quadro está nas oportunidades a que cada um teve acesso e as barreiras impostas a elas pela cor de pele.
Pretos, pardos e brancos deveriam ser tratados como iguais uma vez que são iguais. Mas, historicamente, a eles não foi dado o mesmo tratamento. Encarar, portanto, pessoas com níveis de direitos diferentes como iguais é manter o nosso bizarro status quo. Não basta cotas em universidades. Temos que avançar para reservas de vagas em cargos da administração pública, no sistema judiciário e em outras instâncias. Não eternamente, mas até conseguirmos corrigir o imenso fosso que separa brancos e negros.
Como gosto sempre de lembrar, o quase ex-senador Demóstenes Torres praticamente afirmou que escravas negras não foram violentadas pelos patrões brancos. Afinal de contas, segundo ele ao criticar as cotas para negros em universidades públicas federais em 2010, “isso se deu de forma muito mais consensual” e “levou o Brasil a ter hoje essa magnífica configuração social”. E que, no dia seguinte à sua libertação, os escravos “eram cidadãos como outro qualquer, com todos os direitos políticos e o mesmo grau de elegibilidade”. Pô, em que mundo ele vive?
O Brasil ainda não foi capaz de garantir que os filhos dos libertos fossem tratados com o respeito que seres humanos e cidadãos mereciam. Herança maldita presente na sociedade que quase equivale, na prática, a um sistema de castas. Alguns até conseguem escapar, mas a maioria das famílias permanece girando em círculos ao longo de gerações. O pior é que a discriminação é sempre do outro, nunca de nós mesmos.
No avião, dia desses: “Não sou preconceituosa, longe disso. Mas não gostaria que minha filha casasse com aquele ‘moreninho’, namorado dela. Não é por mim, sabe, mas os filhos vão sofrer um preconceito muito grande, a família do meu marido não vai entender direito. É complicado…”
Ô se é.
O comentário demonstra uma certa incapacidade do leitor de extrapolar o pensamento para além do visível (como uma pessoa que cita o sobrenatural não consegue trabalhar com abstrações? Curioso…) e imaginar que estamos falando de uma média da sociedade.
Somos bombardeados com o mito da democracia racial brasileira, construído para servir a propósitos. Mito que se prova verdadeiro em novelas, minisséries ou alguns programas de TV, normalmente concebidos por brancos, mas que na vida real são tão concretos quanto a curupira, o boto e a mulher de branco.
“Ah, mas o preconceito no Brasil é contra pobre, não contra negro!” A despeito do fato de haver, proporcionalmente, mais negros entre os pobres do que brancos, por conta de uma herança maldita deixada por uma abolição que nunca ocorreu totalmente, a discriminação pelos não-brancos vive saudável por aqui.
Nesta sexta (29), o IBGE divulgou dados demográficos do Censo 2010, mostrando que brancos recebem salários mais altos e têm mais acesso ao estudo do que negros, divididos pelo estudo em pretos e pardos,conforme matéria trazida pelo UOL Notícias. Na região Sudeste, os rendimentos dos brancos é o dobro do que é pago aos pretos. Há mais empregadores entre os brancos (3%) do que entre pretos (0,6%) e pardos (0,9%). Por fim, do total da população, 9,6% são analfabetos. Já, entre os brancos, 5,9%. E entre pardos e pretos, 13% e 14,4% respectivamente. Vale ressaltar que, de acordo com o Censo 2010, os brancos totalizam 47,7% da população, enquanto pretos e pardos correspondem a 50,7%.
Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que os homens brancos apresentaram as menores taxas de desemprego em 2005 (6,3%) – número que subia para 8,1% entre os homens negros e para 14,1% entre as mulheres negras. A diferença entre o rendimento médio dos homens brancos e negros havia caído 32,6% entre 1995 e 2005. A causa não foi tanto a melhoria do salário dos negros, que existiu, mas uma piora nos ganhos dos brancos – proporcionalmente, mais acentuada.
Não há uma pesquisa honesta que comprove relação entre capacidade intelectual e cor de pele. Ou alguma razão biológica bisonha que faça alguns preferirem ganhar mais do que outros. A resposta para esse quadro está nas oportunidades a que cada um teve acesso e as barreiras impostas a elas pela cor de pele.
Pretos, pardos e brancos deveriam ser tratados como iguais uma vez que são iguais. Mas, historicamente, a eles não foi dado o mesmo tratamento. Encarar, portanto, pessoas com níveis de direitos diferentes como iguais é manter o nosso bizarro status quo. Não basta cotas em universidades. Temos que avançar para reservas de vagas em cargos da administração pública, no sistema judiciário e em outras instâncias. Não eternamente, mas até conseguirmos corrigir o imenso fosso que separa brancos e negros.
Como gosto sempre de lembrar, o quase ex-senador Demóstenes Torres praticamente afirmou que escravas negras não foram violentadas pelos patrões brancos. Afinal de contas, segundo ele ao criticar as cotas para negros em universidades públicas federais em 2010, “isso se deu de forma muito mais consensual” e “levou o Brasil a ter hoje essa magnífica configuração social”. E que, no dia seguinte à sua libertação, os escravos “eram cidadãos como outro qualquer, com todos os direitos políticos e o mesmo grau de elegibilidade”. Pô, em que mundo ele vive?
O Brasil ainda não foi capaz de garantir que os filhos dos libertos fossem tratados com o respeito que seres humanos e cidadãos mereciam. Herança maldita presente na sociedade que quase equivale, na prática, a um sistema de castas. Alguns até conseguem escapar, mas a maioria das famílias permanece girando em círculos ao longo de gerações. O pior é que a discriminação é sempre do outro, nunca de nós mesmos.
No avião, dia desses: “Não sou preconceituosa, longe disso. Mas não gostaria que minha filha casasse com aquele ‘moreninho’, namorado dela. Não é por mim, sabe, mas os filhos vão sofrer um preconceito muito grande, a família do meu marido não vai entender direito. É complicado…”
Ô se é.
Acontece: Rio Festival Gay de Cinema
29 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda O Rio Festival Gay de Cinema é o festival internacional de filmes LGBT de ficção, documentário e experimental, em longa e curta metragens, brasileiros e estrangeiros. O festival acontecerá de 29 de junho a 8 de julho de 2012 no Estação Sesc Botafogo, Cine Cultural Justiça Federal e Instituto Cervantes, Rio de Janeiro.Foram selecionados 12 longas e 43 curtas-metragens brasileiros e estrangeiros. Este ano a seleção de filmes está mais brasileira do que nunca, 50% dos curtas são brasileiros. Tem filmes para todos os gostos. A comédia romântica E-Cupid, em que Marshall, frustrado no amor, baixa um aplicativo misterioso que lhe dá tudo o que ele quer. A realidade de uma linda família americana gay em The Right To Love e a de famílias brasileiras no documentário Família no Papel. E pela primeira vez mulheres queer indonésias estão quebrando o código do silêncio em Anak-Anak Srikani.
O festival também irá exibir dois longas do Prêmio Maguey do Festival de Cinema de Guadalarara: Todo El Mundo Tiene a Alguien Menos Yo e Mía. E a estreia do curta indiano Amen, que abre a sessão do filme Looking for Gay Bollywood.
A programação do Rio Festival Gay de Cinema 2012 está apaixonante. Espero ver todos vocês no festival!
Alexander Vinicius de Mello
Diretor e Curador
Site do Festival: http://www.riofgc.com/
As rapidinhas do Sr Comunica - as duplas impagáveis
29 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda2 - As eleições municipais estão chegando. Mas, por enquanto, quem está em alta é o aumento dos pedágios estaduais em São Paulo, que sobem até R$ 1,10 no próximo domingo.
3 - Rio de Janeiro e São Paulo possuem suas rixas bairristas e imbecis. Sou paulista, moro na cidade carioca e sei bem o que é isso. Mas algo têm em comum: governos que insistem em mentir e esconder a violência crescente e desenfreada em suas capitais. Nos dois casos, a mesma mídia é quem oferece a maior ajuda ao espetáculo, propagandeando os incontáveis progressos da Segurança Pública.
4 - Kassab, prefeito de São Paulo, sonha em criar o EUSP: os Estados Unidos de São Paulo. Para tanto, até copiou uma medida ridícula já aprovada em cidades norte-americanas, a de proibir a distribuição dos sopões nas ruas da capital. Alimentar os famintos, para Mister Kassab, agora é crime. We can?
5 - Com tantas proibições esdrúxulas em São Paulo (promovidas pelo governo estadual e municipal), como a do fumo, de caminhões, de carona em motos, de jalecos, de celulares em bancos, etc, já se especula que a próxima medida será proibir, de uma vez por todas, viver em Sampa. Ninguém aguenta mais.
6 - Cláudio Monteiro, ex-chefe de gabinete de Agnelo Queiroz, abre seus sigilos bancário, fiscal e telefônico, e depor na CPI do Cachoeira, apesar de ter um habeas corpus do STF lhe garantindo o direito de se calar. Citado em escutas, Monteiro nega ligação com o Carlos Cachoeira - no Blog do Azedo.
7 - Segundo o censo 2010, o número de religiosos no país está assim:
- 22,2% de evangélicos;
- 64,6% de católicos;
- 2% de espíritas;
- 8% declara não ter religião.
8 - Mano Brown pediu e Lula ouviu. O rap também terá espaço no Memorial da Democracia, também conhecido como 'Museu do Lula', a ser construído na região da Crackolândia, em São Paulo. "Nós também do rap temos que ter espaço", pediu Mano esta semana, em reunião ocorrida dentro da Fiesp.
9 - Pensaram que os irmãos eram um casal gay. Esse caso mostra o perigo que é ser homossexual e demonstrar carinho em público. José Leonardo da Silva, 22 anos, não imaginava que o gesto inocente de caminhar abraçado com seu irmão gêmeo, José Leandro, despertaria a ira de outros homens. Os gêmeos foram espancados por cerca de oito pessoas na madrugada do último domingo (24) quando voltavam do Camaforró, na cidade de Camaçari (Grande Salvador). Leonardo morreu no local ao receber várias pedradas na cabeça, enquanto Leandro foi levado ao Hospital Geral de Camaçari com um afundamento na face, mas já recebeu alta. LEIA MAIS EM PRAGMATISMO POLÍTICO.
Wladimir, da DEMOCRACIA CORINTHIANA: “o futebol é um paraíso de oportunistas”
29 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda
Ídolo alvinegro critica financiamento público do futuro estádio do Corinthians e lamenta a estrutura de base do futebol
Como bom lateral que foi nos cerca de 20 anos de carreira, Wladimir faz fora do campo uma movimentação parecida àquela que fazia dentro dele. Ora se lança ao ataque e diz claramente suas posições, como faz com relação ao financiamento público do estádio do Corinthians: “Não concordo. Penso que o Estado deveria se ocupar de outros investimentos”. Ora recua, volta para marcar e assume posições mais cautelosas, como quando perguntado sobre o legado da Copa do Mundo: “Sou cético. Estou na expectativa”.
Vindo das categorias de base do Parque São Jorge, Wladimir Rodrigues do Santos ainda hoje é dono da marca histórica de ser o jogador que mais vezes vestiu a camisa do Corinthians, com 805 jogos – apesar de ter deixado o clube pela última vez em 1987. O ex-atleta foi revelado pelo Alvinegro em 1973 e ficou quase 14 anos no clube (entre 1986 e 1987 jogou pela Ponte Preta e pelo Santo André). “Hoje as equipes só se preocupam em formar atletas para colocar no mercado internacional” diz o homem que fez parte da Democracia Corinthiana, ao lado do grande Sócrates.
Na segunda entrevista da série que convida jogadores e apaixonados por futebol a pensar a Copa, Wladimir critica a falta de organização e infraestrutura do Brasil para abrigar o megaevento de 2014, fala sobre a mercantilização das categorias e base dos clubes e lembra as conquistas da Democracia Corinthiana. Leia:
Bom, para começar: o que você acha de o Brasil sediar a Copa do Mundo?
Eu diria que é um ato de coragem, em um país onde a gente carece de infraestrutura esportiva adequada e está tendo que fazer tudo em toque de caixa. Sem dúvidas, a gente acredita que o legado que ficará vai ser de grande valia para os esportistas de todo o Brasil.
Em que sentido?
No sentido de infraestrutura, no sentido de organização. Isso tudo eu espero que sirva de referência para que a gente consiga utilizar aqui no Brasil, além da infraestrutura, a organização que tem que imperar num torneio internacional, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Infelizmente ainda carecemos dessa organização e de infraestrutura.
Recentemente, o Copa Pública entrevistou o zagueiro Paulo André e ele disse a seguinte frase: “Hoje temos cargos políticos e não técnicos para conduzir o futebol”. Você concorda com ele?
Concordo. O futebol, na verdade, é um paraíso de oportunistas. As pessoas se acham no direito e na condição de gerenciarem, de administrarem o esporte mais popular do país sem o menor preparo, sem a menor ética, enfim.
Você fez parte da Democracia Corinthiana, movimento que ficou na história do futebol. Qual é a sua opinião sobre o papel do jogador de futebol hoje? Você acha que falta o jogador se posicionar com relação a vários aspectos do futebol, inclusive a realização da Copa do Mundo no Brasil?
Eles não se posicionam porque isso seria uma “saia-justa”, no caso de eles terem opinião contrária, até porque os números que envolvem o futebol hoje eu diria que contribuem para que cada um se posicione da forma que melhor lhe convém. Eles não estão preocupados com a infraestrutura do futebol, com a organização. Enfim, cada um busca os seus interesses.
Você falou um pouco sobre o legado que a Copa pode trazer em termos de infraestrutura. Mas você acha que a Copa do Mundo poderia servir para repensar a estrutura do futebol, esses cargos políticos, as condições de trabalho dos atletas, enfim, esse legado menos palpável?
Não porque a cultura do país é outra, é essa, é oportunismo. A oportunidade que impera. E aí, infelizmente, isso não vai ser resultado de uma Copa do Mundo, de uma Olimpíada, que vá mudar a mentalidade do nosso país.
Você foi jogador e é pai do Gabriel (lateral-direito, revelado pelo São Paulo, com passagens por Fluminense e Cruzeiro, e atualmente no Grêmio), que também é jogador. O que mudou em termos de formação de base do seu tempo para o tempo do Gabriel?
Eu diria que os clubes buscaram se estruturar melhor nas categorias de base, porque é ali que eles formam o seu patrimônio, mas está muito longe do ideal. Hoje, mais do que na minha época, se eles conseguirem formar um atleta no clube, com certeza muita gente vai ficar rica. Na minha época, não. Na minha época se formava os atletas para atender a equipe profissional. Hoje a gente forma jogador para colocar no mercado internacional. Isso chama-se oportunidade. Hoje a maioria dos dirigentes visam essa possibilidade, de estarem no meio e se beneficiarem dele.
O que você acha do financiamento do estádio do Corinthians ser feito com dinheiro do BNDES e da isenção fiscal?
Isso é complicado. Eu penso que o Estado poderia se ocupar de outros investimentos que atendessem um número maior da população, um número maior de bairros, enfim. Mas essa é a nossa cultura. O Morumbi foi construído dessa forma, com ajuda do Estado e por aí vai. Não concordo.
Você disse que o futebol é um mar de oportunistas. Quais são os principais interesses que cercam o futebol?
Se antes os clubes tinham a preocupação de formarem os seus atletas para servirem as suas equipes, para ter reforçado o seu grupo, hoje as equipes se preocupam em formar atletas para colocar no mercado internacional. E o atleta não tem culpa disso, porque isso vem de cima para baixo. Na nossa época era diferente. Na nossa época, por exemplo, eu tive algumas sondagens até para sair do Corinthians no início da carreira, e o Matheus [Vicente Matheus, presidente do Corinthians em oito mandatos (1959, 1972, 1973, 1975, 1977, 1979, 1987 e 1989 que faleceu em 1997] não aceitava nem conversar. Era um grupo, uma filosofia de trabalho totalmente diferente da de hoje. Hoje os clubes vivem para isso: formar atletas, que normalmente tratam como mercadoria porque não preparam esse atleta da forma como ele deveria ser preparado, não só esportivamente, mas intelectualmente também. Não existe essa preocupação. E [os clubes querem] colocar jogadores no mercado, esse é o interesse de hoje. Na minha época não existia isso.
Gostaria de voltar ao tema Democracia Corinthiana. Olhando para trás, como você avalia aquele momento?
Acho que aquele momento foi único. A gente vivia um tempo obscuro da nossa política, com muita centralização de poder e nós não tínhamos a oportunidade de eleger prefeito, governador, nossos mandatários. Hoje é diferente, já temos essa possibilidade. Então a gente acabou, na verdade, assumindo uma postura de buscar a redemocratização desse país, de contribuir para que o país tivesse uma abertura política. A gente fica feliz de ter podido contribuir naquele momento e eu acho que nós só exercemos o nosso papel de cidadãos.
Você acha que hoje falta um movimento semelhante dos atletas? Falta união, se não para cobrar democracia, para buscar melhores condições, questionar estruturas do futebol que já estão consolidadas?
Acho que as melhores conquistas a gente conseguiu. A nossa geração conseguiu. A Lei do Passe, por exemplo [Lei nº 6.354, de 1976] . Na nossa época a lei era escravagista, a gente não tinha liberdade de ir e vir. E a gente conquistou isso. Então, hoje, quando acaba o contrato do atleta ele está livre e isso é tudo que um trabalhador quer. Se ele não quiser mais ficar no clube, ele sai, e se o clube também não quiser, pode mandá-lo embora. São avanços que a nossa geração conseguiu. O universo do futebol é muito autoritário, e as coisas sempre acontecem de cima para baixo e hoje ninguém vai querer bater de frente com dirigentes, enfim. Hoje o marketing esportivo também contribui para que o volume de recursos do futebol seja muito maior e, portanto, eles têm muitas regalias e acabam não tendo interesse em buscar conquistas.
O que você acha que a Copa poderia trazer de discussão para o país que não está trazendo?
Eu diria que a Copa, assim como as Olimpíadas, traria para o Brasil um nível de discussão sobre o que representa o esporte, a atividade física na vida das pessoas, né? Com organização, com equipamentos de alto nível para que as pessoas possam se exercitar, isso gratuitamente. Eu acho que a atividade física, o lazer, é direito de todo cidadão e é um dever do Estado. Penso que o esporte de alto rendimento que é o que representa uma Copa do Mundo, uma Olimpíada, poderia servir de referência para o mundo inteiro, porque o mundo inteiro se une em torno destas competições. Aliás o Kofi Annan, que foi secretário-geral da ONU, fez um artigo uma vez para a Folha de São Paulo sobre como ele inveja a Copa do Mundo, que é um evento que mobiliza cada metro quadrado da terra, as pessoas discutem, existem regras claras de classificação e que ele gostaria, por exemplo, que houvesse uma competição entre esses países sobre o Índice de Desenvolvimento Humano, sobre a mortalidade infantil, sobre a fome. O futebol consegue mobilizar as pessoas, consegue fazer com que as pessoas deem as mãos sem nunca terem se visto e o esporte para mim é isso: confraternizar, respeitar a diversidade e a individualidade. As pessoas hoje vivem doze horas para trabalhar e só. Descansam pouco, se alimentam mal, voltam a trabalhar mais doze horas e o esporte alimenta a alma, né?
Pensando na Copa do Mundo de 2014, você acha que o Brasil dá mais esperança dentro ou fora das quatro linhas?
Olha, sou cético e acho que nem dentro e nem fora de campo. Estou na expectativa.
(Publicado em Agência Pública por Ciro Barros)
O blog Copa Pública é uma experiência de jornalismo cidadão que mostra como a população brasileira tem sido afetada pelos preparativos para a Copa de 2014 – e como está se organizando para não ficar de fora.
As vozes da tortura - vídeo
28 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaA pastoral carcerária gravou depoimentos de vítimas de tortura em 20 estados brasileiros. Os relatos vão de espancamentos pela polícia civil e militar no momento da prisão até repetidas agressões dentro de unidades de detenção.
Publicado pela Agência Pública