Pedro Serrano: ‘Não conheço caso mais grave na história do Judiciário brasileiro’
10 de Junho de 2019, 19:17"O processo contra Lula demonstra absoluta nulidade", avalia jurista Pedro Serrano sobre atuação de Moro e Dallagnol |
Na avaliação do jurista Pedro Serrano, conversas vazadas pelo The Intercept mostram a adoção de atitudes jurídicas com finalidade política. "O que é gravíssimo"
Publicado por Glauco Faria, da RBA
São Paulo – “O que era uma crítica teórica feita por acadêmicos, crítica jurídica feita por juristas, e crítica política realizada por determinados segmentos se transformou em prova e no maior escândalo do Judiciário brasileiro.” Esta é a avaliação do professor de Direito Constitucional da PUC-SP Pedro Serrano sobre o conteúdo das conversas entre procuradores da Operação Lava Jato e o então juiz Sergio Moro revelado pelo The Intercept Brasil.
“É chocante tudo que foi feito, não dá para minimizar o fato. Houve um tipo de relação entre juiz e procuradores absolutamente antiética e fora de qualquer padrão de legalidade”, diz, em entrevista a Marilu Cabañas e Glauco Faria na Rádio Brasil Atual. Para Serrano, as conversas “mostram a adoção de atitudes judiciais ou pretensão de adotá-las com finalidade politica, para interferir em eleição inclusive, o que é gravíssimo”.
Segundo o jurista, dadas as evidências expostas pela reportagem, a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também é questionável. “O processo contra Lula demonstra absoluta nulidade, se for mantido o Judiciário brasileiro demonstra ausência de cumprimento mínimo da Constituição e normas básicas de civilização. Temos provado documentalmente a parcialidade de Moro e os procuradores agiram politicamente. Essa documentação foi obtida aparentemente de forma ilícita, não creio que seja apta para gerar a criminalização de ninguém, isso não significa que essa documentação não possa beneficiar réus. Um deles é Lula. A atitude seria adequada do ponto de vista ético o afastamento desses procuradores, o mínimo para dar uma resposta à sociedade, vi que o MP reagiu”.
Ainda de acordo com Serrano, o argumento de ilegalidade sobre as conversas vazadas pode não ser aplicado se o responsável pelo vazamento for um dos participantes da conversa. “Se foi algum participante de conversa que vazou talvez não seja ilegal, aparentemente houve ilicitude, há suspeita de que o telefone foi hackeado, interceptação telefônica. Mas se foi um interlocutor, eu posso divulgar a conversa se tenho conhecimento de crime, ainda mais em um caso desses. Coloca em xeque o Estado brasileiro, não dá pra minimizar isso”, avalia o jurista.
Bem-vindos ao Hellfare State, o Estado de Mal Estar Socia
9 de Junho de 2019, 10:04por Juan Ricthelly
As Sociais Democracias europeias estabeleceram o conceito e a prática do Welfare State, o Estado de Bem Estar Social, que seria basicamente um Estado comprometido com a cartilha econômica capitalista, mas de olho nos aspectos sociais e humanos da sociedade, garantindo educação e saúde, públicas e de qualidade, e leis trabalhistas que buscavam equilibrar as relações de trabalho em benefício dos trabalhadores, dando a ideia de um capitalismo humanizado, como contraponto ao proposto pela esquerda socialista.
No Brasil, a Constituição de 1988, pacto social firmado entre as forças políticas emergentes e sobreviventes de uma Ditadura Cívico-Militar que durou 21 anos, tentou-se desenhar por meio de uma constituição de aspecto programático, com metas e objetivos a serem atingidos ao longo dos anos, um Estado de Bem Estar Social como política de Estado, a ser perseguida em alguma medida por todos os governos que se sucedessem ao longo da gestão do país.
E foi assim, que se convencionou consagrar no Art. 5 da Constituição e ao longo do texto, uma sequência importantíssima e em alguns aspectos inéditas, de Direitos e Garantias para o conjunto de cidadãos elevados à categoria de sujeitos de direitos na Nova República.
Havendo o compromisso expresso do Estado de erradicar a pobreza, o analfabetismo, as desigualdades regionais e a construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária, sendo saúde, educação, cultura, meio ambiente, a função social da propriedade, o trabalho como valor edificante da dignidade da pessoa humana e o bem estar da população, balizadores do papel que o Estado deveria ter nesse novo velho Brasil.
Ao longo de todos os governos que sucederam esse raro momento de acerto histórico de nossa nação, muitos desses objetivos nobres foram sendo abandonados e vendidos, quase sempre em nome da ortodoxia neoliberal, que possui a maestria maligna de converter as necessidades humanas mais básicas em mercadoria.
Então, da promulgação da Constituição até aqui, assistimos o entreguismo escancarado de nossas riquezas ao capital financeiro, a precarização das relações de trabalho em benefício dos patrões e o congelamento dos gastos públicos sociais para pagamento de juros e amortização da dívida pública.
E esse novo governo que assumiu nosso país esse ano, é a coroação de todo esse processo de desmantelamento da tentativa de construção de um Estado de Bem Estar Social no Brasil. Que mesmo com todas as limitações e contradições que obviamente possui, pode ser definido como a primeira tentativa real de se constituir um Estado comprometido com as questões sociais.
Estava lendo um livro hoje, e cheguei à seguinte conclusão, só existe uma única pessoa que sabe exatamente o que está fazendo no governo Bolsonaro, e essa pessoa se chama Paulo Guedes, e o objetivo dele é nítido, é a destruição sistemática do que se conseguiu construir, com a implementação do Hellfare State, um Estado de Mal Estar Social, onde resumidamente se reduz criminosamente o papel e compromisso do Estado com os seus cidadãos, por meio de um discurso meritocrático e liberdade individual, num cenário onde a liberdade é condicionada por sua capacidade de consumo, calcada num mercado de trabalho com relações precarizadas em benefício dos lucros dos empregadores, então educação, saúde e previdência se convertem se convertem em serviços, onde tem, quem conseguir pagar, não sendo mais entendidas como direito de todo cidadão e dever do Estado.
E nada disso é algo novo, já foi implementado com a participação dele (Paulo Guedes) inclusive, em outro lugar não tão longe daqui, no Chile, ao custo da implantação da ditadura mais sanguinária da América do Sul, com um saldo de milhares de mortos, desaparecidos, torturados e perseguidos politicamente.
Se você ainda não tem, e quer ter uma noção do que esse homem planeja para o nosso país, estudem sobre o que foi feito no Chile, flexibilização de leis trabalhistas e enfraquecimento de sindicatos, que fragilizaram a posição do trabalhador frente ao patrão, uma reforma da previdência com regime de capitalização sem a participação dos patrões, que paga hoje aposentadorias menores que o salário mínimo local, e gerando lucros exorbitantes para meia dúzia de empresas que gerem esses fundos, um sistema educacional estruturado na subvenção do Estado a grupos ligados ao ensino privado, por meio de vouchers, onde o ensino público tem pouco espaço, concentrando alunos e recursos em instituições privadas.
O Estado assumiu um papel subsidiário perante às necessidades de seus cidadãos, de modo que ele somente assume aquilo que não for do interesse da iniciativa privada. E embora o Chile seja utilizado constantemente como exemplo bem sucedido das práticas neoliberais, pouco se questiona a que custo isso foi feito e quais são os efeitos práticos disso na vida e no dia a dia das pessoas.
Se muito se fala em ‘socialismo real’ para se referir ao fracasso de experiências socialistas do passado, o Chile poderia muito bem ser definido como um exemplo do ‘neoliberalismo real’, refletindo uma realidade onde a liberdade das empresas e do Mercado é absoluta, e a dos indivíduos condicionada por sua capacidade de se submeter, consumir e adquirir bens e serviços, que em outras partes do mundo são direitos básicos de todo cidadão.
Um exemplo disso em nosso país é o corte sistemático de recursos destinados ao SUS, e o perdão de dívidas monstruosas de empresas de saúde do setor privado nos últimos 12 anos (400 bilhões de reais), tendência que segue sendo mantida no atual governo, recursos esses que poderiam estar sendo investidos na promoção e no aperfeiçoamento da Saúde Pública.
E após decisão recente do STF sobre as empresas estatais, um tsunami privatizador se aproxima de nosso país, ameaçando transformar necessidades humanas básicas em mercadoria e condicionar o exercício do que antes eram direitos em fruição de serviços.
E aqui se faz importante, questionar quem conseguiu ler até esse ponto: Qual deve ser o papel do Estado perante seus cidadãos?
Não se esqueçam jamais, que quando tudo for privado, seremos privados de tudo!
Neymar expôs, com crueldade, a intimidade vivida com uma mulher
8 de Junho de 2019, 21:19Foto: Reprodução Instagram |
Em artigo publicado no site da revista Marie Claire, a antropóloga Debora Diniz analisa os desdobramentos da acusação de estupro de Neymar: "O que circula é a versão de um homem poderoso com mais audiência que qualquer veículo de comunicação no planeta"
Neymar foi acusado de estupro e nega o crime. Ao invés de aguardar a investigação policial ou mesmo se pronunciar com amparo de advogados, optou por expor-se ao mais vulgar tribunal de justiça do planeta, as mídias sociais. Sua conta no Instagram, que está entre as 10 com mais seguidores na história, fez com que 120 milhões de pessoas fossem alcançadas com seus seis minutos de explicações. Em instantes, de algoz passou a vítima.
A narrativa de Neymar pode ser espontânea ou parte de uma estratégia calculada de defesa. Para um crime de difícil comprovação, como é o estupro em relações que se estabelecem consensuais, Neymar fez uso de uma tática moral que ressoa no imaginário de gênero – os homens seriam seres vulneráveis à artimanha erótica de mulheres sedutoras. Ouvimos sua voz como narrador, enquanto a vítima é exposta em diferentes níveis da breve intimidade vivida: vemos partes de seu corpo erotizado, lemos frases soltas de um jogo de sedução. Quem o assiste passa a ser voyeur da vida sexual de homens famosos, porém ingênuos.
Como recuso o papel de participante no tribunal global, me interessa acompanhar os efeitos de sua narrativa para a composição de quem seria a “vítima” do escândalo ou da violência: se ele ou a mulher. Os julgadores do tribunal atuam ainda como detetives de datas e textos, passam a discutir evidências sobre quem estaria falando a verdade. Se à mulher coube a voz inicial de acusação, em resposta, Neymar fez uso de um poder inalcançável a quase qualquer outra pessoa no planeta: um palanque exclusivo de autodefesa. Em sua versão dos fatos, ela foi lançada ao papel de sedutora interesseira, e ele de vítima da natureza masculina para o sexo e do poder traiçoeiro.
Os juízes do tribunal virtual ignoram que a intimidade exposta para milhões de pessoas nada prova sobre a alegação do crime de estupro. O que circula é a versão de um homem poderoso com mais audiência que qualquer veículo de comunicação no planeta. Sua narrativa se ancora em elementos do fascínio pelo sexo e na fácil desqualificação das mulheres vítimas de violência sexual. A mim, não interessa vasculhar o corpo dessa mulher anônima, mas protegê-la.
Não sabemos a verdade do estupro, mas sabemos a crueldade com que Neymar expôs a intimidade vivida com esta mulher e com que a lançou à cena da pornografia global no intuito de atiçar o voyeurismo sexual. Como uma isca ao machismo latente, a adesão foi rápida: o papel do menino pobre foi colorido com a ingenuidade erótica comum aos homens quando se veem seduzidos por mulheres bonitas. Neymar seria só mais um “menino” que caiu nas artimanhas do sexo, e como prova, dizem os julgadores virtuais, basta ver as imagens enviadas pela mulher. O contraponto do “menino ingênuo” de 27 anos é a mulher interesseira ou prostituta. O enredo da defesa parece perfeito para silenciá-la: ela é duplamente culpada – pelo sexo indevido e pela exposição da intimidade de um menino.
do Portal Vermelho
“Defendia a execução de criminosos, mas quando se deparou com um criminoso fardado, não fez nada”
8 de Junho de 2019, 18:32Eu perguntei o que o impedia, ele respondeu com toda a sinceridade: porque sou cúmplice e não quero ser preso nem morto pelos policiais que denunciaria
por Martel Alexandre del Colle no Justificando
Escrever mudou bastante a minha vida. Comecei a escrever porque fui transferido, perdi contato com muitos policiais, e estou afastado de serviço. Mas escrever também me deu a oportunidade de conhecer pessoas fantásticas e de ouvir histórias muito reveladoras sobre o sistema policial.
Uma história que me chamou bastante a atenção veio de um policial que começou a se comunicar comigo de maneira anônima. Ele me encontrou em uma rede social – uma das poucas que mantive – e disse que acompanhava os meus textos pelo justificando.
Se todos fazem e ninguém reclama, se eles fizeram na minha frente e na frente do tenente, então isso não deve ser tão errado
Ele relatou que foi policial e que se sentiu representado nos meus textos. Começamos a conversar com mais frequência até que ele resolveu contar um pouco da sua experiência como policial. Ele me relatou que presenciou diversas torturas. Disse que sentia vontade de denunciar esses abusos.
Eu perguntei a ele o que o impedia de denunciar. Ele me respondeu com toda a sinceridade: porque sou cúmplice e não quero ser preso, e porque não quero ser morto pelos policiais que eu denunciaria.
Começamos uma conversa sobre denúncias de crimes dentro das instituições policiais. Por que é tão difícil um policial denunciar a tortura dentro dos órgãos de polícia? Ele me respondeu com a história que eu queria contar desde o início para vocês.
Ele relatou que, quando ainda era um recruta, dirigia para um policial mais antigo (mais tempo de serviço). Durante um serviço à noite, ele conta que houve um assalto. Todas as equipes foram mobilizadas para encontrar os criminosos. Uma equipe encontrou-os numa estrada rural e o policial mais antigo decidiu ir lá para ver se conhecia os criminosos. Chegando ao local, o policial relata que já estavam lá outras equipes. Seis policiais estavam lá e os autores do crime estavam sendo torturados por uma dupla de policiais para entregarem os produtos do roubo. Posteriormente, chegou o oficial que fiscalizava a tropa. A tortura não parou e o oficial não fez nada.
Continuamos a conversa e o argumento dele era: como é que eu iria denunciar algo que todos os policiais sabem que existe e sobre o que ninguém faz nada?
Ele era um recruta e diz que temeu se mostrar horrorizado com aquilo e ser desprezado pela tropa, ganhar fama de covarde. Como era muito novo, relata que acabou entrando na cultura policial. “Se todos fazem e ninguém reclama, se eles fizeram na minha frente e na frente do tenente, então isso não deve ser tão errado, pensei.”
EUA passam a controlar quase 90% da importação brasileira de Diesel
8 de Junho de 2019, 18:11Duas fontes oficiais confirmaram hoje que o diesel é o produto mais importante do Brasil
A produção de diesel é nossa maior indústria, movimentando em média mais de R$ 70 bilhões por ano, segundo o IBGE.
O diesel também é o principal produto importado pelo Brasil, o que mais pesa em nossa balança comercial, nos custando em torno de 6 a 7 bilhões de dólares por ano, o que corresponde a quase R$ 30 bilhões.
Se o imperialismo americano olha para a Venezuela com olhos sedentos por seu petróleo, para nós, o seu interesse é controlar o nosso mercado de diesel: nosso consumo, um dos maiores do mundo, e nossas refinarias.
Após o impeachment de Dilma Rousseff, o Brasil passou a produzir cada vez menos diesel internamente e a importar quantidades cada vez maiores, e cada vez concentrando mais nossas compras num só fornecedor: os Estados Unidos.
Entretanto, como ainda produzimos, mesmo com todo o estrago promovido por Temer e já iniciado por Bolsonaro, mais de 70% do diesel consumido no país, há interesse, por parte dos grupos que controlam o refino de petróleo no mundo, e especialmente nos EUA, que é o maior exportador mundial de diesel, de assumir o controle também de nossas refinarias. Com isso, a submissão do Brasil aos interesses econômicos americanos será definitiva e completa.
Segundo o sistema Comextat, vinculado ao Ministério da Economia, o Brasil importou 5,8 bilhões de dólares em diesel nos últimos 12 meses, o que representou uma queda de 11% sobre o ano anterior; em quantidade, a queda foi de 25%, puxada sobretudo pela recessão econômica e pelos preços mais altos.
Entretanto, se olharmos apenas para os números dos EUA, vemos que as refinarias americanas, mesmo com toda a recessão no Brasil, e mesmo com a queda no total de nossas compras de diesel, mantiveram suas vendas para o Brasil relativamente estáveis. As vendas de diesel americano para o Brasil, nos últimos 12 meses, declinaram apenas 2%.
Com isso, a participação americana na importação brasileira de óleo diesel cresceu de 78% em 2017/18 para 86% nos mesmos 12 meses terminados em maio último.
É interessante observar que, dos 10 principais produtos importados pelo Brasil, 7 são relacionados ao petróleo ou à indústria de energia: óleo diesel, plataforma de petróleo, petróleo bruto, carvão, naftas, caminhão (que são movidos a diesel) e, por fim, gasolina.
Aliás, a importação de gasolina, na contramão da recessão, cresceu 7%, e nos custou US$ 850 milhões apenas nos cinco primeiros meses do ano
por João Lopes em O Cafezinho