Genocídio em Ruanda
6 de Abril de 2014, 15:52 - sem comentários aindaOs EUA estavam por trás do Genocídio de Ruanda: Instalando um Protetorado Americano na África Central
Por Michel Chossudovsky
Desde o início da guerra civil de Ruanda em 1990, a agenda oculta de Washington consistia em estabelecer uma esfera de influência americana em uma região historicamente dominada pela França e a Bélgica. O projeto americano era deslocar a França de apoiar a Frente Patriótica Ruandense [RPF] e armar e equipar seu braço militar, o Exército Patriótico Ruandense (RPA)
Paul Kagame |
Antes da irrupção da guerra civil em Ruanda, o RPA era parte das Forças Armadas Ugandenses. Pouco antes da invasão de outubro de 1990 de Ruanda, os ‘rótulos’ militares foram trocados. De um dia para outro, grandes números de soldados ugandenses se uniram aos escalões do RPA. Durante a guerra civil, o RPA foi suprido pelas bases militares das Forças de Defesa do Povo Unido (UPDF) dentro de Uganda. Os funcionários comissionados Tutsi no exército ugandense tomaram posições no RPA. A invasão de outubro de 1990 pelas forças ugandenses foi apresentada a opinião pública como uma guerra de libertação por um exército de guerrilha liderado pelos Tutsi.
A militarização de Uganda
A militarizaçao de Uganda era parte integral da política externa americana. A construção das forças ugandenses UPDF e do RPA tinha sido apoiada pelos EUA e Reino Unido. Os britânicos haviam fornecido treinamento militar na base militar de Jinja:
De 1989 em diante, a América apoiou os ataques conjuntos da RPF com os ugandenses em Ruanda… Havia ao menos 56 relatórios de situação nos arquivos do Departamento de Estado dos EUA em 1991. “Na medida em que as relações americanas e britânicas com Uganda e a RPF se fortaleciam, assim também escalavam as hostilidades entre Ruanda e Uganda”. Em agosto de 1990, o RPF tinha começado a preparar uma invasão com pleno conhecimento e aprovação da inteligência britânica.
As tropas do RPA de Ruanda e do UPDF de Uganda tinham também apoiado o Exército de Libertação do Povo de John Garang em sua guerra seccionista no sul do Sudão. Washington estava firmemente por trás das iniciativas com o apoio encoberto fornecido pela CIA.
Sobretudo, sob a Iniciativa de Reação à Crise na África (ACRI), oficiais de Uganda estavam também sendo treinados por Forças Especiais americanas em colaboração com um grupo mercenário, Recursos Profissionais Militares Inc (MPRI) que estava sob contrato do governo do Estado dos EUA. O MPRI tinha fornecido treinamento similar ao Exército de Libertação do Kosovo (KLA) e as Forças Armadas Croatas durante a guerra civil iuguslava e mais recentemente aos militares colombianos, no contexto do Plano Colombia.
A Militarização e a Dívida Externa de Uganda
Presidente Museveni |
Para onde foi o dinheiro? Os empréstimos estrangeiros ao governo de Museveni tinham sido alvejados para apoiar a reconstrução econômica do país. No despertar de uma prolongada guerra civil, o FMI patrocinou “o programa de estabilização econômica” exigindo maciços cortes no orçamento de todos os programas civis.
O Banco Mundial foi responsável pelo monitoramento do orçamento de Uganda em benefício de seus credores. Sob “revisão dos gastos públicos” (PER), o governo foi obrigado a revelar completamente a precisa alocação de seu orçamento. Em outras palavras, cada categoria de gasto – inclusive o orçamento do Ministério da Defesa – foi aberto para exame pelo Banco Mundial. A despeito das medidas de austeridade [impostas apenas aos gastos civis], os doadores tinham permitido que os gastos de defesa aumentassem sem impedimento.
Parte do dinheiro destinado aos programas civis tinha sido desviado para custear a Força de Defesa do Povo Unido (UPDF), que por sua vez, estava envolvido nas operações militares em Ruanda e no Congo. A dívida externa de Uganda estava sendo usada para financiar estas operações militares em beneficio de Washington com o país e seu povo pagando a conta. De fato, ao cortar os gastos sociais, as medidas de austeridade tinham facilitado a realocação do Estado de rendimentos a favor dos militares ugandenses.
Financiando ambos lados da guerra civil
Um processo similar de financiar gastos militares a partir da dívida externa tinha ocorrido em Ruanda sob o governo de Juvénal Habyarimana. Em uma cruel ironia, ambos os lados na guera civil eram financiados pelas mesmas instituições doadoras e como o Banco Mundial servindo de Cão de Guarda.
O regime Habyarimana tinha a sua disposição um arsenal de equipamento militar, incluindo lançadores de misssel 83 mm que causaram maciça cegueira, os belgas e os alemães fizeram o armamento leve, e armas automáticas como kalachnikovs feitas no Egito, China e África do Sul [bem como ... blindados AML-60 e veículos blindados M3]. Embora parte destas compras tenha sido financiada por ajuda militar direta da França, o fluxo dos desenvolvimentos dos empréstimos dos afiliados do Banco Mundial da Associação de Desenvolvimento Internacional (IDA), o Fundo de Desenvolvimento Africano (AFD), o Fundo de Desenvolvimento Europeu (EDF) bem como Alemanha, EUA, Bélgica e Canadá tinham sido desviados para custearem os militares e a milícia Interhamwe.
Uma investigação detalhada dos arquivos do governo, contabilidade e correspondência realizados em Ruanda em 1996-97 pelo autor – juntamente com o economista belga Pierre Galand -confirmou que muitas das compras de armas tinham sido negociadas fora da estrutura do governo por acordo de ajuda militar governamental por meio de vários intermediários e comerciantes particulares de armas. Estas transações – registradas como gastos de boa fé do governo – não obstantes não haviam sido incluidos no orçamento do Estado que estava sob supervisão do Banco Mundial. Grandes quantidades de facões de mato e outros itens usados nos massacres étnicos de 1974 - rotineiramente classificados como “comodidades civis” – tinham sido importados por regulares canais de comércio.
Segundo arquivos do Banco Nacional de Ruanda (NBR), algumas destas importações tinham sido financiadas em violação aos acordos assinados com os doadores. Segundo os registros do NBR das ordens de importação, aproximadamente um milhão de facões do mato tinham sido importados por vários canais, inclusive por Radio Mille Collines, uma organização ligada a milícia Interhamwe e usados para fomentarem o ódio étnico.
O dinheiro havia sido destinado pelos doadores para apoiar o desenvolvimento social e econômico de Ruanda. Foi claramente estipulado que os fundos não podiam ser usados para importar “gastos militares em armas, munição ou outro material militar’. De fato, o acordo de empréstimo com o IDA do Banco Mundial era até mesmo mais restritivo. O dinheiro não podia ser usado para importar bens civis tais como combustível, alimentos, remédios, roupas e calçados” destinados a uso militar ou para militar. Os registros do NBR não obstante confirmam que o governo de Habyarimana usou o dinheiro do Banco Mundial para importar os facões de mato que tinham sido rotineiramente clasificados como “bens civis”.
Um exército de consultores e auditores tem sido enviado pelo Banco Mundial para avaliar a “performace política do governo” Habyarimana sob o acordo do empréstimo. O uso dos fundos dos doadores para a importação dos facões de mato e outros materiais usados nos massacres civis não apareceram na auditoria independente comissionada pelo governo e o Banco Mundial. (sobre o acordo de empréstimo IDA. (IDA Credit Agreement. 2271-RW). Em 1993, o Banco Mundial decidiu suspender o desenbolso da segunda prestação de seu empréstimo IDA. Tinha havido, segundo a missão do Banco Mundial, desafortunadas “escorregadelas e atrasos” na implementação da política. As reformas de mercado livre não estavam mais a vista, as condições – inclusive a privatização de bens do Estado – não tinham sido realizadas. O fato de que o país estivesse envolvido em uma guerra civil nem mesmo foi mencionado. Como o dinheiro foi gasto nunca foi uma questão.
Conquanto o Banco Mundial tivesse congelado a segunda parcela do empréstimo IDA, o dinheiro garantido em 1991 tinha sido depositado em uma conta Especial no Banco Bruxelles Lambert em Bruxelas. Esta conta permaneceu aberta e acessível ao antigo regime [no exílio], dois meses depois de abril de 1994 dos massacres étnicos.
Acobertamento pós guerra
No despertar da guerra civil, o Banco Mundial enviou uma missão a Kigali com a visão de verificar o chamado “relato de finalização”. Este era um exercício de rotina, grandemente concentrado em matérias macro-econômicas, muito mais do que em questões políticas. O relatório reconheceu que “o esforço de guerra movimentou o antigo governo a aumentar substancialmente os gastos, bem além dos alvos fiscais concordados sob o SAP. A má apropriação do dinheiro do Banco Mundial não foi mencionada. Ao invés, o governo Habyarimana foi congratulado por “ter feito esforços genuinos – especialmente em 1991 – para reduzir os desequilíbrios financeiros domésticos e externos, eliminar as distorções atrazando o crescimento das exportações e introduzir mecanismos baseados no mercado para alocação de recursos…”. Os massacres de civis não foram mencionados; do ponto de vista dos doadores, “nada aconteceu”. De fato o relatório de finalização do Banco Mundial fracassou em até mesmo reconhecer a existência de uma guerra civil antes de abril de 1994.
No despertar da guerra civil: Restabelecendo as Mortais Reformas Econômicas do FMI
Em 1995, mal completado um ano dos massacres étnicos de 1994, os credores externos de Ruanda entraram em discussões com o governo liderado pelos Tutsis da RPF a respeito das dívidas do antigo regime que haviam sido usadas para financiar os massacres. A RPF decidiu reconhecer plenamente a legitimidade destas odiosas dívidas de 1990 a 1994. O homem forte da RPF, o Vice-Presidente Paul Kagame instruiu o Gabinete a não continuar com a matéria ou abordar o Banco Mundial. Sob pressão de Washington, a RPF não entrou em qualquer forma de negociação, sem falar ao menos em um diálogo informal com os doadores.
A legitimidade dos débitos do tempo de guerra nunca foi questionada. Ao invés, os credores cuidadosamente estabeleceram procedimentos para assegurar seu pronto reembolso. Em 1998, um encontro especial dos doadores em Estocolmo, um Fundo Multilateral Trust de 55.2 milhões de dólares foi criado sob a bandeira da reconstrução pós guerra. De fato, nenhum deste dinheiro era destinado a Ruanda. Tinha sido sinalizado para servir as “dívidas odiosas” de Ruanda com o Banco Mundial, o Banco de Desenvolvimento Africano e o Fundo Internacional para Desenvolvimento Agrícola (IFAD).
Em outras palavras, “dinheiro novo” – que Ruanda eventualmente teria que desembolsar – foi emprestado para que Ruanda pudesse cumprir os serviços da dívida usada para financiar os massacres. Os velhos débitos tinham sido trocados por novos sob a bandeira da reconstrução pós guerra. Os débitos odiosos haviam sido camuflados e tinham desaparecido dos livros. A responsabilidade dos credores tinha sido apagada. Sobretudo, o ato fraudulento foi também condicional sob a aceitação de uma nova onda de reformas do FMI e do Banco Mundial.
“Reconstrução e Reconciliação” Pós Guerra
O amargo remédio econômico foi imposto sob a bandeira da “reconstrução e reconciliação”. De fato, o pacote de reformas do FMI pós conflito era muito mais restritivo do que aquele imposto no início da guerra civil em 1990. Enquanto salários e emprego tinham caído a níveis abismalmente baixos, o FMI havia exigido um congelamento nos salários dos serviços civis juntamente com uma maciça redução dos servidores de saúde e de educação. O objetivo era o de restaurar a “estabilidade macro-econômica”. A desvalorização do serviço civil foi lançada. Os salários dos serviços civis não podiam exceder 4.5% do Produto Interno Bruto, para os assim chamados trabalhadores não qualificados [principalmente professores] que eram para ser removidos da folha de pagamento do Estado.
Enquanto isso, a renda per capita no país havia caído de 360 dólares antes da guerra para 140 dólares em 1995. Os rendimentos do Estado tinham sido alvejados para o serviço da dívida externa. Os débitos do Clube de Paris de Kigali foram reprogramados em troca de reformas de “mercado livre”. Os bens remanescentes do Estado eram vendidos ao capital estrangeiro a preço de barganha.
O governo do RPF liderado pelos Tutsi muito mais do que exigir o cancelamento das dívidas odiosas de Ruanda, tinha recebido as Instituições Bretton Woods de braços abertos. Eles precisavam da luz verde do FMI para impulsionar o desenvolvimento militar.
A despeito das medidas de austeridade, os gastos de defesa continuaram a crescer. O padrão de 1990-94 tinha sido reinstalado. Os empréstimos de desenvolvimento garantidos desde 1995 não foram usados para financiar a economia e o desenvolvimento social do país. O dinheiro externo novamente havia sido desviado para financiar a construção militar, desta vez do Exército Patriótico Ruandense (RPA). E esta construção do RPA ocorreu no período imediatamente precedente ao início da guerra civil no antigo Zaire.
A Guerra Civil no Congo
Seguindo a instalação de um regime cliente em Ruanda em 1994, os EUA treinaram as forças ruandenses e ugandenses para intervirem no antigo Zaire – uma fortaleza da influência francesa e belga sob o presidente Mobutu Sese Seko. Amplamente documentado, as tropas de operações especiais americanas – principalmente Boinas Verdes do 3o Grupo de Forças Especiais de Fort Bragg, N.C.- tinham estado ativamente treinando o RPA. Este programa foi uma continuação do apoio encoberto e ajuda militar fornecida ao RPA antes de 1994. Por sua vez, a consequência trágica da guerra civil ruandense incluindo a crise de refugiados, tinha estabelecido a programação para a participação do RPA de Uganda e Ruanda na guerra civil no Congo:
“Washington bombeou ajuda militar no exército de Kagame, e as Forças Especiais do Exército dos EUA e outras forças militares treinaram centenas de tropas ruandenses. Mas Kagame e seus colegas tinham seus próprios projetos. Enquanto os Boinas Verdes treinavam o RPA, o próprio exército estava treinando os rebeldes do Zaire. Em Ruanda, funcionários americanos publicamente apresentaram o engajamento deles com o exército como quase que inteiramente devotado a treinamentos de direitos humanos. Mas os exercícios das Forças Especiais também cobriram outras áreas, incluindo talentos de combate. Centenas de soldados e oficiais foram arrolados nos programas de treinamento dos EUA, realizados pelas Forças Especiais, tanto em Ruanda quanto nos EUA. Os ruandenses estudaram técnicas de camuflagem, movimento de pequenas unidades, procedimentos de liderança de tropa, desenvolvimento de equipe de soldados [etc]. E enquanto o treinamento se desenrolava, oficiais americanos estavam se encontrando regularmente com Kagame e outros líderes principais de Ruanda para discutir a continuada ameaça militar enfrentada pelo antigo regime vinda do Zaire. Claramente, o foco da discussão dos militares ruandenses e americanos havia mudado de como construir direitos humanos para como combater a insurgência. Com o apoio do presidente de Uganda Museveni, Kagame concebeu um plano para apoiar o movimento rebelde no leste do Zaire [chefiado por Laurent Desire Kabila] …
Paul Kagame e Bill Clinton |
Interesses Americanos nas Minas
Em jogo nestas operações militares no Congo estavam os extensos recursos do leste e do sul do Zaire que incluem reservas estratégicas de cobalto – de importância crucial para a indústria de defesa dos EUA. Durante os vários meses de guerra civil antes da queda de Mobutu, Laurent Desire Kabila baseado em Goma, leste do Zaire tinha renegociado os contratos de mineração com várias companhias de mineração americanas e britânicas inclusive com a American Mineral Fields (AMF), uma companhia baseada na terra natal do Presidente Bill Clinton, Hope, Arkansas.
Enquanto de volta a Washington, funcionários do FMI estavam ocupados revendo a situação macro-econômica do Zaire. Nenhum tempo foi perdido. A agenda econômica pós Mobutu já havia sido decidida. Em um estudo liberado em abril de 1997,
Mobutu Sese Seko |
As exigências do FMI eram equivalentes a manterem a inteira população em uma pobreza abismal. Elas tornaram impossível o início de uma reconstrução significativa pós guerra assim contribuindo para continuar o estímulo para a continuidade da guerra civil congolesa na qual perto de dois milhões de pessoas morreram.
Comentários Finais
A guerra civil em Ruanda foi um esforço brutal para o poder político entre o governo Hutu liderado por Habyarimana apoiado pela França e a Frente Patriótica Ruandense dos Tutsis (RPF) sustentada financeira e militarmente por Washington. As rivalidades étnicas foram usadas deliberadamente na busca dos objetivos geopolíticos. Tanto a inteligência francesa quanto a CIA estiveram envolvidas.
Nas palavras do ex Ministro de Cooperação Bernard Debré no governo do Primeiro Ministro Henri Balladur:
“O que esquecemos de dizer é que se a França estava de um lado, os americanos estavam do outro, armando os tutsis que armaram os ugandenses. Não quero retratar um fechamento entre os franceses e os anglo-saxônicos, mas a verdade deve ser dita”.
Além da ajuda militar às facções guerreiras, o fluxo de empréstimos de desenvovimento desempenharam um importante papel em “financiar o conflito”. Em outras palavras, tanto as dívidas externas de Uganda como as de Ruanda foram desviadas para apoiar os militares e paramilitares. A dívida externa de Uganda aumentou para mais de dois bilhões de dólares – isto é, um passo mais rápido do que aquela de Ruanda (um aumento de aproximadamente 250 milhões de dólares de 1990 a 1994). Em retrospecto, o RPA -financiado pela ajuda militar dos EUA e a dívida externa de Uganda – foi muito melhor equipado e treinado do que as Forças Armadas de Ruanda (FAR), leais ao Presidente Habyarimana. Desde o início, o RPA tinha uma definitiva vantagem militar sobre a FAR.
Paul Kagame |
“A decisão de Paul Kagame de abater o avião do Pres. Habyarimana foi um drama catalístico e sem precedentes na história de Ruanda, e o Major-General Paul Kagame tomou esta decisão com toda consciência, A ambição de Kagame causou o extermínio de todos da nossas famílias : Tutsis, Hutus e Twas. Todos perdemos. A tomada de poder de Kagame tomou as vidas de um grande número de Tutsis e causou um êxodo desnecessário de milhões de Hutus,muitos dos quais eram inocentes sob as mãos dos lideres dos grupos de genocídio. Alguns ruandenses ingênuos proclamaram Kagame como salvador deles, mas o tempo tem demonstrado que foi ele que causou o nosso sofrimento e infortúnio. Pode Kagame explicar ao povo ruandense porque ele enviou Claude Dusaidi e Charles Muligande para New York e Washington para parar a intervenção militar da ONU que supostamente foi enviada para proteger o povo ruandense do genocídio? A razão por trás de evitar a intervenção militar era permitir que a liderança do RPF tomasse o governo de Kigali e mostrasse ao mundo que eles – o RPF – eram aqueles que pararam o genocídio. Todos nos lembraremos que o genocídio ocorreu durante três meses, até mesmo embora Kagame tenha dito que ele era capaz de parar isto na primeira semana depois da queda do avião. Pode o Major-General Paul Kagame explicar porque ele pediu ao MINUAR para deixar o solo de Ruanda dentro de horas enquanto a ONU estava examinando a possibilidade de aumentar suas tropas em Ruanda para parar om genocídio?”
O testemunho de Paul Mugabe a respeito do abate do avião de Habyarimana ordenado por Kagame é corroborado por documentos da inteligência e informação apresentada no inquérito do parlamento francês. O Major General Paul Kagame foi um instrumento de Washington. A perda de vidas africanas não importava. A guerra civil em Ruanda e os massacres étnicos foram uma parte integral da política externa americana, cuidadosamente programada de acordo com precisos objetivos estratégicos e econômicos.
O objetivo de Washington era deslocar a França, desacreditar o governo francês [que havia apoiado o governo de Habyarimana) e instalar um protetorado anglo-americano em Ruanda sob o Major General Paul Kagame. Washington deliberadamente nada fez para evitar os massacres étnicos.
Quando uma força da ONU foi proposta, o Major General Paul Kagame buscou retardar sua implementação afirmando que somente aceitaria uma força de paz uma vez que a RPA estivesse no controle de Kigali. Kagame “temia que a proposta força de paz da ONU de mais de 5.000 soldados pudesse intervir e evitar a vitória da RPA”. Enquanto isso, o Conselho de Segurança depois de deliberação e relato do Secretário Geral Boutros Boutros Ghali decidiu adiar sua intervenção.
O genocídio de 1994 em Ruanda serviu estritamente a objetivos estratégicos e geopolíticos. Os massacres étnicos foram uma catastrófica explosão na credibilidade da França que possibilitou aos EUA estabelecerem uma nova neo colonia na África Central. De uma base distintamente franco-belga, a capital ruandesa de Kigali tinha se tornado – sob o expatriado governo tutsi liderado pela RPF – distintamente anglo-americana. O inglês se tornou a lingua dominante no governo e no setor privado. Muitos negócios particulares de propriedade de Hutus foram tomados em 1994 pelos retornantes expatriados Tutsis. Os últimos haviam se exilado na África anglófona, os EUA e a Grã Bretanha.
A influência francesa política e cultural será eventualmente apagada. Washington tem se tornado o novo mestre colonial de um país francófono.
Vários outros países francófonos na África Sub sahariana tem entrado em acordos de cooperação militar com os EUA. Estes países são notificados por Washington para seguirem o padrão estabelecido em Ruanda. Enquanto isto, na África francófona o dólar americano rapidamente está substituindo a moeda francesa – que é ligada a um acordo de moeda ao Tesouro Francês.
CASA BRANCA ESTÁ POR TRÁS DO CHOQUE ESPECULATIVO DA STANDART AND POOR’S CONTRA O GOVERNO DILMA
4 de Abril de 2014, 20:58 - sem comentários aindaCesar Fonseca
O que se pode deduzir das palavras bastante diplomáticas proferidas pelo consultor e jornalista Paulo Sotero, diretor do Brazil Institute of the Woodrow Wilson International Center for Scholars, na Comissão de Relações Exteriores do Senado, na quinta feira, 04, é que, como diria o Barão de Itararé, há muita coisa no ar além dos aviões de carreira.
Sotero, ex-correspondente do jornal O Estado de São Paulo, em Washington, um especialista formado em história, pela USP, profissional experimentado, destacou que são grandes as insatisfações da comunidade econômica e financeira americana com a situação criada pela suspensão da visita da presidenta Dilma Rousseff aos Estados Unidos, no segundo semestre do ano passado, devido ao episódio Snowden.
A espionagem americana, da NSC, bisbilhotou a vida da titular do Planalto, assim como a de diversos outros mandatários pelo mundo afora, e teve o troco inusitado na reação dilmista, que serviu de base para o comportamento geral dos líderes políticos, de reagiram para além dos métodos sofisticados da diplomacia.
Ângela Merkel, líder alemã, chiou.
Francois Hollandé, lider francês, idem.
A comunidade europeia reagiu forte.
Dilma, na verdade, fez escola. Marcou ponto político importante, sendo a primeira a mostrar-se enérgica com os métodos fascistas de Tio Sam, na área da inteligência. A ONU vocalizou favoravelmente a atitude da presidenta brasileira. Não, apenas, suspendeu a visita oficial que faria a Obama, quando estava previsto lançamento de marco importante nas relações dos dois países, colocando elas num novo patamar de prioridades, de acordo com os mais altos interesses norte-americanos, no continente sul-americano, tendo o Brasil como alavanca continental, na linha de torná-lo ponto de equilíbrio em meio às tensões políticas nacionalistas que se ampliaram na América do Sul, nos últimos dez anos etc.
O que deixou a Casa Branca abalada foi que logo após a suspensão da visita, Dilma anunciou a compra de aviões da Suécia, deixando virar fumaça as esperanças dos americanos de se tornarem clientes do Brasil, nessa área. Daí em diante azedou tudo.
Os empresários americanos, afirmou Sotero, perderam negócios da ordem de 6 bilhões de dólares, no Brasil, desde a decisão dilmista. Os canais de entendimento comercial, embora independam, muitas vezes, das relações político-diplomáticas, relacionando-se, quase sempre, nas vantagens das ofertas e demandas dos compradores e vendedores, tiveram seus fluxos, relativamente, abalados.
No ano passado, destacou Sotero, os americanos movimentaram, no Brasil, 135 bilhões de dólares, entre aplicações, investimentos etc. A balança comercial pendeu favoravelmente para os americanos em 7 bilhões de dólares. Sendo os gringos adeptos, antes de tudo, da diplomacia comercial – o negócio dos Estados Unidos são os negócios, já disse alguém -, certamente, pressionaram Obama.
O presidente americano, sob pressão, resolveu, da boca para fora, trabalhar diferente na área da inteligência, especialmente, com os aliados, dizendo que iria fazer e desfazer equívocos, como se isso fosse para valer. As tentativas de reaproximação diplomática estão em curso e os negócios avançam, mas cheios de constrangimentos de lado a lado, porque a soberba e a arrogância do império americano o impediram de atender o pedido de desculpas solicitado pelo governo brasileiro.
O bate-boca, claro, vai continuar. Mas, Sotero, no meio da sua argumentação, disse que, depois do choque Dilma-Obama, começou a engrossar uma onda contra a economia brasileira, ganhando força o que o mercado financeiro diz, sem parar, ou seja, que a confiança dele, no governo Dilma, estava perdendo força.
No rastro dessa ação, nitidamente, especulativa, o desgaste aumentou, por força, principalmente, da grande mídia, que compra, a preços super-faturados, as razões do mercado especulador, transformando no samba de uma nota só. Sotero, muito sutilmente, admitiu não descartar que o rebaixamento da nota de crédito da dívida brasileira, pela Standart and Poor’ , colocando o governo Dilma mal na cena internacional, não estaria desvinculada desse movimento de descrédito intensificado, depois que Dilma deu um chega prá lá em Obama por conta dos casos de espionagem.
Essa possibilidade está no ar, especialmente, quando se pode ver e sentir o tipo de ação que o governo americano, por meio da sua diplomacia comercial, promoveu contra o governo brasileiro, em 1964, cujas metas eram reformas políticas e econômicas que ampliavam o poder político das maiorias e o fortalecimento da economia, tornando-a sustentável. Materializadas, causariam incômodos à economia dos Estados Unidos.
O nacionalismo dilmista-lulista guarda relação com o nacionalismo janguista-varguista, de apostar nas riquezas nacionais, no mercado interno, na valorização dos salários, na proteção das empresas brasileiras, no fortalecimento de programas sociais etc, ou seja, tudo que incomoda os Estados Unidos. JK-65, isto é, a campanha eleitoral, já estava na rua, às vésperas do golpe militar, e a dinâmica da campanha juscelinista ancoravam-se no prosseguimento do desenvolvimentismo nacionalista. A aposta era a de uma nova agricultura, para ampliar a integração econômica nacional, ampliando o mercado interno e buscando conquistar o mercado internacional, onde os produtos agrícolas americanos davam as cartas.
Mesmo Carlos Lacerda, que jogou pelo golpe-64, já em 1966, partiria para a formação da Frente Ampla, com Jango e JK, no exílio, levantando o argumento semelhante ao que Lula brandiria, na crise de 2007/08, ou seja, o da necessidade de o Brasil apostar nas suas próprias forças, na valorização dos salários e do mercado interno, para promover o desenvolvimento sustentável.
Esse discurso, que ganhou sonoridade extraordinária na América do Sul, nas duas últimas décadas, com emergência de governos nacionalistas, foi o que levou Washington a financiar, nos anos 1960-70, golpes políticos e militares, nos rastros dos quais foram preparadas estradas para os interesses econômicos americanos transitarem sem serem incomodados pela opinião pública, barrada pela repressão política policial tenebrosa.
Repetindo, portanto, o Barão de Itararé, por trás da avalanche de acusações ao governo Dilma, os fatos latentes demonstram ser muito mais relevantes do que os meramente aparentes, manipulados pela grande mídia, porta-voz dos argumentos dos especuladores, no ambiente da financeirização econômica especulativa que tomou conta da economia global, abalada pela bancarrota americana e europeia.
Dilma, sim, virou pedra no sapato de Obama, de Washington, dos falcões do Pentágono, do mercado financeiro especulativo, que, mesmo dispondo de um juro mais alto do mundo, não se mostra satisfeito, querendo mais, agora, a cabeça dela, com medo de que, num eventual segundo mandato, se transforme num Hugo Chavez de saia.
O jogo é parar a economia brasileira, que, no entanto, cresce, embora, pouco, mas cresce, enquanto as economias ricas, como demonstrou o relatório do FMI, nessa semana, estão ameaçadas de morte pela escalada da deflação.
O Brasil incomoda por que vai bem, obrigado, num mundo em crise.
Ninguém chuta cachorro morto.
Fonte: Independência Sul Americana
Imagem: Google
Edward Snowden - Vigilância e liberdade na internet
31 de Março de 2014, 10:24 - sem comentários ainda
Através de um robô de telepresença, Edward Snowden fala na TED2014 sobre vigilância e liberdade na internet. O direito à privacidade de dados, ele sugere, não é uma questão partidária, mas requer uma reavaliação fundamental do papel da internet em nossas vidas e das leis que a protegem. "Seus direitos são importantes", diz ele, "porque nunca se sabe quando você vai precisar deles." Chris Anderson entrevista, com participação especial de Tim Berners-Lee.
O ser e o nada
30 de Março de 2014, 19:56 - sem comentários ainda"Por trás da toga punitiva, existe um vazio abissal" |
O retorno de Roberto D’Ávila à TV trouxe uma interessante entrevista, do ponto de vista do entrevistador, com Joaquim Barbosa.
O ego inflado de Barbosa enfrenta a elegância de D'Ávila |
Por Nirlando Beirão*
Roberto D’Ávila tem aquele jeito de moço fino, bonzinho e elegante, mas pode ser maquiavelicamente cruel. Em seu retorno à tevê, a bordo do Globo News, o suave D’Ávila elegeu uma notável vítima. Na estreia, sábado de madrugada (com incansáveis repetições), anunciou que iria levar ao ar o lado humano do ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF. Os telespectadores continuam procurando por ele. O apresentador esperou sete meses pelo sim de Joaquim Barbosa. O que mostra a férrea premeditação de sua malvadeza.
Foi uma interessantíssima entrevista, do ponto de vista do entrevistador. Para o entrevistado, um desastre. Mostrou que, por trás da toga punitiva, existe um vazio abissal. Barbosa é um nada estrepitoso. Duvido que um único dos torcedores partidários do ministro não tenha chegado ao fim daquela hora inteira de platitudes sem saborear insuportável decepção. Barbosa não produziu uma escassa ideia. Ele não tem nada a dizer além dos autos de sua particular Inquisição. Foi constrangedor.
D’Ávila, com luvas de pelica, jogava a isca e Barbosa, encouraçado em sua arrogância, nem sequer percebia. D’Ávila indicava, na delicadeza das perguntas, saída lisonjeira para a resposta. “O senhor lê muito, não é? Balzac?” Barbosa estufou o ego: “É, Balzac”. E mais não disse. “O que o senhor escuta?” “Tudo.” “Beatles ou Rolling Stones?” “Os dois.”
O único momento em que Barbosa demonstrou alguma emoção foi ao falar de racismo. Daquele jeito. O rancor pauta a vida dele. Deve ter sido mesmo muito humilhado. Sugeriu até que Lula nomeou-o para o STF de olho na cota, não em reconhecimento por seu currículo, brilhante, cosmopolita. Fica difícil assim: deixar de nomear um negro teria sido racismo. Nomear também é?
*Nirlando Beirão é editor especial da seção QI de CartaCapital
Fonte: Carta Capital
Imagens: Google
Carta dos armênios de Kessab para o mundo
30 de Março de 2014, 16:28 - sem comentários aindaOs armênios de Kessab, Síria, que fugiram de ataques de militantes extremistas da Turquia e atualmente vivem em refúgio em Latakia, emitiram um apelo dirigido aos armênios de todo o mundo. O texto integral da carta segue abaixo.
“No Dia das Mães, 21 de março de 2014, a nossa bela cidade foi brutalmente atacada por extremistas ligados à Al- Qaeda, com as bênçãos e pleno apoio militar e logístico do governo turco.
Antes do nascer do sol, nós acordamos para o horror de uma chuva de mísseis e foguetes caindo sobre nossa cidade. Milhares de extremistas cruzaram as fronteiras. Mísseis foram disparados da Turquia para destruir a bela Kessab e para celebrar a aproximação do 100 º aniversário do Genocídio Armênio. Heróis de Kessab defenderam a cidade com suas armas de caça simples até que mais forças do governo sírio vieram para revidar o ataque horrível em nossa cidade. Se os moradores de Kessab não fossem informados a deixar suas casas por esses heróis, o mundo teria silenciosamente testemunhado mais um genocídio e ficariam calados enquanto a mídia dar-lhes-ia uma outra versão, cheia de mentiras.
Kessab sempre foi o lar de milhares de armênios durante séculos. A primeira tragédia agonizante em Kessab aconteceu em abril de 1909, quando uma turba de milhares de homens turcos atacaram a cidade, roubando e queimando casas. 161 armênios foram mortos neste ataque brutal. Em 1915, durante o Genocídio Armênio, tropas turcas invadiram a cidade e iniciaram as deportações que ceifaram a vida de quase 5000 armênios de Kessab. O Genocídio Armênio comandado pelos turcos em 1915 tirou a vida de um milhão e meio de armênios. Mais armênios estão sendo mortos na Síria, e muitos ainda serão se nada for feito. Os árabes da Síria nos abrigaram, cuidaram de nós, nos ajudaram a ficar em pé e a sobreviver através desta horrível memória de morte e destruição e seremos eternamente gratos a eles. Desde então, vivíamos em paz e harmonia com outras seitas, como uma grande família em uma casa chamada Síria.
Hoje precisamos de ajuda mais uma vez porque, infelizmente, o governo turco se atreveu a atacar armênios mais uma vez ignorando a causa armênia. Com este ato, a Turquia recusou-se, mais uma vez, a reconhecer o Genocídio Armênio perpetrado pelos turcos e está contribuindo com o assassinato de mais de armênios na Síria. Não temos nada contra o povo turco. Temos vivido como vizinhos deles e queremos continuar a viver como vizinhos. Lutamos contra o governo turco, que apoia e facilita o assassinato dos moradores de Kessab por terroristas. Nós só queremos a nossa cidade de volta, ou o que resta dela. Estamos de coração partido pelos inúmeros vídeos e fotografias que mostram como esses extremistas estão destruindo e queimando a nossa bela cidade. Todos os sírios sabem que onde quer que esses extremistas entrem, somente morte e destruição são deixadas para trás.
Nossas casas foram tomadas de nós, séculos de nossa herança foi destruída.
Este é um chamado para todos os armênios. Este é um chamado para a humanidade. O mundo precisa ouvir a verdade. Erdogan e seu governo são criminosos de guerra. Precisamos da sua ajuda. Precisamos que você tome uma atitude. Nossas vidas dependem da esperança de que você faça alguma coisa para ter certeza de que nós também não morremos. Fomos forçados a sair de nossas casas e nossa cidade com nada além das roupas que vestíamos. Se ficássemos para coletar mesmo que apenas as necessidades básicas, teríamos definitivamente morrido. A maioria de nós não consegue nem escapar porque não temos os nossos passaportes ou documentos de identificação. Por favor, peça a intervenção de seus governos, da ONU, de qualquer outra autoridade que você acredite que pode nos ajudar. Tudo o que queremos fazer é viver. Se você ignorar isso, vamos todos morrer uma morte horrível nas mãos desses terroristas, sendo massacrados a sangue frio como muitos outros armênios em Aleppo, Yacoubiyeh, Ghenemiyeh, e em torno da Síria.
Aqueles que vocês chamam de rebeldes são extremistas, que vieram para a Síria para a jihad de muitas nacionalidades, como os afegãos, tchetchenos, e sauditas. Moradores de Kessab e de toda a Síria são atacados e mortos por eles. A mídia não pode esconder a verdade para sempre. Aqueles que vocês chamam de rebeldes objetivam atacar civis.
Você não acha que muito sangue inocente já foi derramado? Você não acha que a destruição já é suficiente? Nós todos vivíamos em paz e felizes há apenas três anos atrás. Esta não é uma revolução, esta é uma guerra. E o exército sírio está agora em Kessab lutando para se certificar que os armênios irão voltar às suas casas com segurança.”
Fonte: Estação Armênia
Imagem: Google
Um só dia fantástico é melhor do que toda uma vida miserável
29 de Março de 2014, 0:33 - sem comentários aindaUm só dia fantástico é melhor do que toda uma vida miserável
A grande jornada separou toda a família
A boa educação na sociedade foi prejudicada
A rota para a felicidade foi suprimida pela pobreza
A boa casa tornou-se o campo de batalha
O bom casamento, em paz e respeito, se transformou em divórcio
O bom provedor
Ficou conhecido como pai irresponsável
O poderoso chefe de família se tornou impotente
O jovem, outrora feliz, se tornou o mais impopular
A miséria é uma dor.
O grande trabalhador não é mais premiado
A partilha, feita pelo Divino, agora apresenta diferenças
O grito dos pobres merece a maior consideração.
O benfeitor tomou o caminho do crime, devido aos anos na prisão
A pobre criança se lembra de sua família miserável
Na vida, nada é mais difícil do que a mudança.
O desespero sempre cria o fracasso do sucesso futuro
A pobreza não é um vício
O mundo está chorando dia e noite,
Mas é o pobre que morre por falta de cuidados
A situação miserável escurece o bom caráter de uma pessoa honesta
A dificuldade do tempo
As coisas nas quais o homem perdeu a fé
A boa vida precisa de uma chance para ter sucesso
O sofrimento ensina
O pai não abandona a sua família por nada
A pobreza está na raiz dos vários desentendimentos e traições
Ser pobre no mundo é o desespero de uma vida dolorosa
É difícil ser pobre em um país de dólar
É realmente uma dureza
A pobreza é muito amarga na perplexidade
Há um tempo para tudo,
A mudança virá
Porque, para o valente de coração,
Nada é impossível.
Adama Konate
A criança negra do Mali
Turquia usa Al-Qaeda para justificar guerra contra a Síria
28 de Março de 2014, 19:18 - sem comentários aindaPor Mimi Al Laham – syrianews.cc
Uma conversa vazada entre o chefe de inteligência da Turquia e o gabinete de guerra revela plano para criar um casus belli contra a Síria, usando Al-Qaeda (ISIL[1]) para ameaçar o santuário turco tumba de Suleiman Shah[2] .A Turquia bloqueou o Youtube, a fim de encobrir os vazamentos. O Ministério dos Negócios Estrangeiros turco confirmou a gravação de planejamento para uma incursão militar na Síria, acrescentando que uma “rede de traidores” foi responsável pelo vazamento.
Parte 1 da transcrição (link: https://www.youtube.com/watch?v=c-1GooSDwJ8)
Na fita vazada,
Ministro das Relações Exteriores Ahmet Davudoğlu
Chefe da Inteligência Turca (MIT) Hakan Fidan
Subsecretário de chancelaria Feridun Sinirlioğlu
General Yaşar Güler
procuram um motivo (e querem criar um, se a conversa não for frutífera) para declarar guerra contra a Síria. O vazamento tem duas partes, a segunda ainda não foi traduzida para o inglês. Aqui está a primeira parte.
Planos de guerra visando as eleições – Parte 1
1º Slide:
Ahmet Davutoglu: Eu não compreenderia outra coisa, o que exatamente nosso Ministro da Relações Exteriores deveria fazer? Não, eu não estou falando disso. Há outras coisas que podemos fazer. Se decidirmos sobre isso, notificamos as Nações Unidas, o Consulado de Istambul do regime sírio, certo?
Feridun Sinirlioğlu: Mas se decidirmos sobre uma operação lá, o efeito deve ser impactante. Quero dizer, se o fizermos. Eu não sei o que vamos fazer, mas independentemente do que decidirmos, eu não acho que seria apropriado notificar ninguém de antemão.
Ahmet Davutoglu: OK, mas vamos ter que nos preparar de alguma forma. Para evitar problemas com o direito internacional. Eu só percebi quando eu estava conversando com o presidente (Abdullah Gül), se os tanques turcos forem para lá, isso significa que estaremos lá de qualquer forma, certo?
Yaşar Güler: Significa que estaremos lá, sim.
Ahmet Davutoglu: Sim, mas há uma diferença entre ir com aviões e ir com tanques …
2º Slide:
Yaşar Güler: Talvez possamos dizer ao consulado general sírio, que ISIL está atualmente trabalhando ao lado do regime, e esse lugar é solo turco. Devemos definitivamente …
Ahmet Davutoglu: Mas já dissemos isso, enviei várias notas diplomáticas.
Yaşar Güler: para a Síria …
Feridun Sinirlioğlu: Isso mesmo.
Ahmet Davutoglu: Sim, enviamos-lhes inúmeras vezes. Portanto, eu gostaria de saber do nosso ministro, quais as expectativas da nossa Chefia de Gabinete.
Yaşar Güler: Talvez sua intenção era dizer que, eu realmente não sei, ele se encontrou com o Sr. Fidan.
Hakan Fidan: Bem, ele mencionou essa parte, mas nós não entramos em detalhes.
Yaşar Güler: Talvez tenha sido isso que quis dizer… Uma nota diplomática à Síria?
Hakan Fidan: Talvez em coordenação com o Ministério das Relações Exteriores…
3º Slide:
Ahmet Davutoglu: Quer dizer, eu poderia coordenar a diplomacia, mas a guerra civil, os militares …
Feridun Sinirlioğlu: Isso é o que eu disse lá atrás. Por um lado, a situação é diferente. Uma operação contra o ISIL tem apoio do direito internacional. Nós mostramos que é a Al-Qaeda, não haverá perigo se estiver relacionado com a Al-Qaeda. E trata-se de defender a tumba de Suleiman Shah, é uma questão de proteger a nossa terra.
Yaşar Güler: Nós não temos problemas com isso.
Hakan Fidan: Depois que ocorrer, será uma grande comoção interna (com vários casos de atentados ocorrendo aqui dentro). A fronteira não está sob controle …
Feridun Sinirlioğlu: Quero dizer, sim, claro que os atentados acontecerão. Mas eu me lembro da nossa conversa de 3 anos atrás …
Yaşar Güler: Mr. Fidan deve receber apoio urgentemente e precisamos ajudá-lo a fornecer armas e munição para os rebeldes. Precisamos falar com o ministro. Nosso Ministro do Interior, o nosso Ministro da Defesa. Precisamos conversar sobre isso e chegar a um resolução, senhor.
Ahmet Davutoglu: Como colocamos forças especiais em ação, quando houve uma ameaça no Norte do Iraque? Deveríamos ter feito isso lá também. Nós deveríamos ter treinado esses homens. Nós deveríamos ter enviado homens. De qualquer forma, não podemos fazer isso, só podemos fazer o que a diplomacia …
Feridun Sinirlioğlu: Eu disse a você antes, pelo amor de Deus, General, você sabe como enviar aqueles tanques, você estava lá.
Yaşar Güler: O que, você quer dizer nosso material?
Feridun Sinirlioğlu: Sim, como você acha que nós conseguimos reunir nossos tanques no Iraque ? Como? Como conseguimos enviar forças especiais e os batalhões? Eu estava envolvido nisso. Deixe-me ser claro, não havia nenhuma decisão do governo sobre aquilo, conseguimos apenas com uma única ordem.
4º Slide:
Yaşar Güler: Bem, eu concordo com você. Por um lado, nós não estamos nem discutindo isso. Mas há coisas diferentes que a Síria pode fazer agora.
Ahmet Davutoglu: General, a razão pela qual estamos dizendo não à esta operação é porque que sabemos sobre a capacidade desses homens.
Yaşar Güler: Olha, senhor, a MKE (Mechanical and Chemical Industry Corporation) não está às ordens do ministro? Senhor, eu quero dizer, o Qatar quer comprar munição em dinheiro. À vista. Então, por que não acabamos logo com isso? Está sob o comando do Sr. Ministro.
Ahmet Davutoglu: Mas não é o ponto, não podemos agir de forma integrada, não podemos coordenar.
Yaşar Güler: Então, o nosso primeiro-ministro pode convocar tanto o Sr. Ministro da Defesa e o Sr. Ministro, ao mesmo tempo. Então, ele pode falar diretamente com eles.
Ahmet Davutoglu: Nós, o Sr. Siniroğlu e eu, literalmente imploramos para o Sr. primeiro-ministro para uma reunião privada, dissemos que as coisas não pareciam tão bem.
5º Slide:
Yaşar Güler: Além disso, não precisa ser uma reunião com muitos envolvidos. Você, o Sr. Ministro da Defesa, o Sr. Ministro do Interior e nosso Chefe de Gabinete, os quatro serão suficiente. Não há nenhuma necessidade para uma multidão. Porque, senhor, a principal necessidade lá, são armas e munição. Nem tanto armas, principalmente munição. Nós já falamos sobre isso, senhor. Digamos que nós estamos construindo um exército lá, de 1000 homens. Se os levarmos à guerra sem antes armazenar um mínimo de 6 meses de munição, estes homens vão retornarão em dois meses.
Ahmet Davutoglu: Eles já voltaram.
Yaşar Güler: Eles vão voltar para nós, senhor.
Ahmet Davutoglu: Eles voltaram a partir de … Onde foi? Çobanbey.
Yaşar Güler: Sim, é verdade, senhor. Este assunto não pode ser apenas um fardo sobre os ombros do Sr. Fidan como é agora. É inaceitável. Quero dizer, nós não podemos entender isso. Por quê?
6º Slide:
Ahmet Davutoglu: Naquela noite, tínhamos chegado a uma resolução. E eu pensei que as coisas estavam tomando um rumo. Nossa…
Feridun Sinirlioğlu: Emitimos a resolução do MGK (Conselho de Segurança Nacional) no dia seguinte. Então nós conversamos com o general …
Ahmet Davutoglu: E as outras forças realmente aproveitaram essa nossa fraqueza. Você diz que está indo capturar esse lugar, e que os homens que estão lá constituem um fator de risco. Você os traz de volta. Você captura o lugar. Você o reforça e envia suas tropas novamente.
Yaşar Güler: Exatamente, senhor. Você está absolutamente certo.
Ahmet Davutoglu: Certo? É assim que interpretei. Mas, depois da evacuação, esta não é uma necessidade militar. É uma coisa totalmente diferente.
7º Slide:
Feridun Siniroğlu: Há algumas mudanças sérias na geopolítica mundial e regional. Que agora podem se espalhar para outros lugares. Você mesmo disse hoje e outros concordaram … Estamos rumando para um jogo diferente agora. Precisamos enxergar isso. Que o ISIL e os outros, todas as organizações são extremamente manipuláveis. Tendo uma região composta de organizações de natureza semelhante constituirá um risco de segurança vital para nós. E quando fomos pela primeira vez ao norte do Iraque, havia sempre o risco do PKK explodir o lugar. Se considerarmos cuidadosamente os riscos e verificarmos… Como o general disse …
Yaşar Güler: Senhor, quando estávamos lá dentro agora à pouco, estávamos discutindo exatamente isso. Abertamente. Quero dizer, as forças armadas sempre são uma “ferramenta” necessária para você.
Ahmet Davutoglu: Claro. Eu sempre digo ao primeiro-ministro, na sua ausência, a mesma coisa no jargão acadêmico, você não pode ficar nessas terras sem força bruta. Sem força bruta não há diplomacia.
8º Slide:
Yaşar Güler: Senhor.
Feridun Sinirlioğlu: A segurança nacional tem sido politizada. Não me lembro de nada assim na história política turca. Tornou-se uma questão de política interna. Todos os discursos sobre defender nossas terras, nossa segurança das fronteiras, as nossas terras soberanas lá, tudo tornou-se política doméstica barata.
Yaşar Güler: Exatamente.
Feridun Siniroğlu: Isso nunca aconteceu antes. Infelizmente, mas …
Yaşar Güler: Quero dizer, há ao menos um dos partidos de oposição que o apoia em um ponto tão sério da segurança nacional? Senhor, isso seria justificável sob o a ótica da segurança nacional?
Feridun Sinirlioğlu: Eu nem me lembro de tal período.
9º Slide:
Yaşar Güler: De que outra forma poderíamos nos unir, se não uma questão de segurança nacional de tal importância? Nenhuma.
Ahmet Davutoglu: Em 2012, não fizemos o mesmo que em 2011. Se ao menos tivéssemos agido de forma séria à época, mesmo no verão de 2012.
Feridun Sinirlioğlu: Eles estavam por baixo em 2012.
Ahmet Davutoglu: Internamente, eles eram como a Líbia. Quem entra ou sai do poder não é de qualquer importância para nós. Mas algumas coisas …
Yaşar Güler: Senhor, para evitar qualquer confusão, a nossa necessidade em 2011 foi de armas e munição. Em 2012, 2013 e hoje também. Estamos no mesmo exato ponto. Para nós é absolutamente necessário encontrar e proteger este lugar.
Ahmet Davutoglu: Armas e munição não são tão necessários para aquele lugar. Porque não conseguimos deixar o fator humano em ordem…
Parte 2 da transcrição (parcial, link: https://www.youtube.com/watch?v=lm7eg0-IjlI)
Feridun Sinirlioglu: Deixem-me dizer o seguinte: é um pequeno pedaço de terra e pela lei internacional, é solo turco, por isso temos todo o direito de fazer uma operação e se a fizermos o mundo inteiro nos apoiaria, não resta dúvida disso.
Yasar Guler: Nós não temos nenhuma dúvida.
Yasar Guler: Essas forças especiais turcas estão esperando lá por um ano! Não planejamos tudo isso ontem. Eles estão esperando há um ano.
Ahmet Davutoglu: Kerry me disse exatamente isso: VOCÊS JÁ SE DECIDIRAM?
Yasar Guler: Sim, já nos acertamos 100 vezes com EUA
Feridun Sinirlioglu: 3 dias atrás americanos vieram para o quartel-general militar e eles tiveram uma reunião de coordenação de crise. Esta é a primeira vez que ouço isso deles.
Yasar Guler: Não, fazemos isso o tempo todo.
Ahmet Davutoglu: Todos devem cumprir seus deveres. Se o embaixador me diz “senhor se eu fizer isso eu vou ser preso, eles prenderão todos”, então o que devemos fazer? Falamos para ele renunciar e encontramos alguém que esteja disposto a fazer o que precisa ser feito. É assim que as coisas funcionam na democracia.
[1] Tumba de Suleiman Shah é, de acordo com o Tratado de Ancara assinado entre França e Turquia em 1921, território turco em solo sírio.
[2] ISIL ou ISIS, da sigla em inglês: Estado Islâmico do Iraque e Levante (Sham em árabe). É grupo islamofascista associado à Al-Qaeda, usado como ferramenta para invasão Síria.
Fonte: Oriente Mídia
EUA: a nova lei de “proteção” aos jornalistas visa atingir ativistas online
26 de Março de 2014, 11:55 - sem comentários aindaO Congresso dos EUA está definindo o que é ser jornalista, criando um perigoso precedente que pode reescrever sua famosa Primeira Emenda, ameaçando também a mais poderosa rede de troca de informações na História recente
Por Zaid Jilani, em Alternet / Tradução: Vinicius Gomes
Após a revelação de que o Departamento de Justiça utilizou históricos telefônicos de jornalistas da Associated Press (AP) como parte de uma investigação de vazamento de informações, membros do Congresso reintroduziram o Free Flow of Information Act (Lei de Fluxo Livre da Informação), também conhecido como o escudo federal da imprensa por meio da lei. O princípio básico é proteger jornalistas de ter que revelar fontes confidenciais ao governo.
Chuck Schumer |
O maior defensor do projeto de lei é o congressista democrata por Nova York, Chuck Schumer, que alega ter grande suporte de seus pares, incluindo cinco membros do adversário Partido Republicano. Espera-se que a proposta vá para votação em abril.
Mas aqui o diabo se esconde nos detalhes. Enquanto a lei realmente estende algumas proteções para alguns jornalistas, ela é bem particular a respeito de quem ela cobre. A jornalista da AP, Donna Cossata, explica:
“As proteções da lei se aplicariam apenas a “jornalistas cobertos”, definidos como um empregado, contratado independente ou funcionário de uma entidade que dissemina notícias e informações. O indivíduo teria que estar empregado por pelo menos um ano dentro dos últimos 20 anos; ou por três meses dentro dos últimos cinco anos”;
“Ela se aplicaria a estudantes de jornalismo ou alguém com considerável acúmulo de trabalho free-lance nos últimos cinco anos. Um juiz federal também teria a competência de declarar um indivíduo como um “jornalista coberto”, tendo garantidos os privilégios da lei”;
“A proposta também diz que informação será protegida apenas se for disseminada por um meio de comunicação, descrito como “jornal, livros de não-ficção, agência de notícias, site de notícias, aplicativo de celular ou outros serviços de notícias e informação (seja se for distribuído digitalmente ou de outra maneira); noticiários, revistas ou outros periódicos – seja impresso, eletrônico ou em outro formato; televisão e rádios também estão incluídos”.
Quem não está incluído na proposta de lei?
Blogueiros e pessoas que postam em mídias sociais. Em outras palavras, a lei praticamente privilegia jornalistas cujas organizações têm dinheiro – como mídia impressa – ao contrário da mais acessível forma de mídia, onde qualquer um pode disseminar informação rapidamente.
A ironia em deixar de fora os blogueiros de tais proteções por eles não serem importantes o suficiente para o tipo de jornalismo contemplado pela lei é que já existem casos notórios onde estão sendo perseguidos após conseguirem furos jornalísticos. Schumer e outros congressistas patrocinando a lei poderiam facilmente olhar para a coluna Dealbook, do dia 17 de março no New York Times, onde detalha como o gerente de fundos hedge, David Einhorn, está tentado forçar o blog de finanças Seeking Alpha, a revelar quem foi o blogueiro que vazou detalhes de seu investimento na empresa Micron Technology.
Enquanto blogueiros são explicitamente deixados de fora das proteções da proposta, outros, como o WikiLeaks, estão em áreas ainda mais nebulosas. Quando perguntado se o criador do site, Julian Assange, estaria coberto pela lei, Schumer disse não saber; perguntado sobre a organização First Look de Glenn Greenwald, Schumer respondeu que “provavelmente não havia proteção o suficiente para cobri-lo, mas é melhor do que a lei atual”.
A atual proposta perante o Congresso tem o apoio da administração Obama, a qual não fez nenhum estardalhaço a respeito de suas exclusões do novo tipo de mídia jornalística; mas outras ações da administração indicam que o governo leva muito a sério as redes sociais, pelo menos em outros países. Quando o governo turco bloqueou o Twitter recentemente, a Casa Branca fez um anúncio forte defendendo a liberdade de expressão e o valor que as mídias sociais têm nesse país: “Nós nos opomos a essa restrição no acesso do povo turco à informação, a qual sabota sua habilidade em exercer liberdades de expressão e associações, e não vai ao encontro dos princípios de governança aberta”, disse o secretário de imprensa da Casa Branca, Jay Carney.
Sem as proteções para as novas mídias e jornalistas não-tradicionais, a Freedom Flow of Information Act, pode muito bem terminar fazendo um pouco mais que juntar uma nova rede de guardiões – organizações de mídias tradicionais que ditam o jogo sobre quais vazamentos serão ou não publicados, ao contrário da relativamente aberta rede social e blogosfera.
Fonte: Revista Forum
Imagens: Revista Forum, Google
Já estamos mergulhados bem fundo na 4ª Guerra Mundial.
26 de Março de 2014, 1:26 - sem comentários aindaEstágio simbólico da atual Guerra Mundial: Há exatos 15 anos, a OTAN bombardeou a Iugoslávia
Por Claudio Gallo*
Sérvio bósnio examina os destroços perto da cidade de Brod, dia 8/9, depois de um ataque por aviões da OTAN, dois dias antes (Reuters) |
Começou em 1989 com a queda do Muro de Berlim, que marcou o fim da 3ª, também chamada “Guerra Fria”. O último capítulo da 4ª Guerra Mundial é, obviamente, a fracassada tentativa de expulsar a Rússia da Crimeia, mas, até agora, o estágio mais simbólico ainda é o bombardeio pela OTAN contra a Iugoslávia, que começou dia 24/3/1999, há exatos 15 anos. Foi uma guerra contra Slobodan Milosevic, mas também uma guerra para mudar rumo ao leste a influência e as fronteiras da OTAN.
A Operação Força Aliada, como a OTAN a batizou, consistiu de 78 dias de bombardeio ininterrupto contra a Iugoslávia de Milosevic, com intensidade progressiva, passando, os alvos, de militares, para a infraestrutura civil. Morreram cerca de 200 civis sérvios, como “dano colateral” (contra cerca de 300 que morreram no Kosovo, quase todos albaneses étnicos), enquanto a OTAN virtualmente não teve baixas durante as operações, só alguns soldados mortos em pressupostos acidentes.
A guerra ‘perfeita’
Foi a Guerra Perfeita. O historiador militar britânico John Keegan arrependeu-se quase teatralmente no Daily Telegraph pela velha fé que sempre dedicara aos soldados de infantaria: “Há algumas datas na história das guerras que marcam autênticos pontos de virada (…) Agora temos um novo ponto de virada para marcar no calendário: 3/6/1999, quando a capitulação do presidente Milosevic provou que se pode vencer uma guerra só com poder aéreo.”
Guerra muito limpa, com muitas bombas inteligentes capazes de rachar a Sérvia e só atingir os maus, como sugeriu a propaganda incansável. Apresentar, à opinião pública ocidental, aquela guerra de agressão dentro da Europa Oriental como Guerra Justa não foi, de início, tarefa fácil. Mas os Persuasores Ocultos já tinham, a favor deles, a experiência da Guerra do Golfo de George H. W. Bush. Se a Guerra do Golfo foi a primeira guerra televisionada, vista pela gentil seleção das câmeras da CNN, a guerra da Iugoslávia foi a primeira guerra da internet.
Tinham de achar um gatilho simbólico e acharam: o massacre de Racak, uma vila no Kosovo, onde 45 albaneses étnicos foram mortos pelo exército sérvio, em resposta à morte, a tiros, de quatro policiais sérvios. A narrativa da OTAN fez crer que o bombardeio seria consequência de limpeza étnica de sérvios, mas a verdade foi exatamente o contrário disso: o gatilho para aquela guerra foi a intervenção da OTAN em algumas operações contra a população do Kosovo, no contexto da guerra contra separatistas do Exército de Libertação do Kosovo [ing. KLA] apoiado por EUA e Alemanha.
Vista aérea tomada dia 15/6/1999 da agência central dos Correios de Pristina, destruída pelas bombas da OTAN (AFP Photo/Reuters). |
O deputado do Partido Labour britânico, Tony Benn (que faleceu há alguns dias), disse no Parlamento: “Seja qual for a legalidade ou a moralidade da guerra lançada contra a Iugoslávia, o bombardeio piorou gravemente a crise de refugiados.”
Richard Gott do (acima de qualquer suspeita) Guardian escreveu que “os repentinos deslocamentos de populações do Kosovo foram disparados pelos bombardeios feitos pela OTAN e pela decisão tomada por governos ocidentais de impor condições impossíveis ao estado soberano sérvio.” Como dito naqueles dias, sempre pelo Guardian: “O KLA foi reabastecido com armas contrabandeadas através da fronteira da Albânia e reocupou vilas que as forças de segurança sérvia já haviam esvaziado.”
Sobre Racak também o (acima de qualquer suspeita) Times teve algumas dúvidas: “A realidade do que aconteceu em Racak continua encoberta por declarações e contradeclarações. O que se sabe é que quatro policiais sérvios foram mortos nos arredores da vila em emboscada feita pelo Kosovo Liberation Army (KLA). Subsequentemente, pelo menos 40 albaneses étnico da vila foram mortos a tiros numa emboscada feita pelos sérvios de madrugada. Os sérvios dizem que todos os mortos eram guerrilheiros do KLA mortos em ação. Os albaneses dizem que eram civis, assassinados depois de capturados.”
Mas não basta um gatilho-pretexto. Para convencer gente você precisa de um conjunto de ideias, porque, apesar da morte de todas as ideias declarada pelo neoliberalismo triunfante, as ideias estão mais vivas do que nunca. A ideia que faltava, então, chamou-se Direitos Humanos. Sejamos claros: quem pode ser contra ‘direitos humanos’? Mas uma coisa são os direitos humanos pelos quais foi morto o bispo guatemalteco Juan Gerardi, assassinado por esquadrões da morte em 1998, por exemplo; e outra coisa é ‘direitos humanos’ como ideia defendida por George W. Bush e Tony Blair.
A ‘humanidade’ como pretexto
Na Grã-Bretanha, para pavimentar o caminho para aquela operação, apareceu em 1997 o New Labour Manifesto. Ali se criou uma ‘política exterior ética’: “O partido Labour quer que a Grã-Bretanha seja respeitada no mundo pela integridade com que conduz suas relações exteriores. Faremos da proteção e da promoção de direitos humanos uma parte central de nossa política externa. Trabalharemos para a criação de uma corte criminal internacional permanente para investigar genocídios, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.”[1]
“Quem fala de ‘humanidade’ trapaceia” – escreveu Pierre-Joseph Proudhon, então citado por Carl Schmitt. Whoever Says Humanity é também título do livro que Danilo Zolo, professor de Filosofia e Direito e de Filosofia do Direito Internacional na Universidade de Florença escreveu naqueles dias.
“No início dos anos 1990s” – diz Zolo –, “a ‘intervenção humanitária’ passou a ser um elemento chave da estratégia internacional dos EUA. Os EUA diziam que a “segurança global” exigia que as grandes potências responsáveis pela ordem mundial passassem a ver como antiquado o princípio de Westphalia, da não interferência na jurisdição doméstica de estados nacionais. A guerra lançada pelos EUA contra a República Federal da Iugoslávia – a guerra no Kosovo em 1999 – finalmente estabeleceu o intervencionismo humanitário como prática. A partir de então a motivação dita humanitária seria tomada explicitamente como causa justa para guerra de agressão. E os EUA resolveram que o uso da força por razões humanitárias seria legítimo… apesar de estar em oposição à Carta das Nações Unidas, aos princípios do estatuto e do julgamento do Tribunal de Nuremberg e em oposição, de fato, a toda a lei internacional em geral.”
Bombardeiro B-52 da Força Aérea dos EUA lança uma carga de bombas M117 de 750 libras, nessa foto de arquivo, não datada (Reuters/U.S. Air Force Photo) |
O filósofo italiano Costanzo Preve deu ao seu livro sobre o bombardeio pela OTAN o título de “O Bombardeio Ético”. Ali, Preve escreveu:
“Os EUA criaram uma situação trágica na qual a filosofia dos direitos humanos universais conflita diretamente com uma caricatura distorcida deles: a ideologia de que se exportariam direitos humanos pela violência armada. No sentido grego original, a palavra tragédia faz referência a situação absolutamente sem saída ou esperança, na qual qualquer decisão, seja qual for, é má decisão. A questão dos direitos humanos é, provavelmente, a mais trágica de nossos tempos.
Por um lado, todos, em todo o mundo têm de ser educados para os direitos humanos. Ainda mais, essa educação tem de ser filosoficamente ancorada num diálogo universal real, sem o preconceito obsceno de alguma ‘superioridade’ ocidental, particularmente a versão mais desprezível daquele preconceito, que nos chega como ordem divina exarada do castelo na colina de Ronald Reagan. Por outro lado, a total subserviência da ONU aos EUA e a seus repugnantes governos fantoches levou a uma condição de ilegalidade internacional rampante.”
Ironicamente, o momento de Bomba-bomba-bomba-contra-Milosevic coincidiu na Itália com a chegada ao poder do primeiro primeiro-ministro saído do velho Partido Comunista, Massimo D’Alema. O ex-presidente da República Francesco Cossiga escreveu: “A chegada do ‘comunista’ D’Alema ao Palazzo Chigi (sede do governo) aconteceu com pleno apoio de Washington, em troca da garantia de que a Itália não se retiraria da Guerra do Kosovo.”
Ainda mais ironicamente, o bombardeio começou no mesmo ano em que nasceu o euro.
Com o ataque contra a Iugoslávia, o governo Clinton aproveitou a ocasião para demonstrar ao mundo a inconsistência política da Nova Europa, sempre dependente dos EUA. Ao combater a favor da ideologia dos Direitos Humanos no Kosovo, a Europa estava, de fato, obedecendo à agenda imperial.
Para citar o filósofo italiano Diego Fusaro:
“Com o colapso da estrutura bipolar do universo, iniciou-se nova fase de conflitos, todos diferentes, e, ao mesmo tempo, todos já dentro da 4ª Guerra Mundial. Essa é guerra geopolítica e cultural declarada pela Monarquia Universal (MU) contra o resto do mundo. Uma guerra contra todos os povos e nações que não estão dispostos a submeter ao poder da MU, i.e. a suas políticas de dominação mundial mediante o formato mercadoria.”
*Claudio Gallo é jornalista. Trabalha atualmente como editor de Cultura de La Stampa, onde é também editor internacional e correspondente em Londres. Sua principal área de interesse é a política do Oriente Médio.
[1] Esse Manifesto pode ser lido (ing.) em http://labourmanifesto.com/1997/1997-labour-manifesto.shtml [NTs].
Fonte: Oriente Mídia
Imagens: Google, Oriente Mídia