Coluna Econômica - 29/10/2013
Imediatamente após a Segunda Guerra, economistas das mais diversas linhas passaram a defender a necessidade de uma moeda desvalorizada para permitir o desenvolvimento brasileiro.
A lógica era simples. O desenvolvimento se daria com a consolidação da produção interna, substituindo a monocultura do café por uma base industrial. Na infância, nenhum país conseguiria desenvolver sua indústria sem mecanismos de proteção. E o mais eficaz é a moeda desvalorizada – que torna os produtos internos mais baratos que os externos.
Ora, o principal objetivo da desvalorização cambial é reduzir os custos dos insumos internos. Com pequena base tecnológica, o principal insumo interno das empresas são os salários. Ou seja, a maxidesvalorização visa preponderantemente reduzir o peso dos salários na produção através de uma mudança de preços que se reflete nos índices de inflação.
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Com competitividade, as empresas conseguem crescer, ganhar caixa e investir em produtividade. Em um segundo tempo, geram empregos melhores e de forma sustentável.
O grande desafio é como trocar promessas futuras por efeitos negativos imediatos.
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Getúlio Vargas não ousou mexer no câmbio. No máximo, criou várias classes cambiais para driblar o problema. JK legou uma inflação devido à irresponsabilidade fiscal, mas refugou correr os riscos de uma mudança cambial. Pouco tempo depois, a inflação legada derrubou o governo João Goulart.
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Por receio da inflação, FHC, Lula e Dilma praticaram políticas ortodoxas, com alguns laivos de heterodoxia. A desvalorização cambial permaneceu como peça de defesa dos desenvolvimentistas.
Mas aí surge o fato novo que cinde a escola: a eficácia das políticas sociais de Lula, incluindo milhões de pessoas, reduzindo o desemprego e permitindo uma elevação do salario real acima do crescimento da produtividade da economia.
E agora? Surge um neo-desenvolvimentismo, o chamado “desenvolvimentismo social” que considera inviável qualquer medida de política econômica que afete o mercado e os ganhos sociais.
Mas qual seria o motor de crescimento? Dilma tem apostado em desonerações de folha, financiamento a baixo custo, investimentos em infraestrutura. São medidas sem a capacidade de disseminação de uma mudança cambial. Além disso, ao fortalecer o mercado interno, desequilibra ainda mais as contas externas.
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Nos últimos meses, o receio com as contas externas e a desindustrialização levaram o governo a acordar para a questão cambial. Agora, o mercado distribui trabalhos anunciando mudanças estruturais nas contas externas, afastando o risco de crise.
Permanece o da desindustrialização, mas, em véspera de eleições presidenciais, evitar qualquer soluço da inflação torna-se prioritário.
E nem Aécio, Marina e Campos desenvolveram um discurso que resolva esse dilema.
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Nesse quadro, para os próximos dois anos pode-se esperar a economia andando de lado, com pouco crescimento, pouca inflação e, gradativamente, havendo um arrefecimento no mercado de trabalho e na renda.
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Idas e vindas de sucessivos governos pós-democratização ao menos ajudam a decifrar o enigma histórico: porque, com tantas condições favoráveis, embora esteja se tornando uma economia menos injusta, o Brasil jamais conseguiu se tornar uma economia dinâmica.
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