A Comissão de Cultura participou da 4ª edição do Prêmio Culturas Indígenas – Raoni Metuktire, que contou com anúncio de ações de investimento na cultura indígena e reivindicação de lideranças por apoio na luta pela garantia de território tradicional
Cacique Raoni Metuktire, ao lado da ministra da Cultura, Marta Suplicy, da secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural do MinC, Márcia Rollemberg e da presidente da Funai, Maria Augusta Assirati. Foto: Valter Campanato/ABr
Lideranças indígenas, não índios e representantes do governo se reuniram na noite de terça-feira (23), no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília, para a entrega do Prêmio Culturas Indígenas – Raoni Metuktire. Na ocasião, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, anunciou a ampliação da rede dos Pontos de Cultura Indígenas, o apoio à preservação do patrimônio imaterial da cultura indígena, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a parceria com o Ministério das Comunicações para a instalação de 50 antenas Gesac para promover a inclusão digital nas aldeias. Segundo a ministra, o acesso à rede mundial de computadores será uma ferramenta importante para os jovens na preservação de sua cultura.
Nesse sentido, diversas iniciativas já têm ocorrido pelas aldeias do Brasil para utilizar as novas tecnologias como aliadas para a preservação cultural. Cineastas indígenas têm sido formados e é crescente a produção indígena de documentários que revelam as histórias dos mais variados povos. No Xingu, por exemplo, não é raro encontrar um jovem indígena com um Ipod ouvindo as músicas tradicionais de algum ritual para aprender a melodia e repassar aos mais novos. Mas eles querem mais. Antes do prêmio, numa reunião com a ministra e a secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural do MinC, Márcia Rollemberg, os indígenas entregaram uma carta de reivindicações. Entre os pedidos, programas de inclusão cultural, como editais nas áreas de audiovisual pesquisa e incentivo à leitura, voltados para povos indígenas.
Durante a cerimônia, Romancil Cretã, representante da Articulação dos Povos Indígenas do Sul (Arpinsul), reforçou a necessidade de mecanismos voltados exclusivamente aos povos indígenas, pela diversidade que esses grupos representam. “Hoje nós ficamos no fim da fila, mas somos muitos e temos muitas propostas para apresentar. Por isso é importante que tenham incentivos só para os povos indígenas”, disse.
O prêmio
Nesta edição, foram premiadas 100 iniciativas que visam fortalecer as expressões culturais indígenas. É a primeira vez que o prêmio homenageia uma liderança viva: o cacique Raoni. Conhecido mundialmente por sua luta em defesa dos índios do Brasil e de seu modo de vida tradicional, Raoni mais uma vez aproveitou a oportunidade para deixar um recado para os representantes do governo ali presentes. “Eu estou preocupado com nossos rios, nossas florestas, nossas terras. Isso é nossa cultura. E ela é diferente da de vocês. A gente caça, pesca e precisa preservar esses recursos naturais, porque só assim a gente pode preservar nossa cultura”, afirmou por meio de um intérprete kayapó.
A preocupação de Raoni foi enfatizada por Valdelice Veron antes de receber das mãos da ministra sua premiação. Liderança guarani kaiowá, povo que vem sofrendo com a falta de território demarcado e com consequentes assassinatos de lideranças, ela apresentou a grave realidade vivida por seu povo. Segundo ela, mais de 200 indígenas guarani kaiowá foram assassinados por lutar pela demarcação de seu território tradicional, em Mato Grosso do Sul, motivo pelo qual “fica difícil comemorar quando não se tem a sua terra garantida”.
“Falo isso aqui porque temos esperança na ministra, pois ela abriu espaço para a gente. Sem terra, como vai ter cultura? Como posso preservar a cultura se eu estou lutando pela vida?”, disse Valdelice, que é do conselho da Aty Guasu, a grande assembleia guarani kaiowá.
Marta Suplicy foi receptiva quanto às palavras das lideranças, mas lembrou que sua Pasta tem um limite de atuação e reforçou a importância da preservação cultural. “Uma das formas de defesa de um povo é a preservação de sua cultura. Eu sei que sem terra isso não é possível. Ficou claro com as falas de vocês ao longo desse dia. Mas acredito que a cultura é a raiz de um povo, por isso esse nosso encontro é tão importante. Queremos dar visibilidade à cultura dessas quase 300 etnias, pois assim, acredito que vocês terão mais força para lutar pelo o que é seu.”
Indígenas dançam na abertura do 4º Prêmio de Culturas Indígenas. Foto: Valter Campanato/ABr
Esta edição do Prêmio Culturas Indígenas teve um investimento de R$ 1,6 milhão, sendo divididos em 70 prêmios de R$ 15 mil destinados a iniciativas locais e 30 outros, no valor de R$ 20 mil, exclusivamente para iniciativas culturais que contemplem mais de uma comunidade indígena.
Veja todas as iniciativas premiadas nesta edição do Prêmio Culturas Populares.
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