Comissão de Cultura homenageia os 10 anos do jornal Brasil de Fato. Foto: Sandro Marandueira
Na tarde desta terça-feira (22), a Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados realizou uma homenagem aos 10 anos do jornal Brasil de Fato. Lançado em 2003, durante o III Fórum Social Mundial, em Porto Alegre (RS), o jornal semanal trazia o otimismo das mudanças políticas em sua pauta. Era o primeiro mandato do governo Lula e a ideia era combater a hegemonia da mídia tradicional e propor debates de ideias e análises dos fatos do ponto de vista da necessidade das mudanças sociais do País. Dez anos após seu lançamento, o Brasil de Fato se estabeleceu como o único jornal de esquerda do País, mas vive uma crise financeira que pode por em risco sua existência.
“São inúmeras as dificuldades que temos hoje. Como financeira, de se tornar conhecido. Começamos então a produzir edições regionais em algumas cidades, são edições gratuitas e que têm tido um ótimo retorno”, pontou Joana Tavares, editora da regional de Minas Gerais do jornal.
“É muito difícil manter um projeto que faça a disputa ideológica. Hoje passamos por uma das nossas piores crises financeiras, mas vamos enfrentar de peito aberto essa luta. Esses 10 anos foram mantidos com muito sacrifício, pois não conseguimos furar esse enorme bloqueio que é conseguir financiamento, propaganda. Ainda mais com uma linha questionadora como o tem o jornal”, afirmou Ricardo Gebrim, membro do Conselho Editorial do Brasil de Fato.
Atualmente, para se destinar verba publicitária a um veículo de comunicação, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) trabalha com o critério da mídia técnica, que leva em conta a audiência e a regionalização do veículo. Com base neste critério recebe mais verba quem dá maior audiência, o que fortalece os grandes conglomerados midiáticos. Maria Mello, secretária executiva do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) lembrou que dados divulgados pela Secom apontam que 70% das verbas publicitárias do governo são destinadas a apenas 10 veículos de comunicação, sendo que desses “cinco devem pertencer ao grupo Globo”. “Precisamos lutar pela democratização da comunicação e isso passa pela destinação das verbas publicitárias do governo”, destacou.
“Há no Brasil uma concentração muito antidemocrática dos recursos. Essa riqueza favorece a grande imprensa para fazer antijornalismo e a gente tem que buscar formas de apoio nos sindicatos. É um trabalho hercúleo, mas a gente nada contra a corrente porque a gente sabe que é assim que se muda a história, especialmente na área de imprensa”, reforçou Beto Almeida, membro da Junta Diretiva de La Nueva Televisión Del Sur (Telesur).
Para ele, o Estado deveria desenvolver uma política pública para estimular o setor. Segundo Almeida, o País investe em tantos benefícios para a população, que deveria considerar um investimento na formação cultural e crítica da sociedade. “Temos tantas bolsas... Por que não para o jornal? Por que não se considera a população como um ser humano que precisa crescer culturalmente, que precisa pensar e precisa desenvolver a cultura? Não é só encher a barriga, tem que encher a cabeça para poder se transformar criativamente o mundo e isso é parte do papel da imprensa revolucionária, transformadora”, defendeu.
Vito Giannotti defende que versões regionais sejam ampliadas. Foto: Sandro Marandueira
Iniciar um debate sobre a formulação de uma política pública de estímulo à mídia alternativa era a proposta do deputado Nilmário Miranda (PT/MG), vice-presidente da Comissão de Cultura ao requerer a realização da homenagem, ao lado do deputado Jean Wyllys (Psol/RJ). “Quando a gente traz esse debate para cá, a gente quer dar um passo seguinte: de discutir uma política pública de financiamento. O Estado tem que financiar a diversidade e defende-la. Não é só usar os critérios de mercado, mas também dar espaço às diversas vozes. Essa é a verdadeira liberdade de expressão. E uma imprensa como essa completar 10 anos, tem que ser comemorado”, disse.
“São 10 anos de resistência. Um jornal que sobrevive a duras penas. Que mesmo os sindicatos não apoiam, não anunciam, que sobrevive sem financiamento das organizações de esquerda”, completou Wyllys ao lembrar as dificuldades de se fazer uma publicação democrática, com conteúdo, mas que não consegue recursos.
Além das discussões sobre recursos, Vito Giannotti, integrante do Núcleo Piratininga de Comunicação, apontou desafios para os próximos anos do jornal. Segundo ele, o Brasil de Fato é um instrumento de formação política e precisa ter continuidade. “O jornal tem alguns passos a dar. Precisa avançar nas edições regionais, aumentar a tiragem, assim a gente começa a ganhar a massa e mostrar o que é o Brasil que nós queremos e se contrapor a essa mídia que tem aí”, disse.
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