A imprensa se juntou, unânime, numa nova cruzada, a de mostrar a incoerência de o PT paulistano receber o apoio do PP, partido do notório Paulo Maluf.
Todos os jornalões, sem exceção, procuram desqualificar o acordo - simples apoio, não aliança, como dizem -, dizendo que ele destrói a história do PT, uma história de combate ao malufismo e o que ele representa.
Interessante que essa cruzada só tenha sido iniciada agora e não antes, quando os próceres do PP estiveram por fechar o apoio a José Serra e seus amigos de bico longo.
Na ocasião, só faltou aos jornalões soltar fogos de artifício para celebrar a "aliança".
Em tom triunfal, publicaram gráficos para mostrar que Serra teria, com todos os acordos fechados, incluído neles o do PP, um tempo enorme na televisão, o maior de todos, para expor as suas ideias geniais para resgatar a cidade do caos promovido - vejam só que coisa incrível - por ele próprio e seu bando de predadores.
Aproveitaram para celebrar o poder de negociação dos tucanos, capazes de amarrar um bloco partidário de apoio a Serra com todas as letras do alfabeto, enquanto o adversário maior, o petista Fernando Haddad, diziam, batia bumbo sozinho, esquecido num canto, sem ninguém para ajudá-lo...
Assim, deve ter sido uma surpresa enorme para todos esses jornalistas que cobrem a política paulistana com tanta isenção o apoio que o Haddad recebeu do PSB e a escolha de Luiza Erundina para compor, como vive, a sua chapa.
A mesma surpresa, obviamente, também os capturou quando souberam das negociações entre o PT/PSB e o PP - partido que integra a base de apoio do governo Dilma.
Para esses jornalistas, o trabalho e a vida parecem ser feitos de surpresas.
Eles devem estar surpreendidos agora com o fato de, com o PP, a coligação de Haddad ficar com o maior tempo de propaganda eleitoral e isso contar muito, mais muito mesmo, numa campanha como a que está por começar.
Se esses nossos caros jornalistas perdessem menos horas do seu árduo trabalho para expressar toda essa estupefação com as coisas mais triviais da política, poderiam facilmente perceber que, se o apoio do PP ao PT realmente se concretizar, a chance de Maluf aparecer ao lado de Haddad ou Erundina é a mesma, como diz o sábio filósofo Felipão, de o sargento Garcia prender o Zorro.
Também que o programa de governo de Haddad terá influência zero de qualquer malufista, principalmente quando se sabe que o próprio Maluf não tem mais nenhuma poder sobre o seu partido e usa hoje a política apenas como escudo para se livrar dos problemas com a Justiça.
Mas, enfim, essa é a imprensa que temos neste país. Uma imprensa que aproveita os vácuos da legislação para esconder os fatos e expor apenas seus desejos, suas frustrações e suas preferências partidárias.
Fico pensando o que seria dessa já pobre oposição se não contasse com a ajuda dos jornalões, de suas cruzadas éticas e de toda essa conveniente ingenuidade sobre a "realpolitik".
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