Com o objetivo de manter ações de esclarecimento da população sobre prevenção de doenças, recuperação, reabilitação e manutenção da saúde das comunidades, o Programa Saúde da Família (PSF) foi criado como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial, operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde. Estas equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada. Mas não é isso que se está vendo na cidade de São Paulo. O que se observa atualmente é uma crescente preocupação com a quantidade de atendimentos e não com a qualidade, muita rotatividade de profissionais por falta de condições de trabalho, desmandos administrativos etc.
Devido a isso, os trabalhadores das unidades do PSF lançaram uma carta aberta com a premissa básica de dizer NÃO ao desmonte da estratégia do Programa Saúde da Família em São Paulo e exigir a retomada dos preceitos da Portaria nº 1.886, de 18 de dezembro de 1997 do Ministério da Saúde.
CARTA ABERTA
Esta carta aberta tem por finalidade denunciar as arbitrariedades e desmandos que temos presenciado em relação à Estratégia da Saúde da Família na cidade de São Paulo. O Ministério da Saúde criou, em 1994, o Programa Saúde da Família. (PSF), com o principal propósito de reorganizar a prática de atenção à saúde e substituir o modelo tradicional, que, mediante repasse de verbas públicas, transferiu a sua responsabilidade constitucional para “entidades beneficentes”.Segundo o Ministério da Saúde, a estratégia do PSF prioriza as ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde das pessoas de forma integral e contínua. As equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada. As equipes de saúde e a população acompanhada, que abre suas portas para os profissionais, criam vínculos de confiança, de respeito e segurança, o que facilita a identificação e o atendimento aos problemas de saúde integral da comunidade. O modelo PSF está aí para atuar na prevenção e promoção da saúde e não mais no atendimento as pessoas doentes.Contudo, o que temos presenciado?Alta rotatividade de profissionais médicos, equipes sempre desfalcadas, profissionais desmotivados pela falta de suporte, que vão desde a falta de condições da estrutura física (consultórios adaptados que não contam sequer com uma pia, unidades sucateadas etc.) a desmandos administrativos, no qual profissionais são demitidos e/ou transferidos sem critérios, quebrando os vínculos já estabelecidos com a população, cobranças e exigências burocráticas que visam apenas à quantidade de atendimento em detrimento aos grupos educativos e visitas domiciliares eficazes, já que a preocupação maior é de atingir metas, obviamente, numéricas.Profissionais ingressam no PSF sem treinamento adequado, sem educação continuada ou espaço para interação entre os profissionais.E o que se observa atualmente é uma crescente preocupação com a quantidade de atendimentos e não com a qualidade. Agendas lotadas aleatoriamente, sem que se tenha espaço para priorizar os casos detectados pela equipe.Observa-se também a preocupação em aumentar as áreas de abrangência sem que se consiga sequer suprir a cobertura das demandas já existentes, o que nos remete a observância de que se almeja o retorno aos modelos antigos de “queixa/consulta”, uma vez que se torna impossível ter um atendimento do paciente como um todo em apenas 15 minutos.O descrito serve para desmotivar os que ainda acreditam ser possível corrigir as iniquidades e para reforçar a ideia de que não adianta lutar por dias melhores.Muitos de nós vimos e participamos do nascimento deste programa em São Paulo e sempre admiramos a estrutura do PSF, as ações preventivas que comprovadamente auxiliam na promoção de saúde.Contudo, ainda há gente neste país que acredita, mesmo com as coordenações suscetíveis a pressões que seja possível avançar.Tais ingerências podem até nos alimentar para continuarmos a luta para um atendimento digno e a nossa responsabilidade com a saúde integral da população. Luta esta que, antes de ser nossa, deveria ser das instituições que se intitulam gestoras de saúde.Estamos, portanto, dizendo NÃO a este desmonte da estratégia de Saúde da Família e exigindo a retomada dos preceitos da Portaria nº 1.886, de 18 de dezembro de 1997 do Ministério da Saúde.São Paulo, junho de 2012.
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