Fernando Lugo segue buscando formas de concorrer às eleições de 2013. Foto: Norberto Duarte/AFP |
“Tenho esperanças de que mudanças ocorram no Paraguai. Não serão mudanças rápidas, mas alguns processos já estão em curso”, disse em alusão a programas de seu governo – que asseguram o acesso gratuito à saúde, por exemplo – e em referência à Frente Guasú, composta por 12 partidos e oito organizações populares. Segundo o ex-bispo católico, seu impeachment-relâmpago, deflagrado em 22 de junho, serviu para unir a esquerda paraguaia. “A próxima eleição será de uma esquerda renovada e uma direita não reciclada. Como se diz no Paraguai: às vezes, quem perde, ganha e quem ganha, perde”, conta Lugo, cercado por cerca de 30 fotógrafos e jornalistas.
Apesar do entusiasmo, Lugo faz ressalvas quanto às eleições presidenciais de 2013, que podem recolocá-lo no poder. “As eleições não solucionam o problema e podem, inclusive, agravá-lo. Acreditamos que um governo golpista não é capaz de assegurar eleições livres e trasparentes”, afirma. As aposta do presidente deposto para contra-atacar em 2013 estão focadas na Frente Guasú. Mas ela, embora unida, não chegou a um consenso sobre quem disputará as eleições presidenciais. Alguns setores da organização ainda atrelam a decisão a uma definição da Corte paraguaia sobre o futuro político de Fernando Lugo.
Após 23 tentativas frustradas registradas em ata no Parlamento do país, o parlamento paraguaio conseguiu a pouco mais de um ano das próximas eleições destituir, em um processo de votação sumário, Fernando Lugo. Até hoje, os parlamentares não apresentaram explicações concretas sobre o que motivou a destituição do presidente que fez o Paraguai obter o segundo maior crescimento econômico (15,3%) do mundo, em 2010, resolveu 130 conflitos agrários e capturou o maior número de narcotraficantes da história do país.
De qualquer forma, Lugo ainda se apega nas duas chances que restaram a ele para voltar ao poder. Uma pela via jurídica e outra pelo processo político.
Após o golpe, Lugo moveu um recurso de inconstitucionalidade na Corte paraguaia, argumentando que sua deposição ocorreu de maneira excessivamente acelerada, em um processo ilegítimo e que não proporcionou ao ex-presidente o devido direito de defesa. No entanto, os recursos foram negados pela Corte, que, segundo Lugo, foi ameaçada pelo parlamento em um exemplo claro de “ingerência inconstitucional”. “Regressar à presidência pela via jurídica é possível, mas acho quase impossível”, diz. “Creio muito em Deus e em milagres, mas neste milagre, não”, afirma, sorrindo.
População protestou contra o golpe “dentro do marco da não-violência”, disse Fernando Lugo. Foto: Norberto Duarte/AFP |
A sombra do poder
“O poder não mostra o seu rosto, ele está na sombra”. Esta foi a declaração de Fernando Lugo quando indagado sobre quais setores da sociedade contribuíram para a sua destituição. Além de mencionar o evidente posicionamento da mídia paraguaia a favor de sua cassação, o ex-presidente cita quatro resoluções do governo paraguaio, emitidas em pouco mais de um mês, que poderiam dar pistas sobre o rosto do poder no Paraguai.
De acordo com Lugo, o atual presidente, Federico Franco, e o Congresso aprovaram resoluções que livram a produção de soja de impostos – o país é o quarto maior exportador do grão no mundo. Além disso, também estão permitidas a entrada de sementes transgênicas.
As medidas mais controversas, no entanto, dizem respeito ao pagamento de uma dívida de 80 milhões de dólares a um credor suíço e às instalações da mineradora Rio Tinto. Segundo Lugo, o dinheiro cobrado pelo credor jamais chegou ao Paraguai e a instalação da mineradora no país não é vantajosa. “O Paraguai não possui mercado e matéria-prima para que a Rio Tinto instale uma fábrica de processamento de alumínio. Isso só interessa à empresa porque o preço da energia oferecida pelo governo é muito barato”, argumenta.
No entanto, o maior temor é o partido Colorado, de Federico Franco, usar a máquina pública para interferir nos resultados das eleições. Mas Lugo já deixou claro que não confia no atual governo para fiscalizar o processo eleitoral.
Marcelo PellegriniNo CartaCapital
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