Crescimento na taxa de homicídios é de 96% em setembro na comparação com 2011; governador volta a pregar linha dura e Secretaria de Segurança Pública fala em aumento de crimes passionais
O ano começou com a violência policial na cracolândia e termina com números que assustam |
Para a diretora-executiva do grupo Conectas Direitos Humanos, Lucia Nader, estes aumentos consecutivos nos casos de homicídios em São Paulo revelam um quadro preocupante. “Onde a violência e o uso da força aparecem como recurso preferencial para a resolução dos impasses na maior cidade do País", afirma, em nota emitida pela entidade. Após a divulgação dos números pela secretaria, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que a ordem de seu governo é para “ir para cima”, na mesma linha daquilo que vinha pregando desde o começo da série de estatísticas negativas.
Hoje, o secretário de Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, disse durante entrevista coletiva que vai reforçar o número de policiais nas ruas e fazer operações secretas para tentar conter as mortes de policiais no estado. Desde ontem, um policial e outras seis pessoas foram assassindas em São Paulo.
Já alarmante, a situação pode ser ainda pior, já que a Secretaria de Segurança não contabiliza como homicídio doloso os casos que considera como “resistências seguidas de morte” (nos confrontos com policiais, por exemplo), os roubos e os furtos seguidos de morte. De acordo com declarações do Comando Geral da Polícia Militar, o que mais contribuiu para o aumento foram os homicídios passionais, quando ocorrem após brigas em casa ou no trânsito. Para o comando, apenas 5 dos 85 PM mortos desde o início do ano foram assassinados em setembro.
Capão Redondo e Parque Santo Antonio foram os locais com maior número de mortes 18, mais de um a cada dois dias. “Estamos alarmados com a forma como o governo interpreta esses números e reage a essa realidade. As autoridades da área de Segurança Pública de São Paulo fazem uso recorrente de um vocabulário de guerra para justificar o uso da força letal, como se o gatilho fosse, em última instância, o juiz, o tribunal e a pena que recai na maioria das vezes sobre pessoas pobres, negras e de periferia", afirma Lucia.
Para a coordenadora e fundadora do Grupo Mães de Maio, Débora Maria da Silva, a situação do aumento nos números de homicídio ao longo de 2012 evidencia uma situação de calamidade no estado de São Paulo. Segundo ela, os grupos que representam moradores da periferia que sofrem com esta situação vão pedir, mais uma vez, intervenção do Ministério da Justiça junto às autoridades paulistas da área de segurança.
O Mães de Maio foi criado após a onda de ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC) ocorridos em maio de 2006 e que resultaram em mais de 600 pessoas mortas, a maior parte entre moradores da periferia, durante ações repressivas da polícia. “Nós estamos cada vez mais sitiados, com medo de sair de casa, e assustados com a postura das autoridades nesta guerra. Eles, cada vez mais, apresentam um discurso fascista e que encoraja a formação e a ação de grupos de extermínio”, afirma.
Raimundo OliveiraNo Rede Brasil Atual
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