Ir para o conteúdo

Daniela

Tela cheia

Com texto livre

14 de Junho de 2012, 21:00 , por Daniela - | No one following this article yet.

Golpe: vai faltar combinar com o povo

1 de Novembro de 2012, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Quem vai explicar a eles a moderníssima teoria do “Domínio de Fato”?
Durante a última campanha eleitoral, estive em 3 comícios. Menos por entender que minha presença faria a diferença e mais para rever a militância, sentir a vibração “offline” da campanha de Haddad pelas ruas de São Paulo. Aventura que remeteu-me aos idos anos 80, quando o PT ainda cheirava leite.
Naquela época éramos, idealistas e apaixonados por uma causa que só se concretizaria em 2002. Embora houvessem muitas subdivisões e linhas de pensamento na esquerda – desde os que participaram da luta armada contra o regime militar até os estudantes de classe média da USP – naquele momento, todos convergeram à ideia central, a construção e o fortalecimento do Partido dos Trabalhadores.
Talvez o PT tenha sido o único partido que foi construído por uma ampla maioria de forças populares em torno das quais gravitaram outras forças menores, não menos importantes. O partido definiu-se a partir de um amplo debate, reunindo as melhores cabeças da esquerda, lideranças sindicais de todas as categorias de trabalhadores, políticos, artistas, intelectuais, educadores etc. Mas, essencialmente, o PT seguiria sua vocação para ser um partido de massas. E Lula era o líder, o candidato natural para disputar eleições.
De lá para cá, a história do partido coleciona muitas vitórias e algumas derrotas, muitos acertos e alguns erros e, mais do que tudo, é uma história de crescimento em tamanho e importância tanto no Brasil, como em toda a América do Sul.
A militância que encontrei nos comícios não é mais a mesma que conheci na minha juventude. O PT não tem mais a cara da USP, dos artistas, dos intelectuais e dos sindicalistas do ABC. Não vi nenhum “curioso”, o tipo que não sabe o que está acontecendo ao redor, mas entra no “clima da festa”.
O PT de hoje, tem a cara do povão. O que vi nos comícios eram pessoas que estavam lá marcando seu território, ocupando o espaço e mostrando ao palco que a platéia é o verdadeiro centro do poder. Gente que descobriu sua cidadania e agarrou-se a ela com unhas e dentes e, por isso mesmo, têm muito a perder. E essas pessoas amam Lula. Festejaram muito as vitórias do PT em todo o Brasil, embora o PiG tenha escondido sua alegria.
Os golpistas estão aí, conspirando no subsolo fedorento das redações do PiG e da bancada do Jornal Nacional, transformando o STF na casa da mãe Joana do anti-petismo.
Deram com os burros n’água na campanha “mensalão na eleição” e ainda não foi dessa vez que o PT foi apagado do mapa. Ao contrário, foi campeão nas urnas, como se viu. Mas parece que isso não abalou o projeto dos barões da mídia. O golpe é um só: destruir o mito. Sem isso, sem chance. Vão tomar um vareio a cada dois anos.
O julgamento da 470 foi só o primeiro passo. Para chegar até Lula, precisam condenar Dirceu e Genoino e dar ares lógicos ao delírio que tentam vender à opinião pública. Para condená-los é preciso rasgar a Constituição. E para rasgar a Constituição, é preciso combinar com Deus – o único que não deve satisfações a ninguém sobre suas decisões. Neste caso, Deus é o STF – que “condena certo por suposições tortas”.
A pena de Marcos Valério somou 40 anos de cadeia – embora, na prática, a Constituição determine que, seja lá qual for o crime, não ultrapasse 30 anos, com direito a sair por bom comportamento depois de cumprir 1/6 da pena (se é justo ou não, são outros quinhentos). Mesmo assim, a sentença de Valério é mais severa, por exemplo, que a do casal Nardoni que pegou 26 anos de cadeia por ter jogado a filha pela janela do apartamento ou a da moça Richthofen, que pegou 39 anos pela encomenda do assassinato a pauladas dos próprios pais. A intenção aí é de superfaturar a condenação de Valério. Fazer seu crime parecer mais grave que os mais hediondos.
Mesmo tendo sido condenado, Marcos Valério está sofrendo tortura psicológica. Está sendo coagido a atender às exigências dos golpistas e trazer Lula para a cena de um crime que não se provou. Usam de ameaças de morte, bloqueio dos bens de toda a família, multa de quase 1 milhão de reais… É o pau de arara do século 21. Se ele ceder, fazem-no assinar um documento acusando Lula e dão um sumiço nele no programa de proteção às testemunhas.
Mas pelo que vi nos comícios e pelo sentimento geral da maioria do povo brasileiro expresso seguidamente nas Urnas e nas pesquisas de popularidade de Lula e Dilma, é melhor pensarem mil vezes antes de darem esse bote traiçoeiro. Porque o efeito pode ser devastador para o país. Com STF e tudo!
Mais uma vez: o Brasil não é Paraguai, Honduras ou Venezuela (com todo respeito a seus povos).
Blogueiro do esgoto do PiG xingar políticos do PT e internautas petistas, é normal. Também é xingado por todos eles. Jornal mentir, manipular e atacar o PT, é normal. São desmentidos na hora por mídias alternativas que assistem de camarote à sua decadência moral e financeira.
Agora, vá o Reinaldo Azevedo à Zona Leste, chamar aquela gente de petralha e falar mal de Lula. Vá até a periferia, avisar que pretendem prender Lula. Experimentem fazer isso, Augusto Nunes, Noblat, Merval, Kamel, Policarpo Jr e espécies similares. Entrem na quadra lotada da Gaviões da Fiel e gritem “viva o Palmeiras”.
Precisa desenhar?
Torcendo aqui para que os capas-pretas desembarquem dessa canoa que segue perigosamente em direção ao precipício da convulsão social. Acreditem: se tocarem no Lula, sob qualquer pretexto, (não sou eu quem ameaça) o povo não assistirá calado. Não dessa vez. Eu vi em seus olhos.
No O que será que me dá?



Os vencedores, ainda

1 de Novembro de 2012, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Manda a tradição que o eleitor brasileiro vote em pessoas em lugar do ideário deste ou daquele partido. De resto, os partidos nas nossas latitudes sempre funcionaram como clubes recreativos de uma ou outra turma graúda. Se alternativa digna houve, foi o PT, mas durou pouco. No poder, portou-se como os demais.
Unidos. A maior personalidade da história política brasileira
e quem lhe segue os passos.
Foto: José Cruz/ABr
Deste ponto de vista, as eleições municipais recém-encerradas com o segundo turno mantiveram-se no leito antigo. Mudou, porém, o peso das lideranças capazes de influência decisiva. Lideranças autênticas, diferentes daquelas forjadas pelo populismo mais desbragado, tão frequentes no passado, mesmo recente. Refiro-me, em primeiro lugar, ao ex-metalúrgico e ex-presidente Lula, que evoluiu do palanque da Vila Euclydes para a plateia mundial.
Neste pleito, Lula confirmou o que já é do conhecimento até do mundo mineral, tirante a mídia nativa. Trata-se da personalidade mais forte da história política do País, sua popularidade, avassaladora, supera inclusive aquela de Getúlio Vargas. Dilma Rousseff segue-lhe os passos. A afirmação peremptória dos candidatos da chamada base aliada resulta antes de mais nada da boa atuação do seu governo.
Outras figuras começam a ganhar dimensão nacional, como Eduardo Campos e Cid Gomes, enquanto o momento projeta naturalmente o nome de Aécio Neves, em quem há tempo CartaCapital reconhece autoridade e tino para conduzir uma oposição moderada e responsável, conforme as conveniências da democracia.
Neste terreno o Brasil ainda engatinha. Não basta a realização periódica de eleições para provar a maioridade democrática. Outros fatores surgidos nos últimos dez anos deságuam, contudo, em importantes avanços, não somente a caminho de uma sociedade menos injusta, mas também na conquista da consciência da cidadania por um número crescente de brasileiros. É quanto transparece dos resultados deste pleito municipal, bem menos provinciano e mais significativo do que se podia imaginar.
A mídia nativa é a primeira derrotada no embate, antes que o PSDB paulista e o PT baiano. O espetáculo encenado pelos barões midiáticos e seus cortesãos na tentativa de mascarar a verdade proporcionou momentos de involuntário hu­morismo à altura do teatro do absurdo, sobretudo na linha de Ionesco, embora sem esconder a expectativa da súbita chegada de Godot, segundo Beckett. José Serra seria Godot?
Não se exclua a possibilidade, a considerar o tom de editoriais, colunas, artigos, rubricas. No sábado 27, o editorial de um jornalão estampava como título: “Resistir é preciso”. De volta de uma viagem ao exterior, ausente havia duas semanas, sofri um abalo sísmico entre o fígado e a alma. Supus que a revolução vermelha batesse às portas liderada por Fernando Haddad. Tragicômico destino de uma direita tão extremada, tão anacrônica, tão romneyana (de Romney) a ponto de soçobrar nas ondas do ridículo atroz. Espetáculo a seu modo magnífico, por obra da incapacidade dos protagonistas de perceber a enrascada patética (do Pateta de Walt Disney, herói da Editora Abril) em que se atiraram.
Dou agora com a soturna expressão dos bairros paulistanos, ditos nobres não se sabe por quê. Varridos pelo siroco de um eterno temor e pela aspiração a se instalarem, pelo menos no modus operandi, entre Coral Gables e Dubai. Abastecidos com solércia inaudita pelos evangelhos midiáticos. E agarrados à lembrança de Fernando Henrique Cardoso e à esperança vã da vitória de José Serra. Estes ninhos tucanos estão mais para aqueles das andorinhas doentes, iguaria da cozinha chinesa. Altamente recomendados para o cardápio dos barões midiáticos.
É o ocaso de um PSDB que já foi de André Franco Montoro e Mário Covas e foi entregue ao cabo a um cínico e um obsessivo e, sustentado pela fanfarra dos jornalões e revistões, passou a cuidar dos negócios dos vetustos donos do poder. O mesmo que o cínico e o obsessivo diziam combater nos seus anos verdes. É nesta moldura que a ribalta cabe a Aécio, capa desta edição.
Mino Carta
No CartaCapital



A volta do filho (de papai) pródigo ou a parábola do roqueiro burguês

1 de Novembro de 2012, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Nem todo direitista é derrotista, mas todo derrotista é direitista. Reparem no capricho do léxico: as duas palavras são quase idênticas. Ambas têm dez letras, soam similares e até rimam. Se você tem dúvida se alguém é de direita observe essas características. Começou a falar mal do Brasil e dos brasileiros, a demonstrar desprezo por tudo daqui, a comparar de forma depreciativa com outros países, é batata. Derrotista/direitista detectado.
Temos hoje no Brasil duas personalidades célebres pelo derrotismo explícito e pelo direitismo não assumido: os roqueiros Lobão e Roger Moreira, do Ultraje a Rigor. Eu ia citar também Leo Jaime, outro direitoso do rock nacional, mas não posso classificá-lo como um derrotista típico –fora isso, no entanto, cabe perfeitamente no figurino que descreverei aqui. Os três são cinquentões: Lobão tem 57, Roger, 56 e Leo, 52.
Da geração dos 80, Lobão sempre foi meu favorito. Eu simplesmente amo suas canções. Para mim, Rádio Blá, Vida Bandida, Vida Louca Vida e Decadence Avec Elegance são clássicos. Além de Corações Psicodélicos, em parceria com Bernardo Vilhena e Julio Barroso, ai, ai… Adoro. E não é porque Lobão se transformou em um reacionário que vou deixar de gostar. Sim, Lobão virou um reaça no último. Alguém que voltasse agora de uma viagem longa ao exterior ia ficar de queixo caído: aquele personagem alucinado, torto, jeitão de poeta romântico, que ficou preso um ano por porte de drogas, se identifica hoje com a direita brasileira mais podre.
Não me importa que Lobão critique o PT ou qualquer outro partido. O que me entristece é ele ter se unido ao conservadorismo hidrófobo para perpetrar barbaridades como a frase, dita ano passado, em tom de pilhéria: “Há um excesso de vitimização na cultura brasileira. Essa tendência esquerdista vem da época da ditadura. Hoje, dão indenização a quem seqüestrou embaixadores e crucificam os torturadores, que arrancaram umas unhazinhas”. No twitter (@lobaoeletrico), se diverte esculhambando o país e os brasileiros, sempre nos colocando para baixo. “Antigamente éramos um país pobre e medíocre… terrível. Hoje em dia somos um país rico e medíocre… pior ainda”, escreveu dia desses.
Os anos não foram mais generosos com Roger Moreira, do Ultraje. O cara que cantava músicas divertidíssimas como Nós Vamos Invadir Sua Praia, Marylou ou Inútil virou um coroa amargo que deplora o Brasil e vive reclamando de absolutamente tudo com a desculpa de ser “contra os corruptos”. É um daqueles manés que vivem com a frase “imagine na Copa” na ponta da língua para criticar o transporte público, por exemplo, sem nem saber o que é pegar um ônibus. Os brasileiros, segundo Roger, são um “povo cego, ignorante, impotente e bunda-mole”. Sofre de um complexo de vira-lata que beira o patológico. Ao ver a apresentação bacana dirigida por Daniela Thomas ao final das Olimpíadas de Londres, tuitou, vaticinando o desastre no Rio em 2014: “Começou o vexame”. Não à toa, sua biografia na rede social (@roxmo) é em inglês.
Muita gente se pergunta como é que isso aconteceu. O que faz um roqueiro virar reaça? No caso de ambos, a resposta é simples. Tanto Roger quanto Lobão são parte de um fenômeno muito comum: o sujeito burguês que, na juventude, se transforma em rebelde para contrariar a família. Mais tarde, com os primeiros cabelos brancos, começa a brotar também a vontade irresistível, inconsciente ou não, de voltar às origens. Aos poucos, o ex-revoltadex vai se metamorfoseando naqueles que criticava quando jovem artista. “Você culpa seus pais por tudo, isso é um absurdo. São crianças como você, é o que você vai ser quando você crescer” – Renato Russo, outro roqueiro dos 80′s, já sabia.
O carioca Lobão, nascido João Luiz Woerdenbag Filho, descendente de holandeses e filhinho mimado da mamãe, estudou a vida toda em colégio de playboy, ele mesmo conta em sua biografia. O paulistano Roger estudou no Liceu Pasteur, na Universidade Mackenzie e nos EUA. Nada mais natural que, à medida que a ira juvenil foi arrefecendo – infelizmente junto com o vigor criativo – o lado burguês, muito mais genuíno, fosse se impondo. Até mesmo por uma estratégia de sobrevivência: se não estivessem causando polêmica com seu direitismo, será que ainda falaríamos de Roger e Lobão? Eu nunca mais ouvi nem sequer uma música nova vinda deles. O Ultraje, inclusive, se rendeu aos imbecis politicamente incorretos e virou a “banda do Jô” do programa de Danilo Gentili.
Enfim, incrível seria se Mano Brown ou Emicida, nascidos na periferia de São Paulo, se tornassem, aos 50, uns reaças de marca maior. Pago para ver. Mas Lobão e Roger? Normal. O bom filho de papai à casa torna. A família deles, agora, deve estar orgulhosíssima.
Cynara Menezes
No Socialista Morena



A grande mídia e a corrupção do espaço público

1 de Novembro de 2012, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

 Artigo de 22.08.2011 
Corrupção! Essa é a palavra-chave que tem pautado o noticiário político nacional. Qualquer pessoa que abre as páginas dos jornalões e das revistas semanais de maior circulação no país, ou que acompanha o noticiário televisivo, não tem como fugir da enxurrada de matérias jornalísticas e textos de opinião sobre o tema. A corrupção foi guindada à condição de questão maior da política brasileira nesse começo de governo Dilma, e a grande mídia parece muito empenhada em insuflar essa agenda.
Tão empenhada que até começou a empregar a expressão “faxina” associada a uma suposta luta contra a corrupção que a presidenta “deveria” liderar. Ainda que o governo resista a adotar tal metáfora de gosto duvidoso, e de memória dolorosa, ele está sendo chamado a responder incessantemente às demandas dessa pauta.
Tem mais. O tema da corrupção carrega o potencial de produzir uma sensação de perplexidade entre o público de orientação progressista. Tal perplexidade é até compreensível, mas ela é muito perigosa e para ser superada deve ser antes bem compreendida. A perplexidade é uma condição marcada pela incapacidade de se tomar uma decisão, incapacidade mesmo de agir, de tomar partido, etc. Perante o tema da corrupção, o cidadão progressista, ou de esquerda, se me permitem o uso do termo, tem frequentemente uma reação imediata de repúdio. Ora, em seu sentido mais corrente, o termo denota a roubalheira, a apropriação privada de patrimônio público, o uso de cargo público para enriquecimento privado, tráfico de influência, troca de favores etc. Essa lista poderia se estender bastante. É claro que todo mundo que é a favor de uma maior igualdade, de mais justiça social, não pode ser a favor do desvirtuamento da máquina e recursos estatais, que são os meios precípuos para se promover tais fins.
O problema de sermos tomados pela perplexidade é não percebermos a natureza de quem faz o agendamento: a grande mídia. A menos de um ano atrás a mesma mídia agia em bloco como partido político bombardeando a candidatura da atual presidenta, misturando fatos reais a ilações falaciosas e, mais importante, rasgando todos os manuais de boa conduta jornalística. Contra o candidato da oposição, quase nada foi aventado, com raríssimas exceções e mesmo assim já no final da campanha.
O estelionato eleitoral foi evitado pelo voto popular, mas os órgãos da grande mídia, de cá para lá, continuam os mesmos, com os mesmos poucos donos, os mesmos editores e colunistas conservadores, os mesmo jornalistas. E esse constitui o principal problema da democracia brasileira atual: a corrupção do espaço público.
A grande mídia ainda é responsável em boa medida pela informação da maior parte da população, e, dessa maneira, é influente na formação da opinião pública. Por mais que os grandes jornais tenham perdido um pouco de seu poder de agendamento, que o mito dos “formadores de opinião” da classe média tenha sido desmontado na prática, ainda resta a mídia televisiva, que alcança toda a sociedade. E a classe média continua sob a influência diuturna das revistas e jornais dos grandes conglomerados de mídia brasileiros. Temos aqui uma tensão estrutural em uma sociedade que ao mesmo tempo democrática e capitalista.
A propriedade privada dos meios de comunicação, particularmente em seu formato oligopolizado, conduz à usurpação do espaço público em prol dos interesses dos poucos grupos que detém os meios. Na prática, os proprietários tem poder de veto e de agenda sobre tudo o que é informado ao público. É claro que poderíamos imaginar hipoteticamente situações em que o conflito de interesses e de posições ideológicas entre diferentes grupos dentro do oligopólio abra espaço para certa diversidade de opiniões.
Infelizmente, não é isso que se observa em nosso país. Pelo contrário, há um grande alinhamento ideológico entre os principais grupos de mídia, a despeito da competição entre eles em diferentes mercados, como provimento de serviços de internet, TV a cabo etc. Na última eleição agiram de fato como bloco de oposição, comportamento que levou alguns comentaristas a apelida-los coletivamente de “partido da mídia”.
O problema é que finda a eleição, as pessoas parecem que se esqueceram da terrível tragédia que quase se consumou e passaram a tratar a grande mídia como fiel sustentáculo do debate público democrático. Não é! Abram as páginas dos principais jornais e revistas semanais de nosso país e verão que ali geralmente só há um lado da história, somente um pequeno punhado de ideologias afins e silêncios retumbantes. Políticos que são criticados veementemente e outros contra os quais nada se apura.
Ou seja, a corrupção do espaço público é o calcanhar de Aquiles da democracia brasileira, e esse é um calcanhar enfraquecido, luxado, distendido. Sem um sistema de informação plural e responsável não teremos uma formação saudável da opinião pública. Sem uma opinião pública bem informada como poderemos esperar o aprimoramento das instituições, o avanço das questões normativas que se colocam constantemente perante uma sociedade democrática (proibição do porte de armas, aborto, eutanásia, bioética etc) e mesmo a eleição de melhores quadros de representantes?
Mas o noticiário político, por razões óbvias de conflito de interesses, é totalmente impermeável a esse problema fundamental. Pior, toda vez que alguma associação, partido ou político se aventa a criticar o oligopólio midiático, são imediatamente acusados de violarem o princípio fundamental da liberdade de expressão.
Aqui estamos, mais de seis meses se passaram desde a posse da nova presidenta. A grande mídia continua unida, agora sob a égide do combate à corrupção. Querem agendar o debate político, e, claro, agendar o próprio executivo. Trata-se de fato de uma armadilha, pois é agenda eminentemente negativa e com grande potencial de corroer a base de sustentação partidária do executivo no congresso. A presidenta Dilma parece já ter percebido que está sendo atraída para tal armadilha. Sua resposta tem sido não ignorar a pauta completamente, e ao mesmo tempo tentar criar uma agenda positiva de novos programas governamentais e iniciativas de desenvolvimento. A questão é: qual a probabilidade de tal estratégia funcionar se a questão principal, que é a corrupção do espaço público sob o oligopólio da grande mídia, não é atacada? E nesse tocante o governo parece estar na defensiva, pois desde que tomou posse Dilma não manifestou vontade de trabalhar para mudar esse calamitoso estado de coisas.
Para além do problema conjuntural, devemos perguntar até que ponto a democracia brasileira pode continuar se aprimorando se no cerne de seu funcionamento temos um problema dessa monta. Seria ele intratável? Estaríamos fadados a presenciar a fascistização crescente da classe média, logo agora que ela se abre para receber um enorme contingente de brasileiros? Será que a internet, com seu grande potencial de pluralização de fontes de informação, pode nos salvar? Essas são questões fundamentais para o futuro de nosso país. Infelizmente, pouca gente parece interessada em refletir sobre elas.
João Feres Júnior | Instituto de Estudos Sociais e Políticos – IESP | Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ | Centro de Ciências Jurídicas e Políticas – UNIRIO



Charge online - Bessinha - # 1555

1 de Novembro de 2012, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda