Democracia brasileira X "Ditadura" cubana
5 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários aindaNo SolidáriosAnálise eleitoral da candidatura Marcelo Freixo
5 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários aindaEm virtude de Marcelo Freixo representar o grande desafio do candidato favorito ao cargo, o atual prefeito Eduardo Paes, fizemos uma pesquisa sobre a votação do psolista em 2010. Acreditamos que a força principal do candidato irá emergir principalmente dessas mesmas regiões.
Dê uma olhada nos gráficos, depois comentamos. A votação refere-se, naturalmente, à eleição de Freixo para a vaga de deputado estadual, que ora ocupa pela segunda vez.
A força de Freixo assenta-se na zona sul carioca, Barra da Tijuca e nos bairros mais desenvolvidos da zona norte (Tijuca, Maracanã e Vila Isabel). Em suma, o eleitorado de Freixo tem um corte classista muito forte. A mesma coisa já havia sido detectada na pesquisa Datafolha (ver tabela abaixo).
Observe que Freixo tem votação inexpressiva entre eleitores cuja renda familiar mensal é inferior a 5 salários, ou menos de R$ 3 mil ao mês.
Seu eleitorado se concentra sobretudo no público universitário, onde tem 14%.
Outros Estados Unidos
5 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários aindaGore Vidal era uma pessoa fora de seu tempo. Ele representava um Estados Unidos que teima em não querer morrer, mesmo quando todos os índices parecem indicar o contrário. Profundamente ligado a seu país, autor de novelas históricas que davam conta de momentos maiores da formação dos EUA enquanto nação, ele era, mesmo assim, um de seus críticos mais ferozes. Alguém que não tinha ilusões a respeito da transformação da democracia norte-americana em uma plutocracia animada por sonhos imperialistas de “guerra permanente”. Sonhos que se repetiram sistematicamente a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, animados por uma corrida armamentista que, como bem mostrou Vidal, fora criação norte-americana, com todo seu artefato de propaganda construído para convencer o povo americano de que seu dinheiro não deveria ir para escolas públicas, mas para compras militares que os deixariam mais “seguros”.
“Não existe uma pessoa amável dentro de mim. Por trás do meu frio exterior, há apenas água gelada” |
Agora que Gore Vidal está morto, os jornais norte-americanos deleitam-se em fazer longos obituários em que se podem ler detalhes de sua vida sexual, de suas extravagâncias e sua linhagem, na qual era possível encontrar relações de parentesco com Jackie Kennedy e Al Gore. Ou seja, uma espécie de celebridade intelectual frívola e aristocrática que, entre outras coisas, tinha opiniões “bizarras” (ao menos para o norte-americano médio) a respeito da política externa dos Estados Unidos, do conflito palestino, da paranoia securitária, da ameaça terrorista, da necessidade de eliminar a Otan e do fracasso educacional dos EUA. Todos reconhecem a elegância de sua prosa, mas suas posições políticas são retratadas como gosto aristocrático por um radicalismo só assumido por ser inócuo.
É assim que a imprensa dos EUA procura interpretar afirmações precisas de Vidal como: “Neste país há apenas um partido: o Partido da Propriedade – e ele tem duas alas direitistas: a Republicana e a Democrata. Republicanos são um pouco mais rigidamente estúpidos, mais doutrinários em seu capitalismo laissez-faire do que os Democratas. Estes são mais amigáveis, um pouco mais corruptos – até recentemente – e mais dispostos a fazer pequenos ajustes quando os pobres, negros e anti-imperialistas saem do controle. Mas, essencialmente, não há diferenças entre os dois partidos”. Dificilmente alguém conseguiria colocar, no entanto, em palavras tão precisas a raiz do esvaziamento da democracia americana.
Essa sensibilidade de Vidal vinha, na verdade, de uma tradição bem americana. Pois ele era o legítimo representante de uma tradição crítica que poderíamos chamar de “liberalismo de esquerda” e que encontra raízes profundas na formação dos EUA. Basta lembrarmos aqui das posições políticas de pais fundadores da República norte-americana como Thomas Paine. Para esse liberalismo de esquerda, defender os valores liberais não significa fazer uma defesa tosca do individualismo e do empreendedorismo que escamoteia a maneira com que a concentração de riquezas quebra completamente o princípio de crescimento por mérito. Valores liberais não andam sem uma visão profunda a respeito da necessidade de elevar a luta contra a desigualdade econômica à condição de princípio político maior. Gore Vidal nunca se esqueceu disso.
Por outro lado, Vidal sabia que o conservadorismo na dimensão dos costumes é indissociável de uma elevação do medo a afeto político central. Medo que, por sua vez, serve de motor fundamental do conservadorismo político. Daí sua maneira de afirmar que, por exemplo, “sexo é política”, que a liberalidade a respeito dos modos da vida afetiva e de suas instituições é indissociável do fortalecimento de uma verdadeira consciência política crítica.
Por tudo isso, Gore Vidal tinha clara consciência de que ele era uma espécie de resquício de um tempo que não se realizou. Uma versão de um país que nunca se calou, mas que tinha cada vez menos vozes. Seu humor amargo era a expressão de alguém que sabia lutar contra o próprio tempo, isso em nome de um futuro que se conserva como promessa. Ele era a prova viva de como é possível ser liberal sem ser estúpido e simplório.
Vladimir SafatleNo CartaCapital
À sombra de Hiroshima
5 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários aindaHá muito em que se pensar neste 6 de agosto, aniversário da destruição de Hiroshima por uma bomba atômica. De 1945 para cá, o mundo esteve várias vezes à beira da guerra nuclear. O Irã está no centro, hoje, da crise mais grave que ameaça o mundo com uma guerra destruidora. A guerra contra o Irã está em processo, inclusive com o assassinato de cientistas e pressões econômicas que chegaram ao nível de guerra não declarada. A atual escalada dessa guerra não declarada aumenta a ameaça de uma guerra acidental em grande escala.
O dia 6 de agosto, aniversário de Hiroshima, deveria ser um dia de reflexão sombria, não só a respeito dos acontecimentos terríveis dessa data, em 1945, mas também sobre o que eles revelaram: que os seres humanos, em sua busca dedicada por meios de aumentarem a sua capacidade de destruição, finalmente tinham conseguido encontrar uma forma de se aproximarem desse limite final.
Os atos em memória desse dia têm um significo especial neste ano. Têm lugar pouco antes do 50º aniversário do momento mais perigoso na história humana, nas palavras de Arthur M. Schlesinger Jr, historiador e assessor de John F. Kennedy, ao se referir à crise dos misseis cubanos. Graham Allison escreve na edição atual da Foreign Affairs que Kennedy ordenou ações que ele sabia que aumentariam o risco, não só de uma guerra convencional, mas também de um enfrentamento nuclear, com uma probabilidade que, acreditava ele, de talvez 50% , cálculo que Allison considera realista.
Kennedy declarou um alerta nuclear de alto nível, que autorizava o uso de aviões da OTAN, tripulados por pilotos turcos (ou outros), a decolarem, voarem a Moscou e largarem uma bomba. Ninguém esteve mais assombrado pela descoberta dos mísseis em Cuba do que os homens encarregados de mísseis similares que os Estados Unidos tinha largado clandestinamente em Okinawa, seis meses antes, seguramente apontados para a China, em momentos de tensão crescente. Kennedy levou o presidente soviético Nikita Krushev à iminência da guerra nuclear e ele olhou o que se aproximava e não teve estômago para a coisa, segundo o general David Burchinal, então alto oficial do pessoal de planejamento do Pentágono.
Não se pode contar sempre com essa cordialidade. Krushev aceitou uma fórmula apresentada por Kennedy pondo fim à crise que estava a ponto de se converte em guerra. O elemento mais audacioso da formula, escreve Allison, era uma concessão secreta que prometia a retirada dos mísseis estadunidenses da Turquia num prazo de seis meses depois do fim da crise. Tratava-se de mísseis obsoletos que estavam sendo substituídos por submarinos Polaris, muito mais letais.
Em resumo, correndo inclusive o alto risco de uma guerra de destruição inimaginável, considerou-se necessário reforçar o princípio de que os Estados Unidos têm o direito unilateral de situar misseis nucleares em qualquer parte, alguns apontados para a China ou para as fronteiras da Rússia, que até então não tinha nunca posto mísseis fora da URSS.
Ofereceram justificações, é claro, mas não sobrevivem a uma análise. Cuba, como princípio correlato a isso, não estava autorizado a possuir mísseis para sua defesa contra o que parecia ser uma invasão iminente dos Estados Unidos. Os planos para os programas terroristas de Kennedy, a Operação Mangusto, estabeleciam uma revolta aberta e a derrocada do regime comunista em outubro de 1962, mês da crise dos mísseis, com o reconhecimento de que o êxito final exigiria uma intervenção decisiva dos Estados Unidos.
As operações terroristas contra a Cuba são descartadas habitualmente pelos comentaristas como travessuras insignificantes da CIA. As vítimas, como é de se supor, veem as coisas de uma forma bastante diferente. Ao menos podemos ouvir suas palavras em Vozes do outro lado: Uma história oral do terrorismo contra Cuba, de Keith Bolender.
Os eventos de outubro de 1962 são amplamente celebrados como o melhor momento de Kennedy. Allison os oferece como um guia sobre como reduzir o risco de conflitos, manejar as relações das grandes potências e tomar decisões acertadas a respeito da política externa em geral. Em particular, os conflitos atuais com o Irã e a China.
O desastre esteve perigosamente próximo em 1962 e não tem havido escassez de graves riscos desde então. Em 1973, nos últimos dias da guerra árabe-israelense (a guerra do Yom Kippur), Henry Kissinger lançou um alerta nuclear de alto nível. A Índia e o Paquistão tem estado há muito próximos de um conflito atômico. Tem havido inúmeros casos nos quais a intervenção humana abortou um ataque nuclear momentos antes do lançamento de mísseis, com base em falsas informações de sistemas automatizados.
Há muito em que se pensar no 6 de agosto. Allison se une a muitos outros ao considerar que os programas nucleares do Irã são a crise atual mais grave, um desafio ainda mais complexo para os formuladores da política dos Estados Unidos do que a crise dos mísseis cubanos, dada a ameaça de um bombardeio israelense. A guerra contra o Irã está em processo, inclusive com o assassinato de cientistas e pressões econômicas que chegaram ao nível de guerra não declarada, segundo o critério de Gary Sick, especialista em Irã.
Há um grande orgulho da sofisticada ciberguerra dirigida contra o Irã. O Pentágono considera a ciberguerra como ato de guerra, que dá um cheque em branco para o uso da força militar tradicional, informa o The Wall Street Journal. Com a exceção usual: não quando o Estados Unidos ou um aliado é que a realiza. A ameaça iraniana tem sido definida pelo general Giora Eiland, um dos maiores estrategistas militares de Israel, “um dos pensadores mais engenhosos e prolíficos que (as Forças de Defesa de Israel) produziram”.
Entre as ameaças que ele define, a mais plausível é que qualquer enfrentamento nas fronteiras teria lugar sob um guarda-chuva nuclear iraniano. Em consequência, Israel poderia se ver obrigado a recorrer à força. Eiland está de acordo com o Pentágono e com os serviços de inteligência dos Estados Unidos, que consideram a dissuasão como a maior ameaça que o Irã representa.
A atual escalada da guerra não declarada contra o Irã aumenta a ameaça de uma guerra acidental em grande escala. Alguns perigos foram ilustrados no mês passado, quando um barco estadunidense, parte da enorme força militar no Golfo, disparou contra uma pequena embarcação de pesca, matando um membro da tripulação indiana e ferindo outros três. Não seria preciso muito para iniciar outra guerra importante.
Uma forma sensata de evitar as temidas consequências é buscar a meta de estabelecer no Oriente Médio uma zona livre de armas de destruição em massa e todos os mísseis necessários para o seu lançamento, e o objetivo e uma proibição global do uso de armas químicas – o que é o texto da resolução 689 de abril de 1991, do Conselho de Segurança, que os Estados Unidos e a Grã Bretanha invocaram em seu esforço para criar uma cobertura complacente para a sua invasão do Iraque, 12 anos depois.
Essa meta tem sido um objetivo árabe-iraniano desde 1974 e nesses dias tinha um apoio global quase unânime, ao menos formalmente. Uma conferência internacional para debater formas de levar a cabo esse tratado pode ocorrer em dezembro. É improvável o progresso, a menos que haja um apoio público massivo no Ocidente. Ao não se compreender a importância dessa oportunidade, alarga-se mais uma vez a sombra que tem obscurecido o mundo desde o terrível 6 de agosto.
Noam Chosmky é o maior linguista do século XX, professor emérito do MIT.Tradução: Katarina Peixoto
No Carta Maior
A trajetória de Nuzman
5 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários aindaCarlos Arthur Nuzman |
Gente, vamos focar e analisar a "figura" e a trajetória do cartola Nuzman. Esta pode ser dividida em duas fases/períodos:
- a primeira como dirigente máximo da Confederação Brasileira de Volei (CBV), de 1975 a 1997;
- a segunda como presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), de 1997 até 2012.
Êxitos
Os sucessos da primeira fase/período catapultaram seu nome para alçar-se à segunda. Vejamos abaixo.
1. Gestação de craques e forte apoio à estruturação de equipes e campeonatos: a ascenção gradual do vôlei como esporte nº2 do Brasil via estímulo e estratégia inteligente na construção de gerações sucessivas de talentos - Badalhoca, Bernard e Bebeto de Freitas (jogador) em Montreal/74 que somaram-se à Renan, Montanaro, William, Bernardinho (jogador), Amauri, Xandó e tantos outros na "geração de prata" de Los Angeles/84, ao mesmo tempo em que uma rara visão fez manter os estímulos da CBV às seleções de categorias de base (infantil, juvenil e sub-20) que colecionaram títulos e foram o alicerce da "geração de ouro" em Barcelona/92 com Maurício, Marcelo Negrão, Tande, Giovane e Paulão - esta prepararando o terreno para a "geração papa-tudo" de Giba, Ricardinho, Dante, Rodrigão, Serginho, Bruno e que foram o maior selecionado de voleibol do mundo. Ganharam TUDO sob o comando de Bernardinho (esta já sob a tutela dedicada do sucessor e reflexo de Nuzman na pres. da CBV, Ary da Graça). O vôlei feminino também cresceu de forma semelhante e chegou à medalha olímpica. Sorte momentânea em gerações sucessivas de talentos? Não, muito pelo contrário - e a prova está na comparação da ascensão do vôlei com a decadência do basquete nacional (que não repetiu a renovação das gerações talentosas de Oscar e Hortência, evidente no enorme "vácuo" entre esta, a geração de 60 bicampeã mundial (de Amaury, Rosa Branca, etc.) e a atual de Nenê, Leandrinho, Huertas, Splitter, Varejão (de nível NBA).
2. Implementação de gestão profissional nos clubes-empresas - Paralelo a isso, uma visão empresarial (primeiro na confederação e depois extendida aos clubes) foi estimulada por Nuzman - a equipe de Santo André era a Pirelli e a do Rio era a Atlântica Boavista, (depois Bradesco/Atlântica), tendo ainda o paulistano Banespa e o mineiro Minas Tênis/Fiat. A verba para as equipes vinha da nomeação e patrocínio de um esporte cada vez mais visto na TV e de cada vez maior resultado no cenário mundial.
3. Reconhecimento internacional - O Brasil em 1984 já era uma escola de vôlei própria, com seu estilo e padrão reconhecidos (internacionalmente) como uma fusão inteligente do volei-força europeu (polonês e russo) à escola de velocidade asiática (japonesa/coreana). Argentina, França e Iugoslávia (depois Sérvia/Croácia) são derivações claríssimas de nosso estilo de jogo.Outro detalhe: sabiam que o saque forçado "Viagem ao Fundo do Mar" (executado com um salto e "cortada") foi inventado por um jogador polonês em Montreal/74 mas não era prática largamente utilizada no jogo até sua aplicação estratégica (e bem sucedida) pelos brasileiros no Mundial de 1982? Nem a Rússia (a melhor seleção da época) a via como decisiva até ver William, Xandó e Renan fazê-la com bons resultados (já o saque "Jornada nas Estrelas" de Bernard era uma estravagância e não teve continuidade).
Resultado: o protagonismo do vôlei brasileiro e seus êxitos destacaram Nuzman e fizeram da gestão do volei nacional um case de sucesso que o referenciava no meio esportivo. Mas veio a 2ª fase dirigencial no COB e, aí, ficaram evidentes em Nuzman outras características (e vícios) do management esportivo tupiniquim:
1. Nada é de graça - tudo o que era concebido e implementado com sucesso no âmbito do vôlei produzia receita, com uma margem revertida a seu "mentor"; normal, pois em todo esporte brasileiro a cartolagem é assim. Isso garante prosperidade e apoio à perenidade no cargo (Havelange e Teixeira na CBF, Mamede no Judô, Farah na FPF, Caixa D'Água e Eurico Miranda no RJ, etc.).
2. Mais possibilidades ($$$) num cargo maior, mas menos sucesso - Mas o COB é maior e, embora com mais possibilidades, há mais conflitos e menos foco de receitas. A gestão Nuzman tinha de apostar o grosso das fichas no patrocínio governamental, via estatais (fora bancos, as únicas empresas de budget suficiente para arcar com os grandes custos de delegações olímpicas, estrutura física confederativa e, claro, o "percentual do empreendedor" - ou "taxa do cara").
3. Ambição desmedida - E o"cara" era caro e ficou ambicioso, ao ver no COI e FIFA as "possibilidades" do esquema. Aí, deixou de ser gestão esportiva com foco em resultados e passou a ser gestão com foco na mera alavancagem de receitas (independente de resultados apresentados, porque aí o "esquema" perde a vergonha).
Deu no que deu - mas a prática não é de hoje, nem criação ou exclusividade do Nuzman...
P.S.: Não quero dizer - com meu post - que sua atuação como dirigente esportivo seja justificável ou até mesmo perdoável (a sua permissividade/estímulo a malfeitos é evidente, tanto quanto o seu ganho pessoal indevido). Porém, não é inédita ou única, sendo apenas uma reprodução de um padrão de atuação tolerado por um traço cultural que nos remete à tão comentada e informal Lei Gérson ("levar vantagem em tudo, certo?"). Só vou citar um exemplo da disseminação dessa visão gerencial e empresarial do esporte que ultrapassou o vôlei: a gestão Parmalat no Palmeiras (de 1993 a meados de 1997), com ninguém menos do que José Carlos Brunoro (ex-técnico de vôlei da Pirelli) no comando. Hoje ele dirige o Pão de Açúcar E.C. na 2ª divisão, com foco só na formação de talentos para venda e lucro ao exterior.
waldyr.kopezkyNo Advivo
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Pede pra sair, Nuzman!
O Brasil, mais uma vez, vai micar. Já virou uma tradição – ou, numa expressão cara ao meu irmão Paulo, o triunfo da esperança. Olimpíadas têm, no mínimo, uma função importante: inspirar as pessoas a saírem do sofá e praticar esportes. Por que o país não evolui na competiçao? Bem, há muitas explicações. A principal delas nós sabemos: o Brasil não tem uma estrutura que proporcione o surgimento de atletas de outra modalidade que não seja o futebol. Além disso, não há renovação: Cesar Cielo, Fabiana Murer, Bernardinho, Marta, Daiane, Diego Hipólito etc etc. Nada de novo, a não ser na turma do judô e as meninas do handebol.
Mas há um nome que é o mais velho deles e deveria responder por esse desempenho. Aos 70 anos, Carlos Arthur Nuzman está há 17 no Comitê Olímpico Brasileiro, sem trazer resultados expressivos. O que explica esse apego? Em 2000, ele reclamou que não tinha verba e que, se tivesse, transformaria o país em potência olímpica. Bem, contou com 2 bilhões de reais, investidos na preparação para Londres. E aí?
Sim, ele teve um papel importante no fato do Rio de Janeiro ter vencido a disputa para sediar os Jogos de 2016. Mas o que isso faz dele? Organizador de festas? Em abril, ele foi reeleito até 2016. Foi o único a registrar uma chapa. Nuzman guarda alguma semelhança com Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF. Ambos são especialistas em se perpetuar nos cargos. Teixeira, porém, tem duas vantagens: 1; ele saiu; 2. apesar de tudo, ele entregou resultados importantes durante seu reinado.
Lorde Moynihan: espantado com o baixo número de atletas ingleses vindos de escolas públicas |
Nos Estados Unidos, o presidente do Comitê Olímpico é Stephanie Streeter, eleita em março de 2009. Seu colega chinês, Liu Peng, assumiu em 2008. O presidente do British Olympic Association, BOA, Lorde Moynihan, está lá desde 2005. Seu mandato expira este ano. A Grã-Bretanha deve terminar em terceiro lugar no quadro de medalhas. O Brasil provavelmente estacionará no 25º, atrás de Cazaquistão, Bielorússia, Coreia do Norte, entre outros.
Na semana passada, Moynihan declarou ser inaceitável a desproporção entre medalhistas oriundos de escolas públicas e privadas. Apenas 7% dos ingleses frequentam escolas particulares – mas metade das medalhas ganhas em Pequim pertencia a alunos dessas instituições. Até agora, o chamado Team GB faturou 14 ouros. Quatro são de gente de escolas privadas e um quinto é de um atleta que estudou na Alemanha. ”Nós teremos falhado se, em 2016, olharmos para trás e não acharmos que transformamos nossa paisagem esportiva. Os Jogos de 2012 têm de causar arrepios em cada uma das nossas crianças”.
Nuzman tem visto, provavelmente, as boas práticas em outros lugares. Há várias lições a aprender. Mas, talvez, a principal delas é a que ele jamais admitirá: quem perde há tanto tempo precisa sair. Pede pra sair, Nuzman.
Paulo NogueiraNo Diário do Centro do Mundo