Oposição se disfarça de ONG para fazer campanha contra o mensalão no Twitter
3 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários aindaEstá em curso na internet a campanha “Doe 1 tweet pelo Julgamento do #mensalao”, encabeçada pela ONG Brazil No Corrupt – Mãos Limpas. A campanha pede aos usuários do serviço de microblogs Twitter que cadastrem sua conta em um aplicativo que acessa a conta do usuário e publica mensagens a partir dela. No caso, mensagens pedindo a condenação dos réus no processo conhecido como “mensalão”.
No vídeo de apresentação da campanha são sobrepostas imagens do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma Rousseff acompanhadas de notícias da Veja (que surpresa!) e de fotos dos réus do mensalão. Uma tentativa risível de associar a imagem de Lula e Dilma a um processo no qual nem sequer são réus.
Acessando a página da ONG Brazil No Corrupt – Mãos Limpas é interessante notar que entre blogueiros e políticos linkados no seu menu principal, está o blogueiro da revista Veja, Reinaldo Azevedo, e o site de campanha do filho do polêmico deputado Jair Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, que concorre ao cargo de vereador no Rio de Janeiro.
Outro link no site da referida ONG leva ao site Mídia Sem Máscaras, que define-se da seguinte maneira: “Embora sem recursos para promover uma fiscalização ampla, MÍDIA SEM MÁSCARA colhe amostras, que por si só, bastam para dar uma ideia da magnitude e gravidade da manipulação esquerdista do noticiário na mídia nacional”.
Outro ponto curioso no site da ONG é a crítica à OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil – RJ) por apoiar o movimento Levante Popular da Juventude, organização de jovens que tem promovido atos públicos para mostrar quem são e como vivem os militares acusados de envolvimento em violações dos direitos humanos durante a ditadura.
O blog questiona desta maneira o apoio da OAB carioca: “Que OAB é essa que incentiva o revanchismo e desestimula a meritocracia através do forjado exame da ordem? Será que vamos assistir a tudo calados ou nossos filhos terão que reagir a esta juventude fabricada pelo PC do B”. E mais abaixo apresenta foto onde um jovem cospe no rosto de um senhor durante um suposto “escracho” do Levante Popular da Juventude. Sobreposta à foto, a seguinte frase: “A esquerda aproveita-se da nossa juventude crackeira. Comunistazinho metido a revolucionário esquerdista, cospe no rosto de um velho. Cadê a mãe deste comunistazinho?”
É legítimo que a sociedade civil manifeste sua opinião sobre o julgamento do chamado “mensalão”, mas quando se cria uma ONG (Brazil No Corrupt – Mãos Limpas) para atacar um partido e fazer campanha de outros grupos políticos, o mínimo que se pode pensar é que neste mato tem coelho. E eu arriscaria dizer que este coelho tem penas e se disfarça de coelho, mas na veredade é um pássaro meio colorido e bicudo.
Pesquisa mostra os efeitos da resistência a inseticidas no mosquito da dengue
3 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários ainda“Foi verificado que quanto mais resistente a população, maiores suas desvantagens em ambiente livre de inseticida", Ademir Martins, do IOC
Não é de hoje que os inseticidas para controle do Aedes aegypti têm sido colocados em debate, por selecionar os insetos resistentes, quando usados de modo inadequado. Um estudo realizado por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), além de reforçar essa evidência, analisou a dinâmica da resistência a inseticidas e os efeitos biológicos nos mosquitos.
A pesquisa identificou que a resistência tem um custo evolutivo para o vetor, afetando seu desenvolvimento, tempo de vida e reprodução. Foram realizados testes com mosquitos de populações naturais provenientes de cinco cidades brasileiras – Fortaleza (CE), Maceió (AL), Uberaba (MG), Aparecida de Goiânia (GO) e Cuiabá (MT). Também foi feita uma experiência de “pressão de seleção” com inseticida piretróide (utilizado contra o mosquito adulto) em laboratório com vetores originários de Natal (RN). Esta pressão de seleção, que podemos considerar como uma simulação do que ocorreria na natureza, foi feita por nove gerações consecutivas de mosquitos, divididos em um grupo mantido com inseticida e outro sem inseticida.
Os mosquitos de populações naturais e aqueles mantidos sob pressão de seleção no laboratório foram testados quanto ao nível de resistência ao larvicida organofosforado temephós e ao adulticida piretróide deltametrina. Em paralelo, foram analisados aspectos de desenvolvimento e reprodução, como o número de ovos colocados, a quantidade de sangue ingerido durante a picada, o tempo de desenvolvimento da larva e a longevidade do adulto.
“Foi verificado que quanto mais resistente a população, maiores suas desvantagens em ambiente livre de inseticida. O grupo mantido no laboratório sob pressão de seleção por nove gerações foi o que demonstrou maiores efeitos negativos, provavelmente devido ao acúmulo de genes letais. Estes resultados corroboram estudos que vêm demonstrando efeitos negativos da resistência a inseticidas para a fisiologia do inseto”, explicou o pesquisador Ademir Martins, que desenvolveu o estudo juntamente com a estudante Camila Ribeiro e outros pesquisadores dos Laboratórios de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores e de Biologia Molecular de Insetos do IOC/Fiocruz.
Efeitos do inseticida no mosquito
O estudo mostra que o processo de resistência a inseticidas é capaz de gerar desvantagens biológicas para o próprio vetor. “O uso contínuo desses compostos químicos seleciona população de Aedes resistentes, mas pode trazer de carona efeitos negativos à fisiologia normal do inseto, tornando-o menos competitivo em ambientes livres de inseticida. É o que chamamos de custo evolutivo, pois, se por um lado ele sobrevive ao inseticida, por outro, passará a ter menos aptidão para acasalar, levará maior tempo até chegar à fase adulta e a quantidade de ovos colocados pela fêmea será menor”, complementou.
Em uma primeira impressão, poderia-se pensar que esse custo evolutivo seria bom para o homem, uma vez que os mosquitos resistentes tenderiam a sumir se o inseticida deixasse de ser aplicado. Entretanto, o atual cenário de desvantagens para o mosquito, tende, em projeções futuras, a ter um fim. “A evolução é um processo muito dinâmico e já foi verificado em outros insetos que ocorre a seleção dos chamados ‘genes modificadores’, cuja pressão contínua com inseticida acaba por extinguir as desvantagens atreladas à resistência, o que originaria um cenário nada animador”, enfatiza o especialista. “Além disso, esse custo atual não impede que o mosquito continue transmitindo a dengue”, completa.
Controle do vetor
Diferentemente do que muitos pensam, a forma mais eficaz de diminuir a proliferação do Aedes aegypti é por meio do controle mecânico, que consiste na eliminação dos criadouros, e não pela utilização de inseticidas contra adultos e larvas, que é apenas uma das formas de controle, mas não a principal, já que apresenta uma série de “efeitos colaterais”.
“O inseticida é uma das formas de controle, que pode ser benéfica e ajudar a eliminar o mosquito quando utilizada de maneira adequada. Mas, quando utilizado indiscriminadamente, ele seleciona as populações de mosquitos resistentes, o que propicia novas gerações também resistentes, perdendo, assim, sua finalidade inicial. É muito mais interessante que as pessoas criem o hábito constante de eliminar ou tratar adequadamente potenciais criadouros de larvas dentro de suas casas. Este método, que deve ser um hábito tão comum como escovar os dentes todos os dias, não seleciona resistência, não polui o meio ambiente e evita a proliferação de outras doenças, inclusive.”, afirma o pesquisador.
Vinicius Ferreira/Instituto Oswaldo CruzNo Fiocruz
Para justificar falta de prova, Gurgel dispara contra José Dirceu
3 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários aindaO procurador-geral da República, Roberto Gurgel, reafirmou nesta sexta-feira (3), durante julgamento do chamado mensalão, a existência do esquema de distribuição de dinheiro que, segundo ele, foi o “mais atrevido e escandaloso caso de corrupção e desvio de dinheiro público” da política nacional. Para justificar a falta de provas contra José Dirceu, disse que o crime organizado possui métodos sofisticados de ação e o ex-ministro seria o mentor intelectual do grupo.
“O autor intelectual age entre quatro paredes, em conversas restritas com os cúmplices. Quase sempre não fala ao telefone, não manda mensagens virtuais e não movimenta contas bancárias", declarou.
No entanto, concordou que há provas pouco robustas contra quem chamou de “principal figura de tudo que apuramos” e “o grande protagonista” do mensalão, mas atribuiu o fato ao papel de liderança que Dirceu exercia. “Como quase sempre ocorre com chefes de quadrilha, o acusado não aparece nos atos de execução do esquema”, justificou.
Na primeira metade de sua sustentação, no Supremo Tribunal Federal (STF), Gurgel citou o papel de cada integrante do esquema, sempre dando destaque à atuação do ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu, que, de acordo com o procurador, era o "mentor" da ação.
Acusou Dirceu de usar laranjas e não se relacionar com os membros secundários da quadrilha. Por isso, segundo ele, não deixa rastros de sua ação.
"Por isso, as provas contra Dirceu não viriam de perícias, mas da prova testemunhal que teriam, segundo Gurgel, a mesma capacidade probatória das demais. “Essas provas [testemunhos] são contundentes na atuação de Dirceu como líder criminoso do grupo”, completou Gurgel.
O procurador citou depoimentos do publicitário Marcos Valério, que disse na ocasião que Dirceu sempre soube das ações e que garantiria os empréstimos dos acordos. Nada aconteceria sem a aprovação de Dirceu, incluindo reuniões com parlamentares sobre o suposto esquema comandadas por José Genoino e Delúbio Soares.
Gurgel apontou, ainda, que depoimentos de Emerson Palmieri e Valdemar da Costa Neto comprovam que as reuniões para suposta compra de apoio do PP ocorriam na residência de Dirceu: “A ascendência dele como chefe do grupo foi cabalmente provada, pois ele tinha conhecimento dos acordos mediante ao pagamento e participou das negociações com o PP diretamente.”
Sobre a suposta compra de apoio do PTB, afirmou que Genoino era o representante nas negociações com Roberto Jefferson. Jose Dirceu homologava, no entanto, todos os acordos por telefone.
A montagem do esquema, segundo Gurgel
Segundo o procurador, o mensalão foi montado em 2003, logo no início do primeiro mandato do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para cooptar apoio político. Gurgel disse que a base do esquema constituía na captação de verbas por parte do publicitário Marcos Valério, a mando da cúpula do PT, para distribuição entre parlamentares da base aliada.
O procurador tem direito a cinco horas para falar sobre os 38 réus, uma média de oito minutos para cada um. Na primeira parte de sua apresentação, ele optou por dar destaque a José Dirceu, primeiro da sequência acusatória, a quem dedicou quase 30 minutos de sua fala.
Ainda no núcleo político (os réus foram divididos em três núcleos: político, operacional e financeiro), Gurgel citou o ex-presidente do PT José Genoíno, o ex-secretário-geral do partido Silvio Pereira e o ex-tesoureiro da legenda Delúbio Soares, além dos parlamentares dos partidos beneficiados pelo esquema – PL (hoje PR), PTB e PP.
Do núcleo publicitário-financeiro, o destaque foi para Marcos Valério. “Dirceu foi o mentor do esquema enquanto Marcos Valério foi seu executor”, sintetizou Gurgel. O interesse desse núcleo, segundo o procurador, era se aproximar do governo a fim de obter vantagens em contratos publicitários e desvio de verba em benefício próprio.
Ainda segundo Gurgel, o núcleo financeiro – formado por dirigentes do Banco Rural à época – aceitou entrar no esquema para obter vantagens em transações envolvendo instituições financeiras. Segundo a denúncia, o grupo forjou empréstimos que não ocorreram na realidade, dissimulando a origem ilegal da verba. O procurador lembrou que representantes do Banco BMG não estão na ação penal do STF porque o caso está sendo tratado em outro processo, que tramita na Justiça de primeiro grau.
Na segunda fase da exposição, Gurgel passou a tratar dos crimes imputados a cada um dos réus e as provas que sustentam as acusações. Os crimes citados na denúncia – variáveis para cada réu – são formação de quadrilha (um a três anos de prisão), corrupção ativa e passiva (dois a 12 anos cada), peculato (dois a 12 anos), evasão de divisas (dois a seis anos), gestão fraudulenta de instituição financeira (três a 12 anos) e lavagem de dinheiro (três a dez anos).
No VermelhoMemória viva
3 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários aindaAlguém bate à porta. “Entre.” Entra o jornalista Luis Weiss. Vem da outra margem do rio e o atravessou a montante, como boi de piranha. Não é um sonho, é memória viva. Estamos no começo de outubro de 1975, eu dirijo a revista Veja e Weiss acaba de sair da equipe de jornalismo da TV Cultura, comandada por Vlado Herzog.
Dom Paulo. Personagem admirável por bravura e compaixão. Foto: Mabel Feres/AE |
A saída, diz Weiss, resulta de uma decisão do grupo, acusado de compor uma célula comunista e encarado com extrema, aterradora suspeita pelos jagunços fardados da casa-grande, concentrados no DOI-Codi e prontos a agir. Trata-se de verificar o comportamento das piranhas, e a comparação parece-me perfeita. Weiss pede emprego, digo “começa já”. Decido de pronto, a evitar consulta aos patrões, mesmo porque tenho autonomia para tanto. Sei, porém, que, se recorresse às suas luzes, viriam de lâmpada Skuromatic e criariam trevas ao meio-dia.
Evoco o episódio daqueles dias plúmbeos porque pouco mais de duas semanas após Vlado seria assassinado pelos torturadores da ditadura civil-militar. Nesta edição, entrevistado por Ana Ferraz, Audálio Dantas, então presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, também fala daqueles momentos e generosamente se refere a mim e ao meu envolvimento no doloroso enredo. De fato, na madrugada de 25 de outubro de 1975, ao saber que Vlado teria de se apresentar de manhã às cancelas do DOI-Codi e que também Weiss era procurado pelos jagunços fardados, procurei em vão pelo telefone o chefe da Casa Civil, Golbery do Couto e Silva, e o governador Paulo Egydio, ambos ausentes dos seus paradeiros habituais e inalcançáveis.
Atendeu-me o cardeal-arcebispo Dom Paulo Evaristo, e foi ele quem, horas após, conseguiu falar pelo telefone com Paulo Egydio e dele recebeu a seguinte incumbência: instruir-me para que eu fosse a Santos à procura do coronel Erasmo Dias, secretário da Segurança do governo paulista, e o instasse a regressar à capital de sorte “a assumir o controle da situação”. Segundo o governador, eu daria com o coronel na Vila Belmiro, reduto do Santos Futebol Clube. Contive-me para não despencar miseravelmente na gargalhada. Disse apenas: “Pelo amor de Deus, Dom Paulo, no mínimo Erasmo Dias me prende no ato”. Retrucou o cardeal: “Esta é a mensagem do governador, no mais eu entendo de Deus muito mais do que você”.
A observação soou-me de toda justiça, e fui atrás do coronel, a partir do gramado que celebrizou Pelé. Não o encontrei nem ali, nem em outro canto. Quando encerrei a busca, Vlado já estava morto, abatido na célebre imagem forjada para simular o suicídio, como títere abandonado no bastidor.
No dia seguinte, enquanto Dom Paulo cogitava do culto ecumênico que reuniria na Sé 8 mil pessoas na mira dos atiradores postados no alto dos prédios erguidos em torno da praça central de São Paulo, um comunicado do sindicato de Audálio negava com todas as letras a versão do suicídio. O mesmo Audálio que, com as devidas garantias de que tudo não passaria de um depoimento, juntou-se a mim para levar Luis Weiss, desde a madrugada de sábado escondido no apartamento de José Roberto Guzzo, um dos dois redatores-chefes da Veja, à presença de um certo, e soturno, coronel Paiva, substituto do coronel Brilhante Ustra na chefia do DOI-Codi. O compromisso foi cumprido, Weiss estava em liberdade três horas depois.
O sindicato, sob a batuta de Audálio, teve papel extraordinário na resistência à ditadura civil-militar, papel indispensável à memória daquele tempo trágico, e infamante para muitos brasileiros, fardados e paisanos. Ainda assim, estes e seus herdeiros pretendem relegá-lo ao esquecimento. A bem do País? A bem da paz geral da Nação? Ora, ora, a bem deles mesmos. Nesta edição, a reportagem de capa aponta para a possibilidade inédita de que um torturador feroz, primeiro responsável por inúmeros assassínios cometidos nas masmorras do DOI-Codi, seja condenado. Seria um passo decisivo na derrubada da dita lei da anistia imposta pela ditadura civil-militar.
Sim, a história costuma ser escrita pelos vencedores. Até onde chegam a leniência e a covardia que Argentina e Chile não tiveram, e muitos outros povos em ocasiões recentes ou remotas? Ou será que vencedores foram eles mesmos, ainda e sempre senhores da casa-grande?
As pesquisas, o mensalão e a “opinião pública”
3 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários aindaNunca tantos falaram em nome da "opinião pública" como nestas últimas semanas que antecederam o início do julgamento do processo do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal.
Até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em nome da "sociedade que não suporta mais esta situação", saiu dos seus cuidados para gravar vídeos clamando pela necessidade de se "fazer justiça" para não colocar em risco o futuro da democracia brasileira.
E só tem um jeito de se fazer justiça, segundo os porta-vozes midiáticos da opinião pública, repetindo com todas as letras o lema do procurador-geral Roberto Gurgel: "Fazer justiça é condenar todos os réus".
A "sociedade" a que FHC se refere deve ser certamente aquela formada por seu moribundo partido (ver pesquisa CNT Opinião e Ibope mais abaixo) com os principais veículos de comunicação do país reunidos no Instituto Millennium, que desde 2005 querem "acabar com esta raça", o desejo revelado publicamente por seu aliado Jorge Bornhausen (por onde andará?).
Antes mesmo de Roberto Gurgel começar a ler o seu memorial de acusação na sexta-feira, após o massacre contra o PT dos últimos dias, que ocupou todos os espaços na velha mídia, dia e noite, o veredicto já estava dado, e nem seria necessário prosseguir o julgamento. Bastaria chamar o camburão da polícia para prender todos os réus.
O objetivo declarado era condenar e tirar de circulação o ex-ministro José Dirceu e outros dirigentes do PT. Por trás de todo o discurso moralista em nome da "opinião pública", porém, o que eles queriam mesmo era finalmente derrotar e acabar com a alta e inabalável aprovação popular do ex-presidente Lula, o que não conseguiram fazer nas urnas.
Gastaram toda sua munição nisso e devem ter ficado profundamente frustrados quando foram divulgados ontem os resultados da pesquisa CNT Opinião, mostrando que Lula teria 69,8% dos votos se a eleição presidencial fosse hoje, contra apenas 11,9% do tucano Aécio Neves, o candidato de FHC. Dilma também ganharia de lavada de Aécio: 59% a 14,8%.
Na falta de uma pesquisa sobre como o povo entende o julgamento do mensalão e o papel da imprensa nesta história _ por que não a fizeram ainda? _ outro indicador que deve deixar a "sociedade" dos tucanos e da mídia inconformados é a avaliação da presidente Dilma Rousseff, que não para de subir: passou de 70,2%, em agosto de 2011, para 75,7% por cento agora.
Ou seja: nem o governo Dilma, nem Lula, nem o PT foram abalados pela campanha de vida ou morte desencadeada por derrotados de 2002, 2006 e 2010.
Pior ainda para o orgulho dos tucanos de bico grande em São Paulo deve ter sido a pesquisa Ibope também divulgada ontem sobre a sucessão municipal em São Paulo.
Outra vez candidato tucano, José Serra também não para de subir, mas é nos índices de rejeição, que já atingiram 34% nesta pesquisa (no Datafolha, chegaram a 37%).
Nos índices de intenção de votos, acontece exatamente o contrário: em relação à primeira pesquisa Ibope, divulgada em maio, Serra caiu 5 pontos, ficando agora com 26%, enquanto o candidato do PRB, Celso Russomanno, subia 9 pontos, de 16% para 25%, em rigoroso empate técnico com o tucano.
O que se nota nesta pesquisa é que Russomanno, e não o candidato do PT, Fernando Haddad, empacado com apenas 6%, atrás de Soninha, do PPS, incorporou o papel de candidato da oposição à administração Serra-Kassab.
O eleitorado parece cansado da eterna disputa entre tucanos e petistas e, ao que as pesquisas até aqui indicam, escolheu este ano uma terceira via, encarnada pelo candidato do PRB e sua bandeira da defesa do consumidor.
Na semana em que começou o julgamento destinado a "acabar com a raça" do PT, foi o PSDB de Serra que bateu seu recorde de rejeição no Ibope, enquanto Dilma e Lula batiam recordes de números positivos.
Alguma coisa deu errado no projeto dos estrategistas globais do Instituto Millennium. A "opinião pública" tão cortejada já não obedece aos antigos "formadores de opinião".
Ricardo Kotscho