Era uma tarde de quinta-feira, e eu tinha acabado de chegar a Curitiba no Paraná. Saí direto do aeroporto da cidade para a vigília Lula Livre. Eu estava apreensivo com o que iria encontrar por lá. Tudo o que via daquele local era através da internet. Passamos pela frente do prédio da policial federal e naquele instante senti uma tristeza grande em meu coração. Vi pela primeira vez o local onde encarceraram injustamente o maior político mundial na atualidade.
Quando cheguei em uma das esquinas da rua onde fica aquele prédio imponente, encontrei centenas de companheiros. Muitos estão lá desde o primeiro dia. É hoje um terreno alugado para que as pessoas que lá queiram, ir e ficar, possam ter esse direito garantido. Alguns dizem que só vão sair com Lula Livre. É comum ao ouvir pessoas ver lagrimas escorem em seus rostos. Não é de tristeza, podem acreditar, é de uma certeza na inocência do Presidente e da injustiça que está sendo cometida contra ele. Eu também me emocionei várias vezes.
As pessoas que lá estão transpiram solidariedade, rezam seus credos, acolhem todas as religiões e se amam. A presença delas naquele lugar é uma homenagem a Lula. Todos os dias elas se reúnem para gritar, bom dia, boa tarde e boa noite ao Presidente Lula, que é ouvindo por ele dentro da cela onde está. Ele mesmo me disse que em nenhum desses dias teria ficado sem ouvir as pessoas. É vital para a sua autoestima. Falou ainda que para ele é o que lhe dá a certeza de que a luta continua. Não só pela sua liberdade, mas que, é também, nas ruas que vamos conseguir mudar o que estão fazendo hoje com o Brasil.
Uma coisa que não falta lá na vigília é gente para lhe perguntar se já comeu, se quer água. Não há muito no local, mas o pouco que há, é ofertado a todos. Como disse a presidenta do Partido dos Trabalhadores Gleisi Hoffman, “é quase um lugar de romaria”. Para quem quer ter uma lembrança da vigília, há camisetas, bonés e broches a venda nas barracas.
A organização no local chegou a um nível, que montaram uma área exclusiva para a imprensa com acesso direto a internet onde os jornalistas progressistas podem transmitir diariamente as informações. Para manter a turma mobilizada, há sempre atividades culturais todos os dias. É a forma encontrada para sustentar a mobilização de todos.
Na hora da visita, ao chegar aquele prédio imponente que se destaca da vizinhança, percebi o contraste que é ver o povo lutando por liberdade para Lula e policiais armados já na nossa chegada. De um lado a tristeza de uma prisão. Do outro a alegria de um povo que não perde a esperança e continua na luta, militando e esperando que a justiça, enfim seja feita.
A primeira visão que guardo até hoje é a da entrada. Ao olhar para o prédio, tive um medo que não sei explicar. Ele remete a restrição, não da liberdade física, mas também política e de expressão do Lula. Fiquei sabendo lá que o projeto é o mesmo para todos os estados do Brasil. Por ironia da vida, todos foram construídos durante os governos Lula e Dilma. Foi a época em que os presidentes valorizavam a instituição. Lá tem inclusive uma placa alusiva com o nome das autoridades que exerciam cargos no período. E lá está o nome de Lula inscrito.
Foram os metros mais longos da minha vida, percorridos a pé até chegar ao saguão. É a entrada principal onde fica a recepção e todos têm que passar por lá. Registre-se que os funcionários daquela área foram gentis e alguém me disse que sempre o são. Esperei o elevador. Até o barulho da porta dele abrindo me deixou mais emotivo. Subimos. Porta novamente aberta. Subi dois lances de escadas naquele prédio frio. A arquitetura o deixou ainda mais gélido. Meu coração acelerava a cada passo que eu dava e chegava mais perto. Eu sabia que em poucos instantes iria estar com o preso político Luís Inácio Lula da Silva e o que eu mais queria era lhe dar um abraço e o confortar.
A porta se abre e, surpresa, encontro um homem com o sorriso no rosto, os braços abertos e vindo ao meu encontro. Era ele, o homem mais temido pelos poderosos, o homem mais amado pelo povo brasileiro, estava em minha frente e eu paralisado. Recebi um forte abraço, dois tapas nas costas e um, “prazer lhe receber companheiro”.
Vi vários livros em um canto. Outros em uma mesa. Uma cama simples e arrumada. Pensei, como alguém consegue encarcerar a esperança do povo? Durante os minutos que lá fiquei, ouvi histórias, vi sorrisos no rosto de quem achei que encontraria triste e conselhos para que eu nunca desistisse dos meus sonhos. Não encontrei uma pessoa derrotada, encontrei ali, preso injustamente, a esperança de dias melhores para o país. E esperança não se encarcera, sonhos não são presos, ideias nunca serão aprisionadas.
Os métodos e a formas com que colocaram Lula naquele ambiente não conseguiram fazer com que boa parte dos agentes deixasse de ter uma simpatia pessoal por Lula. É visível pelo tratamento que eles dispensam ao presidente. Não é só o respeito, é admiração por quem ele é e representa para o povo brasileiro.
Ao sair, olhei para trás. Não vi mais o rosto dele. Mas sai com a certeza de que a luta pela liberdade de Lula só vai acabar quando ele estiver novamente entre nós e seus algozes todos na cadeia.
Conversando com a presidenta do PT, Gleisi, ela me disse que, “visitar aquele local é sempre um misto de tristeza, de raiva muitas das vezes, pelo que está acontecendo, mas de esperança e de alegria de poder ver que, mesmo na adversidade resistimos solidariamente com muita força”.
PS.: a história é linda, emociona a todos, mas é um conto. Claro que eu, como muitos dos brasileiros, gostaríamos de ter visitado presidente Lula.