O carro-pipa é o carro mais democrático do Brasil. Ele atende a todos os gostos, a todas as necessidades, a todas as situações. Ele é o carro da festa, da lavagem, da irrigação, da construção, da limpeza, da higiene, da saúde, da vida. Ele é o carro que leva a água, o líquido mais precioso do planeta, para as pessoas que mais precisam dele: os moradores do sertão, do semiárido, do agreste, do Nordeste, do Brasil.
O carro-pipa é o carro mais político do Brasil. Ele é o carro que faz parte de um programa emergencial, de uma operação militar, de uma ação humanitária, de uma estratégia eleitoral, de uma barganha partidária, de uma corrupção endêmica. Ele é o carro que depende de recursos, de decretos, de reconhecimentos, de fiscalizações, de denúncias, de protestos. Ele é o carro que gera empregos, rendas, votos, favores, desvios, fraudes.
O carro-pipa é o carro mais paradoxal do Brasil. Ele é o carro que traz a esperança, mas também a dependência. Ele é o carro que alivia a sede, mas também a perpetua. Ele é o carro que distribui a água, mas também a desperdiça. Ele é o carro que salva vidas, mas também as explora. Ele é o carro que é uma solução, mas também um problema.
O carro-pipa é o carro que não sai da moda no Brasil. Enquanto houver seca, enquanto houver sede, enquanto houver pobreza, enquanto houver política, o carro-pipa vai continuar rodando pelas estradas de terra, pelas vilas, pelas fazendas, pelas cidades, pelo país. O carro-pipa vai continuar sendo o carro da moda, o carro da necessidade, o carro da realidade.